Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Nesta segunda-feira, dia 7 de abril, cerca de 8 mil indígenas da Amazônia e da Oceania, junto a delegações da Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela, além de representantes da Austrália, Fiji e outras nações do Pacífico se reuniram no Acampamento Terra Livre, ATL, em Brasília, Distrito Federal. No encontro anual dos povos originários brasileiros, eles reivindicam que os líderes indígenas tenham “voz e poder iguais” aos chefes de Estado na COP 30, a Conferência sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas, ONU, que acontecerá em novembro deste ano, em Belém do Pará. Dentre os principais motivos para a exigência do protagonismo indígena nas decisões sobre o clima e o meio ambiente estão a exploração dos combustíveis fósseis, incêndios florestais, seca, aumento do nível do mar e desmatamento, fatores que afetam diretamente as comunidades indígenas de todo o planeta
Além de se manifestarem contra o marco temporal, os indígenas que participam da 21ª edição do Acampamento Terra Livre também buscam articular ideias para convencer os países que vem ao Brasil em novembro deste ano para a COP 30, em Belém, Pará, de que a demarcação dos territórios indígenas é parte da luta contra o aquecimento global. Representantes indígenas de diferentes países marcam presença no ATL com um objetivo em comum: lutar por espaço de protagonismo nas decisões sobre o clima na COP 30 do Brasil. Eles querem ter a mesma relevância que os chefes de Estado na discussão.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Em uma declaração conjunta dos povos originários participantes do Acampamento Terra Livre, os indígenas exigiram que “as lideranças indígenas e das comunidades locais tenham voz e poder iguais aos Chefes de Estado na COP 30, com a mesma legitimidade, poder de decisão e respeito que as representações dos países.” A ideia é que a força do movimento indígena brasileiro seja usada estrategicamente na COP 30. Este protagonismo dos povos originários em eventos globais, incluindo a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, é fundamental para avançar em pautas inegociáveis para os povos indígenas, como a demarcação de terras.
O conhecimento ancestral sobre plantas, animais e ciclos naturais é transmitido de geração em geração nas aldeias indígenas. Esse saber é muito importante para a sobrevivência e adaptação às mudanças do ambiente. Apesar das pressões externas, como a exploração econômica e a destruição ambiental, muitos povos indígenas mantêm sua ligação com a natureza, resistindo para preservar suas culturas e o meio ambiente. Todos esses motivos fazem jus ao tema do Acampamento Terra Livre deste ano: “A resposta somos nós: Em defesa da Constituição e da vida”, mostrando que os povos originários são a melhor aposta para a recuperação e conservação da natureza.

Acampamento Terra Livre (ATL) de 2025, em Brasília – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O Acampamento, que deve durar até esta sexta-feira, 11 de abril, vai ter várias passeatas pela Esplanada dos Ministérios, rodas de conversa e atividades culturais. Nesta terça-feira, 8 de abril, os indígenas vão participar de uma sessão solene no Congresso Nacional. Muitos povos originários viajaram por vários dias para chegar até Brasília, vindo de ilhas distantes do Pacífico de avião, ou da Amazônia em barcos e ônibus para participar deste evento, que representa a resistência indígena.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
A exigência do protagonismo indígena nas decisões sobre o clima e o meio ambiente tem motivos claros. Representantes de ilhas do Pacífico, por exemplo, enfrentam desafios únicos devido às mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar, que ameaça a existência de seus territórios. Em locais como Fiji, a água salgada já invade as terras onde são cultivados alimentos, prejudicando a agricultura e a sobrevivência das comunidades.
Na América do Sul, os efeitos da crise climática também são evidentes. Uma seca histórica no ano passado causou incêndios florestais de grandes proporções, que destruíram quase 18 milhões de hectares da floresta amazônica apenas no Brasil, segundo dados do MapBiomas.

Incêndio ilegal na Amazônia – Foto: Douglas Magno/AFP
No debate sobre a participação indígena na COP 30, há uma reivindicação para que os caciques espirituais das aldeias, e não apenas os líderes que vivem em centros urbanos, sejam convidados. A presença desses representantes é muito importante, já que eles vivenciam diretamente os impactos da crise climática em seus territórios.
Além disso, os povos originários têm se posicionado contra a exploração de combustíveis fósseis, apontando sua queima como principal causa do aquecimento global. Embora a COP 28 tenha aprovado um princípio de transição para o abandono desses combustíveis, a presidência brasileira ainda não definiu uma posição clara sobre o tema. O país, maior produtor de petróleo da América Latina, tem planos para perfurar novas áreas marítimas próximas à foz do rio Amazonas, proposta criticada por líderes indígenas e ambientalistas.

Foto: Pixabay
A CONAFER por meio da Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social, a SEPOCS, apoia de forma permanente o marco ancestral contra a inconstitucionalidade do marco temporal. Além disso, a SEPOCS segue promovendo ações educativas e cursos sobre direitos indígenas nas aldeias. A Confederação também promove a agricultura familiar e outras formas de produção sustentável nas aldeias, ajuda os indígenas na proteção das florestas com o aplicativo Hãmugãy, que monitora focos de incêndio e desmatamento nas florestas. A entidade também participa de debates, como as COPs, a favor do meio ambiente.