da Redação

Se fizermos uma análise da produção de gado de corte e leite em todas as regiões do Brasil, veremos que a pecuária agrofamiliar domina o segmento leiteiro. Não são poucos os exemplos de pequenos criadores que seguiram o caminho do sucesso quando definiram normas sanitárias mais rígidas, nutrição de alta qualidade, melhoramento genético e protocolos de sustentabilidade nos processos produtivos e de manejo do plantel. É desta forma que as propriedades modernas avançam na qualificação do produto e no retorno financeiro que o mercado de laticínios oferece. A cadeia do leite tem em sua estrutura: insumos, produtor, indústria, logística, distribuição, mercado e consumidor final. Como um empreendedor, o pequeno pecuarista precisa estar integrado na cadeia leiteira, melhorando o produto e observando as oportunidades que se apresentam para desenvolver o seu negócio. Um grande rebanho não significa lucro certo, pois um rebanho menor mais qualificado pode ser mais vantajoso ao pecuarista agrofamiliar. Em qualquer situação, porém, hoje o melhoramento genético é decisivo na evolução dos rebanhos, comprovando a importância do programa +Pecuária Brasil para a produção leiteira

A criação de gado de leite faz parte de uma cadeia de produção extensa e complexa. Dentro deste mercado, sabemos que o leite sofre influência de diversos fatores como as políticas econômicas, sazonalidade da produção, quantidade demandada pelo mercado, dentre outros. Entre os diversos fatores que influenciam no preço pago ao produtor, podemos destacar:

  • Épocas do ano de aumento do consumo;
  • Investimentos de curto e longo prazo;
  • O custo operacional da produção;
  • O comportamento do consumidor;
  • Política econômica em vigor.

Esses fatores não podem ser controlados, ou seja, o produtor deve focar naquilo que ele pode interferir, como calcular muito bem os custos de produção e identificar os possíveis pontos de desperdício.

Acertar na escolha dos animais é fundamental
Antes de escolher as vacas para a produção de leite é preciso conhecer bem as suas características e entender qual é a mais adequada em sua propriedade. Na pecuária leiteira, o patrimônio genético do rebanho influencia fortemente os rumos do negócio. Assim, para garantir a eficiência produtiva e a qualidade do leite, o produtor precisa conhecer as raças de bovinos de leite antes de fazer a sua escolha. Entretanto, essa decisão também passa por outros fatores que não podem ser ignorados.

Por exemplo, um dos pontos que mais deve pesar nessa balança é o tipo de sistema de produção que será adotado na fazenda — se intensivo, extensivo ou outros. Isso porque, dependendo do que você espera para o seu negócio e das condições da sua região, uma raça rústica é mais indicada, em vez de uma que produza um grande volume de leite. Conheça as raças de bovinos de leite mais utilizadas no país.

Raça Holandesa

A raça Holandesa é, de longe, a mais difundida no setor leiteiro, dada sua notória capacidade de produzir leite: 6 a 10 mil kg em média, em 305 dias de lactação. Tem origem nos Países Baixos e é resultado da cruza de várias raças europeias, selecionadas com o objetivo de desenvolver uma linhagem que obtivesse a melhor conversão alimentar sob o regime de pastejo.
O Holandês tem úbere de boa conformação e grande capacidade, e o leite tem boa concentração de sólidos. As novilhas conseguem ter sua primeira cria em torno dos 2 anos de idade, e seus bezerros nascem pesando, em média, 38 kg. Como a raça é originária de países de clima mais frio, os animais são exigentes quanto ao clima, não se adaptando muito bem às regiões quentes do Brasil ou com pastagens de produtividade sazonal. Contudo, é amplamente utilizada como matriz em cruzamentos, podendo transmitir excelentes atributos às novas linhagens. Também é preciso atentar para conforto e o manejo. São animais recomendados para sistemas de média e alta produção, e a pelagem típica é branca e preta ou branca e vermelha.

Raça Girolando

Resultado da iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no início da década de 1980, a Girolando é uma raça genuinamente brasileira, fruto do cruzamento da Gir com a Holandesa. Esse trabalho gerou animais rústicos como o Gir e altamente produtivos como o Holandês.

Dessa última linhagem, ainda herdou a fertilidade, a longevidade e a precocidade sexual. A Girolando é extremamente bem-adaptada aos trópicos, além de ser flexível para diferentes tipos de clima e manejo. Tem boa eficiência reprodutiva e conversão alimentar, o que confere um desempenho econômico muito satisfatório.
Como é uma raça mestiça, seu preço é menor, quando comparado ao das raças puras, traduzindo mais uma vantagem para o produtor. A produção de leite é excelente: média de 5.061 kg em 283 dias. Aos 36 meses de idade, tem a primeira cria e é dócil com seus bezerros, que nascem com 35 kg, aproximadamente. Todas essas qualidades fazem da raça Girolando a responsável por 80% do leite produzido em território nacional. Por sua capacidade adaptativa, também é recomendada para iniciantes.

