O Vale do Jequitinhonha é uma região exuberante e de muita riqueza cultural, principalmente da tradição indígena. A grande ligação entre os povos indígenas ribeirinhos desta bela região é o rio Jequitinhonha, com sua nascente no município de Serro, em Minas Gerais, e a foz no município de Belmonte, litoral Sul da Bahia. Neste longo caminho, uma aldeia tupinambá mantém viva a produção das sementes crioulas. É a Aldeia Encanto da Patioba, no município baiano de Itapebi. A história dessa comunidade traz em seu berço a luta permanente dos povos originários brasileiros. Mas o povo tupinambá do Encanto da Patioba é muito resiliente, sobretudo na agricultura, com uma tradição criativa nos cultivos, especialmente do milho. As famílias há muito tempo preservam as sementes crioulas guardadas e selecionadas por décadas pela matriarca anciã. Hoje os herdeiros dessa cultura se destacam como guardiões das sementes crioulas, em especial para a espécie de milho (Zea Mays L), que já possui 25 espécies implantadas em variedades espalhadas pelo país
A pequena aldeia Encanto da Patioba tem uma área de 24 hectares de terra para 20 famílias indígenas que vivem à margem esquerda do rio Jequitinhonha, onde severas inundações já destruíram inúmeras vezes suas plantações, colocando em risco suas lavouras e o banco de sementes crioula. O transporte e a logística são por meio de canoas. A busca de melhoria de vida para as famílias dos guardiões das sementes é permanente, que além do milho, produzem sementes de diversas espécies como: feijão, guandu, fava, sementes de plantas nativa, mandioca, batata doce, inhame, cana-de-açúcar, verduras, legumes e frutas.
O milho (Zea mays L.) é uma das principais espécies cultivadas no mundo. Possui diversos usos e tem grande importância na alimentação humana e animal
Com menor espaço produtivo pelas terras para exploração rural, a tecnologia da genética produtora de mudas, os tupinambá agregam valor aos seus produtos agrícolas, pois mesmo com pequenos projetos conseguem uma renda maior para as famílias. Hoje, os guardiões de forma artesanal armazenam as sementes para comercializar e participam de eventos, fazendo a troca de sementes crioulas, algo de suma importância para conservação e resgate da cultura milenar dos tupinambá.
O que são sementes crioulas?
Também chamadas de sementes tradicionais (sementes da paixão ou sementes da solidariedade), as sementes crioulas são, por definição, variedades desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares ou camponeses, assentados da reforma agrária, quilombolas ou indígenas, com características bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas comunidades.
Qual a importância das sementes crioulas para a humanidade?
De maneira geral, a semente é a primeira etapa da cadeia alimentar. Por meio de sementes é que se tem origem de, praticamente, de todos os alimentos (arroz, feijão, milho, hortaliças etc.). As sementes crioulas, em especial, foram selecionadas por décadas, passadas de geração em geração e seguem até hoje preservadas por famílias de agricultores, guardiões ou bancos de sementes. Diferente de muitas sementes utilizadas na agricultura moderna, a semente crioula não passou por nenhuma técnica de edição genética e também não é adaptada ao uso excessivo de fertilizantes, e isso garante, naturalmente, uma vasta gama de diversidade genética, robustez e adaptabilidade, além da identidade da cultura de um povo.
Qual a ligação entre sementes crioulas e agricultura familiar?
A agricultura familiar tem uma missão e uma virtude muito grande em cultivar e compartilhar sementes crioulas ao longo do tempo. Ter essas sementes em mãos viabiliza aos agricultores familiares a tão comentada soberania alimentar, pois essas sementes permitem uma maior autonomia e independência dos agricultores. As sementes crioulas, por serem adaptadas aos locais, são mais resistentes e menos dependentes de insumos externos. Apresentam também uma garantia de diversidade de alimentos e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. Garantir a biodiversidade é assegurar a sustentabilidade dos sistemas naturais (ecossistemas) e dos sistemas cultivados (agroecossistemas).
Com informações da Diretoria de Projetos e Ações Integradas para Povos da CONAFER e do Portal Maneje Bem.