O Correio Braziliense entrevistou nesta sexta-feira (13) o presidente da CONAFER, Carlos Lopes. Os jornalistas Ana Maria Campos e Carlos Alexandre de Souza receberam nos estúdios do programa CB.Agro um dos nomes mais importantes do segmento agrofamiliar brasileiro. Com formação em direito, ciência política e atuação reconhecida em defesa dos pequenos agricultores e empreendedores rurais, Carlos Lopes comanda há mais de uma década uma entidade com presença em todos os estados brasileiros. Ao CB.Agro, o presidente respondeu perguntas sobre o segmento econômico composto por mais de 40 milhões de produtores, responsáveis por mais de 10% do PIB nominal e que garantem a segurança alimentar do país. Ao longo da entrevista, Carlos Lopes também falou sobre o marco temporal, frente política, agronegócio, mercado de carbono, políticas públicas, inclusão social e do sucesso dos programas e ações da CONAFER em todo o país. Confira abaixo a entrevista completa:
Com programas de fomento e projetos de inovação tecnológica voltados ao segmento agrofamiliar, a CONAFER vem cumprindo importante agenda para o setor, sempre com o objetivo de levar apoio técnico, crédito para a produção, assessoria jurídica, inovação tecnológica, além de ações de saúde e educação no campo. Ao CB.Agro, o presidente Carlos Lopes abriu a entrevista falando da missão da Confederação de ligar o segmento da agricultura familiar tradicional à sua contemporaneidade, sendo assim uma ponte para o futuro do setor agrofamiliar.
Acompanhe aqui os principais trechos da entrevista completa de Carlos Lopes sobre a contribuição da CONAFER para o mundo da agricultura familiar.
Carlos Lopes, presidente da CONAFER:
- “ Boa tarde, agradeço em nome de nós agricultores o convite ao CB.Agro. É muito importante esses momentos junto com vocês para que a gente possa fazer uma difusão de informações e projeções mais atualizadas e próprias de nós mesmos. A Confederação tem como missão conseguir linkar o nosso setor produtivo à contemporaneidade. Entre esses dois polos, o que cabe ao mercado, tecnologia e espaço político, segurança jurídica e também assim a imagem do nosso setor. Trabalhamos para que as pessoas nos reconheçam pela importância que somos como produtores de alimento e alimentando, produzindo alimento, nós produzimos a continuidade da vida.
- Em 2019, em uma pesquisa de mercado nós identificarmos os nossos recordes, as nossas importâncias de setor e começamos com a seguinte informação: 77% dos trabalhadores que prestam serviço em propriedades rurais quem emprega é a agricultura familiar, 10,1% do PIB somos nós. 85% das propriedades rurais no Brasil são nossas. A cada dez casas, sete somos nós que alimentamos. Então, não desmerecendo os outros indivíduos que também fazem parte do agro brasileiro, que são outros modais de produção, que são grãos, que são outros tipos em alta escala. O perfil do médio e grande é trazer de volta para dentro o que a gente vende de commodities. Então a gente consegue fazer a segurança da balança comercial nas exportações.
- Eu acho que é um coletivo de pessoas e de indivíduos muito importante, que faz o agronegócio. Mas quando se trata de produzir alimento para consumo, o prato da mesa, por esse recorte nós fazemos a nossa autoafirmação. O que é o agro senão produção de alimentos, produção de economia, produção de sustentabilidade, produção de meio ambiente, produção de inclusão, produção de continuidade de avanço tecnológico. O agro não é só o grão, ou o bife, ou o leite. O agro é a vida nossa. Está na roupa, está no sapato, está no botão, está na tinta. É o universo. Não somos concorrentes com o agronegócio. Não, jamais. Acho que nós tínhamos que ceifar isso do Brasil, de sermos concorrentes de nós mesmos.
- Nós temos um segmento coletivo, basicamente com especificidades. Os pequenos, outros médios, outros grandes. Nós produzimos floresta agora com a nova política da comercialização do crédito de carbono. Então, eu acredito que estamos ficando modernos no âmbito do produzir, porque até produzir já virou uma commoditie. Então eu acredito que essas divisões nos empobrecem, porque enquanto ficamos debatendo o que é maior ou menor, perdemos oportunidade de mundo, de negócios.
Ao responder sobre um dos objetivos da Confederação que é abrir um espaço político no Congresso Nacional que possa representar o segmento, Carlos Lopes reafirmou os princípios da Confederação:
- Os interesses do agricultor familiar estão lá. Eu me vejo representado porque eu me faço representar. Eu quero dizer que a gente faz ativismo para que as legislações que são do interesse setor sejam aprovadas, que as garantias econômicas de investimento público sejam asseguradas ao setor, aos indivíduos. Representar no Congresso não é estar através do senador ou do deputado. É responsabilidade do indivíduo, do cidadão estar lá através dos seus institutos ou organizações, cobrando ou acompanhando a evolução dos seus interesses de legislar ou de executar. O agricultor familiar sozinho é pequeno, mas unido tem uma força grande. Olha os nossos números, eu vos falo a força da coletividade. Nos municípios abaixo de 20 mil habitantes, nós somos a única renda, nós somos a única frente econômica. Eu gostaria de lembrar que o Brasil é rural. Nós temos que aceitar isso também. Temos que aceitar que no nosso país existem povos de floresta também, como temos povos rurais e povos urbanos.