Raça Jersey

A Jersey é outra raça europeia, porém, mais rústica que a Holandesa. Considerada por especialistas a segunda melhor raça leiteira, adapta-se mais facilmente a adversidades e demonstra elevada tolerância ao calor, mantendo uma alta produção de leite: 3.500 a 5.500 mil kg em 305 dias de lactação.
Seu úbere tem tetos pequenos e espaçados, é quadrado, volumoso e bem irrigado. O leite tem altos teores de proteína e gordura (5,0%) e, por isso, é muito utilizado para a produção de manteiga. As vacas são de pequeno porte, e sua pelagem varia do amarelo-claro ao pardo escuro.

O tamanho menor possibilita que o produtor tenha mais animais por hectare e que os animais precisem de menos energia para o seu sustento, o que confere menor custo na alimentação. Ademais, são menos vulneráveis a desgastes nos membros e bastante dóceis. É a raça mais precoce entre as leiteiras, podendo ter a primeira cria entre os 15 e os 18 meses de idade. Além disso, são muito férteis e longevas.

Raça Pardo Suíço

Uma das raças mais antigas de bovinos de leite, originária do Sudeste da Suíça. Apesar da origem nórdica, é rústica e apresenta boa tolerância ao calor. Além da boa produção de leite — mais de 2.500 kg em 200 dias de lactação — pode ser usada para a produção de carne.

O úbere é bem desenvolvido, com tetos de tamanho médio e boa inserção. A pelagem varia de pardo claro a cinza escuro, e as novilhas têm a primeira cria perto dos 30 meses de idade. Também contam com altas taxas de longevidade e fertilidade, além de transmitirem facilmente suas características nos cruzamentos entre linhagens.

Raça Gir

Por serem originárias da Índia, são bastante rústicas, adaptando-se bem a altas temperaturas e umidade do ar e usufruindo as pastagens de baixo valor nutricional com eficiência. A raça Gir é tida como mista, pois tem boa produção de leite e de carne.

Produz, em média, 777 kg de leite em 286 dias, e seus criadores tentam desenvolver uma variedade leiteira. O úbere e os tetos são pendulosos, o porte dos animais é médio a grande, e a pelagem é variada. As novilhas têm seu primeiro parto aos 43 meses; seus bezerros são pequenos, porém, fortes.

A raça tem longevidade reprodutiva e produtiva, além de ser a linhagem indiana mais utilizada nos cruzamentos. Ótimos resultados são obtidos na cruza de Gir com Holandês ou outra raça tão especializada quanto.

Raça Guzerá

Há registros de que a Guzerá foi a primeira raça zebuína a ser domesticada pelo ser humano. Como as demais linhagens indianas, é altamente adaptável e tem dupla aptidão, isto é, pode ser utilizada tanto na produção leiteira como na de corte.

Produz a média de 2.071 kg de leite em 270 dias, e seu leite tem alta porcentagem de gordura e baixa Contagem de Células Somáticas (CCS), além de não causar alergia às pessoas. É uma raça bastante fértil e, quando bem manejada, pode ter um bezerro a cada 13 meses. Exibe belos e bem desenvolvidos chifres.

Sua rusticidade confere menor custo de produção, já que as despesas com veterinário são menores. Além disso, os animais apresentam grande facilidade para ganhar peso com menor investimento. Como aceitam erros de manejo, é bastante indicada para iniciantes na atividade.

Como é possível ver, há raças de bovinos de leite com inúmeras qualidades e diferentes características para que você escolha a que melhor satisfará os seus planos de negócio. O mais sensato é criar raças mestiças, caso você seja um iniciante e, à medida que se aperfeiçoa na atividade, pode apurar seu rebanho para uma criação mais pura e especializada na produção de leite.

Faça o manejo nutricional adequado

A criação de gado de leite deve, necessariamente, passar pela necessidade nutricional do animal. Isso representa um dos principais fatores ligados à produtividade do animal. A partir da nutrição é possível alterar a composição do leite, além de otimizar a produção e aumentar a eficiência reprodutiva. No entanto, manejar vacas leiteiras não é uma tarefa fácil. Sendo assim, o caminho mais eficiente é entender as particularidades de cada fase do ciclo lactacional e superar os desafios de cada um. Em geral, o manejo nutricional do gado leiteiro é dividido nas seguintes fases: início de lactação; pico de consumo de alimento; metade e final da lactação; período seco;
transição e período pré-parto.

Outros fatores são essenciais para o sucesso de um programa nutricional de gado de leite. A seguir, veja mais detalhes sobre cada um deles.

Priorize a produção de forragem

As forragens representam uma das principais fontes da alimentação volumosa do gado de leite, pois garantem a ingestão de fibras para os animais. É por isso que é preciso cuidar para que o rebanho tenha acesso à forragem de qualidade o ano todo. Uma forma de melhorar a oferta de forragem é investir na produção para aumentar o retorno por hectare das culturas forrageiras e de grãos em sua fazenda, a fim de maximizar tanto a qualidade quanto a quantidade de alimentos cultivados.

Reduza a perda de alimentos

A perda de alimentos pode gerar sérios prejuízos para a criação de gado de leite, por isso, é importante desenvolver estratégias para minimizar o desperdício. Os principais pontos que podem ser controlados são: manejo e armazenamento de ingredientes de alimentação; processo de mistura e fornecimento; gestão do cocho de alimentação; controle dos distúrbios relacionados ao clima.

