Na manhã desta quinta-feira, 31 de outubro, a CONAFER recebeu o povo Bororo em uma reunião, que ocorreu na sede da Confederação, em Brasília. Durante o encontro, houve um debate sobre as dificuldades que os indígenas passam na aldeia do Noroeste, principalmente por não terem o território demarcado. O encontro, organizado pela Secretaria Nacional Indígena, contou com a participação da cacica Cristiany Togojebado Bororo, que compartilhou as demandas da aldeia, além dos anciões Terezinha Togojebado e Jailton de Matos
Os Bororo vivem no Mato Grosso, mas uma parte tem uma vida nômade, mudando de local de acordo com as necessidades. Num primeiro momento, a região do Noroeste, em Brasília, era uma parada de descanso para o povo Bororo, mas com o passar dos anos se tornou uma aldeia fixa. Depois de 10 anos, o Noroeste é o lar de crianças, mulheres e homens indígenas, que são constantemente ameaçados e desrespeitados nos seus direitos.
Durante a reunião, depois de uma apresentação da CONAFER, todos os presentes ouviram as dificuldades enfrentadas pelo povo Bororo. A Secretaria Nacional Indígena convidou para este encontro com os líderes indígenas, a Diretoria de Saúde Básica e Providências, a Secretaria de Agricultura e Empreendedorismo Rural, a Diretoria de Projetos e Ações Integradas para os Povos e a Comissão de Direitos Humanos.
As falas da cacica Cristiany Togojebado Bororo e de sua mãe, a anciã Terezinha Togojebado, evidenciaram a cultura matriarcal dos Bororo, que são liderados por mulheres. Terezinha explicou que quando o povo Bororo chegou no setor Noroeste, em Brasília, não havia prédios. “Quando as pessoas chegaram no local, ficaram incomodadas com os indígenas,” lamenta ao falar sobre a construção de edifícios e da via W9, que modificou a região e prejudicou a aldeia.
Terezinha Togojebado e Jailton de Matos, anciões do povo Bororo do Noroeste, em Brasília
Os anciões, Terezinha Togojebado e Jailton de Matos, falaram que desde a construção da via W9, o povo Bororo foi negligenciado e ficou sem terra própria. Agora, com nenhuma área demarcada, eles lutam pelo direito de ter um lar em um lugar que já habitam há mais de uma década. Este problema prejudica diretamente a aldeia e até mesmo as atividades agrícolas do povo Bororo. Segundo Terezinha, antes das construções haviam muito mais plantações na região, hoje em dia eles só conseguem cultivar milho, feijão e mandioca. Além disso, por não terem terras demarcadas, os Bororo não podem construir casas bem estruturadas, pois convivem com o risco de serem expulsos do Noroeste. A realidade é que crianças e idosos vivem debaixo de madeiras, expostos à chuva e ao vento.
Durante o encontro, a cacica Cristiany Togojebado Bororo compartilhou com a Secretaria Nacional Indígena que deseja independência para o seu povo. “Não queremos viver de cesta básica, queremos nossa terra pros anciões descansarem e para as crianças crescerem. Queremos saneamento básico, queremos dignidade”, reforça.
Cacica Cristiany Togojebado Bororo ao lado do marido, segurando a filha do casal
CONAFER oferece apoio ao povo Bororo
As secretarias e diretorias da entidade que participaram da reunião com o povo Bororo explicaram como os indígenas se beneficiam com a entidade por meio da filiação, que é totalmente gratuita. A diretora do MAIS VIDA BRASIL, Ana Caroline Nunes, se colocou à disposição da aldeia do Noroeste e explicou que todos os filiados da CONAFER têm direito a atendimento básico de saúde, consultas com médico de forma remota, exames, esclarecimento sobre medicações, assistência odontológica com reembolso em caso de urgência e emergência, além de assistência funeral e seguro de vida por mortes acidentais.
Em seguida, Antônio Manoel Silva da Diretoria de Projetos e Ações Integradas para os Povos lamentou a falta de reconhecimento dos direitos dos povos originários no país. Ele compartilhou que reconhece a luta indígena com o marco ancestral na demarcação de terras e prestou apoio ao povo Bororo.
A Secretaria de Agricultura e Empreendedorismo Rural deu continuidade à discussão e citou várias ações da CONAFER que ajudam os povos indígenas, como a distribuição de sementes, o apoio a agricultura familiar com uma assistência técnica, a construção de hortas em escolas e aldeias, cursos de capacitação para áreas produtivas, análise e amostragem do solo e direcionamento para a comercialização.
Também foram apresentadas outras iniciativas da Confederação que podem ajudar os Bororo, como o projeto de arquitetura para a construção de escolas nas aldeias, que preserva a cultura indígena usando materiais naturais, como palha e madeira, combinados com tecnologias sustentáveis. Esses espaços escolares visam não apenas proporcionar um lugar de aprendizado, mas também valorizar a identidade cultural na construção da obra.
Por fim, a Comissão de Direitos Humanos da CONAFER destacou a importância dos indígenas saberem sobre seus direitos. A Comissão ressaltou que os diferentes povos formam uma nação indígena e que, muitas vezes, há uma perda irreparável nas aldeias porque os próprios indígenas não lutam por falta de conhecimento. Também foi lembrado que a Confederação oferece um curso gratuito sobre direitos e deveres indígenas para todos os filiados.
Entrega de folhetos informativos sobre os serviços da CONAFER para o povo Bororo
Esse debate, proporcionado pela Secretaria Nacional Indígena, mostra o compromisso da CONAFER em levar dignidade e autonomia para os povos originários e o apoio à luta pelo marco ancestral. Ao ouvir as dificuldades que as aldeias enfrentam, assim como foi feito durante a reunião com o povo Bororo do Noroeste, a entidade fortalece a luta indígena, que busca direitos básicos do ser humano, como acesso à água, comida, condições dignas de vida e a sua própria terra. A Confederação propõe a reflexão sobre o fato de que os povos indígenas habitam as terras brasileiras muito antes da existência da Constituição Federal de 1988, e muito antes da chegada dos europeus. O direito dos indígenas de habitar terras que seus ancestrais ocuparam é inquestionável e está bem definido na Constituição.