Por Wilson Ribeiro
Agricultor, líder sindical, especialista em regularização fundiária, pai exemplar, marido amado, amigo fiel e profissional íntegro, o coordenador de Crédito Fundiário e um dos diretores da CONAFER, Pedro Firmino, construiu uma trajetória de lutas e conquistas que faz da sua história uma rica e bem-sucedida biografia, sustentada pelo trabalho na terra e o pensamento voltado à coletividade, às comunidades agrícolas. A notícia do fim de sua luta contra o vírus da Covid-19 causou uma imensa tristeza, com mensagens e pêsames de todas as regiões do Brasil, de todos os rincões percorridos por Pedro Firmino, por onde trilhou milhares e milhares de quilômetros, fundando sindicatos, fortalecendo os agricultores, regularizando suas terras, estruturando assentamentos, levando apoio aos acampamentos, como o grande embaixador da Confederação
Conheci o Pedro Firmino da melhor maneira que se começa uma grande amizade: dois largos e grandes sorrisos escondidos por duas máscaras, marcas registradas desta pandemia que ceifou sua vida. O que me chamou mais atenção em meu primeiro encontro com o Pedro, não foi apenas o seu grande conhecimento sobre a agricultura familiar e as leis fundiárias, que externava de um jeito muito profundo e sincero, mas o seu estilo bem humorado, característica das pessoas inteligentes. Uma sumidade, pensei comigo. Na segunda conversa eu já o adotara como mestre, e fazia questão de espalhar para todos minha admiração por sua postura exemplar nas questões do dia a dia, e a responsabilidade nas questões da vida, uma inspiração para toda a Confederação, dos antigos aos mais novos.
Falar e ouvir o Pedro era um ritual diário na CONAFER, do presidente Carlos Lopes e do vice-presidente, Tiago Lopes, dos secretários e lideranças sindicais, seja pessoalmente, ou por videoconferências nestes últimos tempos, das quais sempre participava para encantar pelo conhecimento e seu jeito simples e direto de se colocar. Era sempre procurado por whatsapp, pelos corredores ou por telefone para responder sobre leis, estatutos, regras de acesso ao crédito, como obter um Pronaf, como criar ovelhas, sobre os documentos do benefício da aposentadoria, se o pasto está bom para o gado, ou qual a solução para irrigar uma lavoura, ou simplesmente para saber como andava o Flamengo, o seu time de coração.
Não seria exagero dizer que o Pedro Firmino era uma espécie de oráculo, sempre consultado porque todos queriam ouvir sua opinião, de certa forma foi sua postura sempre uma baliza moral, uma referência de caráter. Se o Pedro falou que está certo, então está certo!
Pedro Firmino levou as ações e programas da CONAFER passando por milhares de municípios de todas as regiões do país, dirigindo por todos os tipos de estradas, sempre com extrema habilidade, mais um de seus inúmeros talentos. Ele também dizia que foi um jogador de futebol habilidoso e rápido, adorava as músicas de raiz e a cultura popular. Este seu humanismo e sensibilidade pelas pessoas o levou às bases sociais, e aí enriqueceu ainda mais a mistura do homem do campo com o homem da cidade, e principalmente, do cidadão consciente da luta de classes, e de sua participação política na transformação da sociedade.
Foi assim que Pedro Firmino atingiu uma posição de liderança em sua luta pela reforma agrária, ganhando admiração por onde passou, sempre à frente na defesa dos agricultores, como fez em todos os momentos na CONAFER, na cabeça de ponte, ao lado do comando, nas ações de quem é incansável, com uma elevada estatura moral e uma disposição típica de quem lavra a terra de verdade, de quem agriculta com fé e trabalho duro de sol a sol. E temos, então, mais um talento do Pedro: ele foi um agricultor dos bons.
E como foi produtor rural por 30 anos, adquiriu aprendizado na criação de animais, no clima perfeito para a semeadura, no manejo do solo, na capacitação das técnicas agroecológicas, na comercialização dos produtos, no acesso ao financiamento, no empreendedorismo rural, e mais que do que isso, desenvolveu uma forte relação com a vida em máxima intensidade.
Neste dia 30 de junho, o paraibano Pedro Firmino completaria 50 anos. Vivia com a sua mulher e liderança sindical, Simone Alves Pinheiro, e os seus filhos em 15 hectares no Paranoá, cidade satélite de Brasília, onde deixou uma marca de amor ao trabalho na terra como produtor rural. Mais um talento que o nosso Pedro multiplicou.
Em Flores de Goiás, o tratamento de liderança a quem é de verdade
No dia 6 de outubro de 2020, 6h30 da manhã, encontrei-me com o Pedro no posto Itiquira, em Formosa. Foi minha única viagem com ele, e tive o privilégio de acompanhá-lo até Flores de Goiás, a 230 km de Brasília, 3 horas cortando as terras goianas em meio ao Cerrado e a Caatinga. A missão era representar a CONAFER na solenidade de inauguração da implantação da rede elétrica nos assentamentos de Castanheira, Cavalcanti, Macambira, Egídio Brunet, Itiara I e II, um marco na história destes agricultores familiares, uma luta de muitos anos que o Pedro e a CONAFER ajudaram a vencer. Os assentamentos da região produzem arroz, feijão, milho, mandioca, gergelim, mel e melancia. Agora com a rede elétrica seria possível irrigar as culturas, aumentar a produção e dar conforto às famílias, como a internet nesta nova fase de conexão com o mundo da agricultura.
Portanto, foi um dia de festa para os assentados do município de Flores de Goiás, 437 km da capital goiana. Depois de 13 anos de luta, 800 famílias dos assentamentos Castanheira, finalmente receberam sob uma temperatura de 40 graus e um sol causticante, a tão sonhada energia elétrica, lideradas pelo presidente do sindicato SAFER, Josias Ribeiro dos Santos, amigo pessoal do Pedro e companheiro de batalhas no campo. E eu estava ali testemunhando tudo, vendo o quanto as pessoas saudavam o Pedro, sua popularidade na base, terreno onde ele aprendeu a semear a união de todos os matizes de agricultores.
A nossa volta para o DF foi de dever cumprido, recheado por sua emoção ao mostrar com dedo indicador os assentamentos e unidades agrícolas que ele ajudou a formar ao longo da sua vida. Sim, milhares de famílias hoje tem uma terra para plantar e um sonho para realizar pelas ações de coragem e amor ao próximo do Pedro Firmino.
Certa vez, em uma entrevista à Secretaria de Comunicação da CONAFER, Pedro disse: “agradeço por esta oportunidade de contar sobre meu trabalho nesta organização, tão crucial para o desenvolvimento da agricultura familiar brasileira. Sou nascido em 71, e desde muito moço, eu vivo a realidade do campo e sei como ela funciona, por isso tenho orgulho em falar que eu sei que meu trabalho na CONAFER tem rendido muitos frutos.”
De fato, Pedro, são sementes selecionadas que você plantou por onde passou e na CONAFER, obra de uma personalidade insubstituível, porque você é único, e estará em nossa memória sempre que nos perguntarmos em qual direção seguir ou qual a decisão mais indicada, pois para obter a resposta, bastará pensar no que o Pedro Firmino nos aconselharia com aquele seu jeito franco, vibrante e gentil de ser.