Além disso, algumas formas de armazenamento dos alimentos permitem menores perdas e essas devem ser priorizadas. Deve-se dar atenção à limpeza e organização da área de alimentação.

Melhore o manejo dos cochos de alimentação
Um bom programa nutricional pode alinhar o manejo dos cochos de alimentação com a programação da ordenha. O ideal é fornecer alimentos frescos quando as vacas forem à sala de ordenha, e organizar um preenchimento dos cochos durante 90 minutos após o retorno das vacas.

Outra dica importante é programar fornecimentos adicionais ao longo do dia para garantir que as vacas tenham acesso a alimentos sempre que quiserem. Afinal, cada quilo adicional de consumo de matéria seca é igual a dois quilos extras de leite.

Cuidado com o período de transição

O período de transição é aquele que antecede o parto e demanda uma série de cuidados especiais com alimentação e conforto. Nessa etapa você deve formular rações específicas para o período, assim como maximizar conforto das vacas fornecendo espaço adequado para deitar e comer enquanto minimiza os movimentos no curral.

É importante manejar o cocho de alimentação focando apenas em forragens de boa qualidade na quantidade certa.

As vacas que estão no período que antecede ao parto devem ter mais de 0,76 metros de espaço no cocho e um mínimo de duas fontes de água limpa e fresca disponível em cada curral.

Implementar monitoramento diário da vaca, que deve incluir um exame da temperatura corporal, mudanças na atividade e mudanças no comportamento alimentar.

Manejo sanitário

O manejo sanitário do gado de leite é composto por um conjunto de práticas que merecem atenção especial dos produtores. Neste sentido, entre as medidas podemos destacar as ações preventivas em relação a doenças (muitas delas transmissíveis aos homens) como vacinação e monitoramento, limpeza e desinfecção das instalações dos animais.

São pontos cruciais para a sanidade do rebanho: cuidados especiais com recém nascidos e bezerros;
manejo das vacas prenhe; controle eficaz dos carrapatos; vacinação em dia.

Em propriedades de produção de leite ocorrem grandes perdas por erros ou negligências com esses manejos. Dentre as diversas ocorrências em vacas leiteiras, as mais citadas, geralmente são problemas reprodutivos, casco e mastite. Estes são citadas como principais causas de descarte involuntário dentro do sistema de produção e pode gerar grandes prejuízos ao produtor.
Manejo reprodutivo e melhoramento genético
Não há dúvidas de que o manejo reprodutivo de vacas é um aspecto essencial para ter sucesso na produção de gado de leite. É importante implementar programas de melhoramento sistemático para melhorar a eficiência da detecção do cio, melhorar a taxa de gestação aos 21 dias, minimizar a demanda de trabalho e, finalmente, melhorar o desempenho reprodutivo geral do rebanho.
Do mesmo modo, deve-se investir em melhoramento genético, já que a baixa produtividade do animal pode estar ligada às suas linhagens.

Portanto, é preciso investir em biotécnicas reprodutivas com o intuito de acelerar a transmissão de características desejáveis aos descendentes. Em vacas leiteiras dois critérios podem ser empregados:

  • capacidade provável de produção: ela permite que o produtor rural tenha uma previsão da produção do animal com base em lactações passadas.
  • E o valor genético de produção: neste caso, o valor é estimado usando o registro do próprio animal e de parentes.

Há duas formas de fazer o melhoramento genético, por meio das biotecnologias ou da monta natural. Sem dúvidas, para o produtor que almeja aumentar a sua produção de leite, o uso das biotecnologias é a melhor opção. Já que, nesse caso o animal é previamente selecionado e comprovadamente superior tornando os resultados mais rápidos.

As técnicas usadas para o melhoramento genético são: Inseminação Artificial; Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF); Transferência de Embrião; Fecundação In Vitro (FIV).

Assim, a excelência na produção depende de conhecimento técnico e prático nas melhores estratégias de manejo. O responsável pelo rebanho, assim como a sua equipe, precisa entender todas as etapas da produção, assim como ter uma visão gerencial da fazenda e do seu negócio.

O programa +Pecuária Brasil

A CONAFER, em parceria com empresa líder mundial na tecnologia de inseminação artificial, a ALTA GENETICS, desenvolveu o programa + Pecuária Brasil para o desenvolvimento dos rebanhos bovinos de corte e leite dos agropecuaristas familiares brasileiros.

O +Pecuária Brasil é um divisor de águas no campo, e vai contribuir para o crescimento socioeconômico dos pecuaristas do segmento da agricultura familiar. Em parceria com as Secretarias de Agricultura e Agropecuária dos estados, a CONAFER fará a doação de centenas de milhares de doses de sêmens durante os próximos 4 anos em pequenas propriedades em todas as regiões do território nacional.

Com transcrições e informações da Coimma (coimma@coimma.com.br) e do blog Nutrição&Saúde Animal (nutricaoesaudeanimal.com.br), e pesquisa de Marcio Taniguti.

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