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TRADIÇÃO E ESPORTE: aldeias do sul da Bahia já treinam para os Jogos Indígenas Pataxó Coroa Vermelha

Foto: Nei Rios

Os Jogos Indígenas Pataxó ocorrem anualmente na aldeia Coroa Vermelha, no sul da Bahia, e são uma maneira de valorizar e manter vivas as tradições do povo Pataxó, como os esportes, brinquedos e objetos usados no dia a dia das aldeias. Para estar preparado para a sequência de jogos e competições, é preciso muito treino. Como estão fazendo os competidores da aldeia Trevo do Parque, do povo Pataxó de Itamaraju, extremo sul da Bahia, neste mês de janeiro. E a equipe da SEPOCS esteve presente apoiando a Trevo do Parque nas atividades com o objetivo de fazer bonito nos Jogos Indígenas Pataxó Coroa Vermelha, em abril.  Esses jogos não são apenas competições, mas um jeito de fortalecer a identidade da comunidade e ensinar aos mais jovens as habilidades e o conhecimento dos anciãos. Cada indígena morador das aldeias aprende desde criança a manejar diversos instrumentos de caça, dançar ao som dos maracás, andar de barco por rios e mares, além de desenvolver muitas outras habilidades. São conhecimentos que passam de geração para geração. Com o objetivo de unir as comunidades e preservar estas tradições, os Jogos Pataxó Coroa Vermelha terão uma série de competições, como arco e flecha, arremesso de takape, natação, luta, corrida de maracá, corrida com tora, canoagem, cabo de guerra e futebol

Crianças, adultos e anciãos de diferentes aldeias participam todos os anos dos Jogos Indígenas Pataxó na aldeia Coroa Vermelha, no sul da Bahia. As atividades esportivas, feitas de forma individual e em grupo, não são focadas em encontrar ganhadores e perdedores, mas sim em celebrar a cultura dos povos originários. Durante o ano, os atletas indígenas aprendem e aprimoram as técnicas esportivas com os anciãos, que detém mais conhecimento e o saber histórico do uso e funções dos objetos para os jogos nas aldeias Pataxó. 

Em cada aldeia Pataxó, há um indígena que sabe cantar ou fabricar um instrumento musical com mais habilidade e competência. Os mais jovens aprendem essas habilidades com os mais velhos, para usarem nos jogos indígenas

Arco e Flecha

Nos Jogos Indígenas Pataxó, os competidores participam da modalidade Arco e Flecha. Neste jogo, um homem e uma mulher por equipe, têm o direito de disparar três flechas contra um alvo com a imagem de um animal, a uma distância de 50 metros para os homens e 25 metros para as mulheres. O objetivo é acertar as partes do desenho que valem mais pontos, sendo que a pontuação varia de acordo com o local do impacto. A tradição do uso do arco e flecha, apesar de não ser mais necessária para caça ou guerra, é preservada como forma de manter viva a cultura e a habilidade ancestral dos Pataxó. É proibido o uso de arcos e flechas de outras etnias, e a regra exige que cada atleta faça três disparos respeitando as distâncias estabelecidas.

Foto: Lula Mascarenha, Jogos Indígenas Pataxó, Porto Seguro, Bahia / Brasil

Arremesso de Takape

No Arremesso de Takape, cada atleta tem três tentativas para lançar um takape, uma lança feita de madeira e ponta de osso, com o objetivo de alcançar a maior distância possível. A técnica corporal é importante para ganhar impulso no arremesso. O takape, originalmente usado para caça e guerra, é fornecido pela comissão técnica, que padroniza o material para evitar disparidades entre os atletas. Cada etnia pode inscrever apenas um representante e o vencedor é o atleta que lançar mais longe. As regras incluem o uso de trajes típicos, a proibição de usar takapes de outras etnias, e a desqualificação do arremesso caso o atleta ultrapasse a linha limite. 

Guerreira do povo Pataxó Hã-hã-hãe arremessa takape em jogos indígenas – Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Natação

A natação foi incorporada naturalmente aos Jogos Pataxó devido à habilidade dos atletas na água. Nesta modalidade, um representante de cada equipe nada cerca de 300 metros, geralmente no mar, com um percurso mais curto para garantir a segurança dos competidores, já que algumas aldeias Pataxó ficam distantes da praia e a natação no mar pode ser desgastante. As equipes devem escolher seus atletas, garantindo que estejam em boas condições para nadar, e podem desistir da prova caso não tenham um atleta disponível. Todos os participantes devem estar envolvidos nos Jogos para competir nessa modalidade.

Luta Corporal 

A Luta Corporal, ou Patiw Miwka’ay, é uma modalidade tradicional dos Pataxó que surgiu como uma brincadeira nas aldeias, onde os participantes apostavam parte do pescado em duelos para ver quem conseguia derrubar o oponente ou encostar o pé em um tronco. Adaptada para os Jogos Pataxó, a luta ocorre em eliminatórias, com um representante de cada equipe competindo até ser coroado o grande guerreiro da luta corporal. A disputa acontece em um círculo, com os competidores tentando derrubar um pequeno tronco ou bananeira em três tentativas. As regras exigem o uso de trajes típicos, a proibição de comportamentos agressivos e de artifícios desleais, além de cuidados para evitar lesões, como cortar as unhas e não usar acessórios que possam ferir. O respeito pelas decisões do juiz e pelo tempo da luta também é fundamental para garantir o bom andamento da competição.