Sobre desmatamentos e respeito à legislação ambiental, Carlos Lopes foi enfático:
- A agricultura não se faz sentada, não. Agricultura se faz com performance, lida com performance. Tem que sair da inércia. É lavoura. Isso é agricultura. Aí eu não acredito que o produtor consiga dividir: vou produzir grão até meio dia e vou desmatar de meio dia à tarde. Então, vamos identificar o verdadeiro desmatador para que nós possamos ter uma conversa com indivíduos classificados, categorizados. E esse cara está sobre um viés de uma legislação que nós aprovamos no Congresso Nacional.
Ao ser inquirido sobre o marco temporal nas terras indígenas, o presidente da CONAFER foi claro e objetivo em suas afirmações:
- Eu não posso falar com interesses de ser agradável. Até quando nós vamos ter lei para quebrar a lei? Qual é a resposta para o nosso povo? Para nós, povos originários? Eu sou indígena, minha mãe, minha avó indígena. De novo estamos segregando o país… quer dizer, a tutela do Estado para nós é um fracasso. Já não temos médico, já não temos jurídico, já não temos aquele componente. Vamos empreender e deixar de reconhecer o que é do outro para você ter alguma coisa? Ficar criando viés para alienar segurança de existência de povos nos seus territórios. Eu acho isso nesse momento… defendo que se mantenha a Constituição Cidadã e garanta aquilo que já foi discutido lá atrás por pessoas mais nobres e bem intencionadas… não gostaria de ser Flamengo ou Vasco, não. Eu gostaria de ser brasileiro nessa discussão. E eu gostaria de manter aquilo que foi feito, que eu acho que é o mais simples e certo, é o correto.
Sobre a Confederação, Carlos Lopes enfatizou o seu crescimento e sua representação.
- Quando nós iniciamos lá atrás, nós tínhamos uma carteira bastante suprimida de investimento público. Nós tínhamos um Pronaf de mais ou menos 400, 500 milhões por ano… na última legislatura nós conseguimos segurar 52 bilhões. Nós conseguimos colocar os limites da reforma agrária, sair diretamente para a mulher, não mais para o homem e estancando um pouco do êxodo rural, porque o homem é mais nômade, a mulher é mais sedentária. Então conseguimos também colocar um crédito diretamente para as mulheres. Conseguimos também a garantia da compra pelo Programa de Aquisição de Alimentos da merenda para as escolas estaduais. Essa ideia investe mais de 40 bilhões por ano na compra de produtos oriundos da agricultura familiar. Agora nós estamos indo apresentar um estande em Xangai, na China, com produtos de mel de arroz. Quer dizer, nós não tínhamos isso anos atrás. Nós éramos miseráveis, vagabundos ideológicos. Hoje somos 77% da massa trabalhadora do campo, 10% do PIB. Ano passado movimentamos 220 bilhões de reais. Somos um dos maiores demandadores de consumo, porque somos um dos maiores produtores de ativo… nós fomos criados para resolver.
Ao falar do projeto Acelera Mais Rebanho, Carlos Lopes falou do carro-chefe da CONAFER, o +Pecuária Brasil, o maior programa de melhoramento genético da pecuária familiar brasileira:
- Nós construímos dentro da Confederação o programa +Pecuária Brasil. Vinculamos a ele as secretarias de estados e secretarias, a Secretaria de Agricultura de Estado e Secretaria de Agricultura dos Municípios, onde a Confederação faz as doações de um pacote de tecnologia aos produtores indicados nos municípios, onde será 100% de graça pro produtor, o município só indica.. não dou só insumo, eu dou o insumo e a assistência técnica, porque eu quero que o bezerro nasça… aqui no DF é um sucesso, nós atendemos aqui dentro, e nós elencamos isso com 3,5 mil municípios brasileiros. Não existe uma entidade, nem estatal nem privada que tem publicada uma relação técnica com 3,5 mil municípios do Brasil. Com isso, nós ganhamos mais sustentabilidade. Nós temos que usar o que os nossos cientistas nos fazem. Essas pessoas se doaram na vida à pesquisa, a desenhar para melhorar as coisas na vida e a qualidade do leite, da carne que chega com menos parasita, melhor sanidade nos insumos, no leite, melhora o meio ambiente. Então o que eu acho que é mais importante é a economia que isso traz. São quatro anos de programa, espera-se 1 milhão de bezerros até 2025.
- O Acelera Mais Rebanho é uma oportunidade, nós fechamos uma parceria com a Ala Genetics e o Terra Bank, que é a instituição financeira parceira que financia o embrião, que já é um outro salto, porque se eu fazer o embrião eu não faço o meio sangue, eu fiz o puro. Aí você fala qual o custo? Nós conseguimos uma carteira de crédito com essa instituição, onde ele parcela o agricultor em 36 vezes, esse animal, esse embrião, e nós entramos com assistência técnica, o avanço na exata medida da consolidação da política pública.”