da Redação
88% dos produtores nordestinos são agricultores familiares, mais da metade dos pequenos produtores de todo o país. Gente que produz toda a diversidade de culturas, das mais diferentes expressões artísticas à rica produção de alimentos: o artesanato e o maracatu das comunidades tradicionais, as danças dos povos originários, o amplo cardápio que compõe a saborosa culinária, o baião de dois, o acarajé, o sarapatel, a canjica, o feijão de corda, o arroz de coco; uma deliciosa fruticultura reconhecida no mundo todo, com o cajá, o buriti, a cajarana, o umbu, a carnaúba, a juçara, o bacuri, o cupuaçu, o buriti, a pitomba; das culturas agrofamiliares, a agropecuária se destaca na produção de carne e leite, ocupando metade das famílias de produtores; as culturas do feijão, da mandioca, do milho e do arroz fortalecem ainda mais a expansão da cultura agrofamiliar por todo o Nordeste
Na Semana da Cultura Nordestina, lembramos que mais de 50% dos agricultores familiares brasileiros tiram das terras nordestinas o seu sustento, resultando em uma grande produção dos alimentos que fortalecem a segurança alimentar dos brasileiros.
O que é a Semana da Cultura Nordestina?
A cultura nordestina recebeu sua maior influência dos indígenas, africanos e europeus. Suas características são muito peculiares, com costumes e tradições diferentes de todo Brasil, sendo que cada estado tem suas próprias culturas. Esta data foi criada para lembrar a contribuição social e econômica desta exuberante diversidade cultural do Nordeste na sociedade brasileira. Portanto, 2 de agosto, é o início de uma semana inteira dedicada à força e à influência da Cultura Nordestina. A data foi escolhida em homenagem ao músico brasileiro Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que faleceu neste mesmo dia, em 1989.
As dimensões da agricultura familiar no Nordeste
A região Nordeste do Brasil ocupa uma área de 1,56 milhão de km² (pouco mais de 18% do território nacional) e abriga cerca de 57 milhões de habitantes (IBGE, 2018). Do ponto de vista político-administrativo, é composta por nove estados: Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Paraíba (PB), Piauí (PI), Pernambuco (PE), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE), sendo que a maior parcela do espaço regional (64,8%) se encontra no semiárido brasileiro, conforme a delimitação adotada desde 2017.
No território nordestino, apesar dos efeitos de uma das maiores secas registradas em sua história recente, a agricultura familiar continua sendo a principal forma de produção e trabalho no campo no final da segunda década do século XXI, abrangendo 47,2% do total nacional. Em 2017, existiam 2.322.719 estabelecimentos rurais no Nordeste. Desse universo, 1.838.846 (79,2%) eram agricultores familiares. Em outras palavras, de cada 100 estabelecimentos recenseados no meio rural da região, ao menos 79 eram pequenos e tocados predominantemente pela família. A mesma relevância é observada em termos de pessoal ocupado, tendo em vista que as unidades familiares absorvem a mão de obra de mais de 4,7 milhões de pessoas (73,8% do total regional).
Já em relação à participação dos produtores na área ocupada pelos estabelecimentos, os dados apontam uma inversão da representatividade. Isso porque o numeroso contingente de agricultores familiares nordestinos detém tão somente 36,6% da área de mais de 70 milhões de hectares ocupada pelos estabelecimentos agropecuários. Enquanto isso, o setor patronal, representado por apenas 20,8% dos produtores recenseados, ocupa 63,4% da área total, indicando a persistência de uma acentuada desigualdade na distribuição dos recursos naturais associados à posse da terra.
A participação da categoria familiar no total de estabelecimentos rurais supera a média regional no Maranhão (85,1%), em Alagoas (83,6%), em Pernambuco (82,6%), no Piauí (80,3%) e no Rio Grande do Norte (79,9%). Já nas demais unidades federativas, os percentuais são menores em relação à média. Mesmo assim, as explorações familiares são maioria absoluta dos estabelecimentos na Bahia (77,8%), em Sergipe (77,3%), na Paraíba (76,9%) e no Ceará (75,5%).
O perfil social e características tecnológicas dos agricultores familiares
Os dados do Censo Agropecuário 2017 mostram que os homens são predominantes na direção dos estabelecimentos familiares nordestinos, comandando 75,7% deles. Em relação à faixa etária dos dirigentes, percebe-se que o percentual de jovens com idade inferior a 25 anos e de 25 a 35 anos é muito baixo, alcançando apenas 2,1% e 9,4% do total, respectivamente. Já os idosos (com 65 anos de idade ou mais) – aqueles aptos a receberem aposentadoria – representam 26,6%, percentual muito acima do verificado entre jovens. O maior número de dirigentes se localiza mesmo na faixa etária média, visto que 61,8% deles têm idade de 35 a menos de 65 anos (IBGE 2019).
Em termos de escolaridade, as estatísticas analisadas denunciam um quadro preocupante, na medida em que 42,2% dos dirigentes familiares não sabem ler e escrever. O alto índice de analfabetismo é um grave problema social que tem várias implicações negativas. Em muitos casos, a falta de instrução dos produtores compromete a produtividade agrícola, ao limitar a absorção de novas técnicas. Além disso, reduz as chances de obtenção de rendas complementares provenientes do trabalho não agrícola, contribuindo para manter a dependência da ajuda governamental via políticas sociais e de inclusão produtiva.
Produção, fontes de renda e importância socioeconômica da agricultura familiar
Mesmo diante das dificuldades enfrentadas durante a Grande Seca da última década, os recenseadores encontraram algum tipo de produção em 95,5% (1.755.995/1.838.846) das pequenas propriedades familiares visitadas em 2017. Juntas, essas propriedades responderam por uma fatia expressiva da produção de alimentos básicos na região. Desse modo, a agricultura familiar do Nordeste é importante porque gera ocupação e mantém as pessoas no campo. Ela também garante alimentos para as famílias e produz boa parte dos produtos comercializados nas feiras livres semanais por todo o país.
Os estabelecimentos da agricultura familiar no Nordeste, como ocorre nas demais regiões do Brasil, também funcionam como locais de moradia para expressiva parcela do segmento. Mas eles são, além de espaços onde se desenvolve uma ampla gama de atividades agrícolas e pecuárias, ambientes de uma bela e vasta riqueza cultural.
Com informações do Ipea.