Foto: Antonio Vieira, Jogos Indígenas Pataxó, Porto Seguro, Bahia / Brasil

Corrida de Maracá

A Corrida de Maracá é uma modalidade divertida e emocionante, onde equipes de no mínimo oito atletas competem em um revezamento. Cada atleta percorre 200 metros (100 metros de ida e 100 metros de volta), passando o Maracá, um chocalho usado em rituais indígenas, para o próximo membro da equipe. A equipe que completar o percurso no menor tempo vence. As regras exigem o uso de trajes típicos e o Maracá, proíbem o uso de calçados e a amarração do Maracá ao pulso, e garantem que todos os atletas da equipe participem da corrida, sem que haja interferência nos outros corredores ou o uso de artifícios que possam prejudicar a competição.

Foto: Lucia Bugarin, Jogos Indígenas Pataxó, Porto Seguro, Bahia / Brasil

Corrida com Tora

A Corrida com Tora é uma modalidade que simboliza a tradição do casamento na cultura Pataxó, onde o homem carrega uma tora de madeira com peso equivalente ao da noiva, demonstrando sua capacidade de sustentar uma família. Essa prática, que era celebrada em rituais de casamento nas aldeias, foi adaptada aos Jogos Pataxó, inicialmente como uma modalidade demonstrativa, e passou a ser competitiva a partir da nona edição dos Jogos. Na competição, equipes de 12 atletas (com 3 reservas) correm 200 metros com uma tora de aproximadamente 60 kg, em um revezamento de 100 metros cada, com a equipe mais rápida sendo a vencedora. As regras exigem trajes típicos e permitem que, caso a tora caia, os companheiros ajudem a recolocá-la, mantendo a continuidade da corrida. 

Foto: Reprodução

Canoagem

Na canoagem dos Jogos Pataxó, os atletas competem em duplas, usando canoas rústicas e remos padronizados de acordo com os moldes tradicionais indígenas. A prova, exclusiva para a categoria masculina, é realizada em águas abertas, com o objetivo de percorrer aproximadamente 1.000 metros, sendo a dupla vencedora aquela que cruzar primeiro a linha de chegada. As canoas são sorteadas antes da prova, pois nem todas têm o mesmo tamanho e peso. A modalidade reflete a prática diária de pescadores nas aldeias próximas ao mar e rios, onde a canoagem é fundamental para o sustento das famílias. As equipes são divididas em baterias, e as melhores duplas avançam até a final. Embora o uso de trajes típicos não seja obrigatório, as regras determinam que as canoas ou caiaques devem ser do mesmo tamanho, e que os atletas devem completar todo o percurso sem interferir nas equipes adversárias.

Foto: Reprodução

Cabo de Guerra

O cabo de força, ou cabo de guerra, é uma das modalidades mais aguardadas nos Jogos Pataxó, que tem como objetivo medir a força física e o espírito de equipe dos participantes. Cada aldeia pode inscrever até duas equipes, uma masculina e uma feminina, compostas por 10 atletas e 2 reservas. A competição consiste em puxar uma fita que fica no meio do cabo para o próprio campo, e a equipe vencedora é aquela que conseguir superar o oponente ou mantiver a fita em seu campo por mais tempo. As equipes treinam com grandes troncos de árvores em suas aldeias, já que a força física é altamente valorizada entre os indígenas. As regras incluem o uso de trajes típicos, a proibição de revezamento de atletas e o uso de artifícios ilícitos, com a competição durando no mínimo três minutos.

Foto: Nei Rios, Jogos Indígenas Pataxó, Porto Seguro, Bahia / Brasil

Crianças indígenas brincando de cabo de guerra na aldeia Trevo do Parque, em Itamaraju, Bahia

Futebol 

O futebol, tanto masculino quanto feminino, foi incorporado aos Jogos Pataxó de forma espontânea, devido à sua popularidade no Brasil e à prática frequente nas aldeias, servindo como uma forma de integração entre as equipes. Cada equipe é composta por dez atletas, com dois reservas, e todos devem ser inscritos antes de cada partida. Os jogos, realizados por sorteio entre as equipes, têm a duração de 25 minutos por tempo, podendo ser ajustados conforme o número de equipes. As regras são as mesmas do futebol tradicional, com a exigência de trajes típicos e a proibição do uso de bebidas ou drogas ilícitas, além da obrigatoriedade de que apenas atletas inscritos participem das partidas.

Foto: Paulo Vieira/Sudesb

Segundo indígenas Pataxó, unir as crianças das aldeias é um dos principais objetivos dos jogos indígenas. Por isso, as anciãs da comunidade se reúnem para fazer uma comida tradicional, o mãgute, que é distribuído para crianças, jovens e anciãos da aldeia. Enquanto os jogos ocorrem no campo reunindo atletas indígenas das diferentes aldeias, as anciãs preparam a refeição, que fortalece a cultura Pataxó por meio da culinária típica Pataxó e dos momentos de alegria compartilhados entre os indígenas.

Crianças Pataxó reunidas para refeição durante preparação para os Jogos Indígenas na aldeia Trevo do Parque, em Itamaraju, Bahia

A CONAFER que realiza a maior competição do futebol indígena brasileiro, o Campeonato Nacional de Futebol Indígena, promove de forma permanente o esporte nos territórios indígenas. Um exemplo são os treinos de futebol na aldeia Mãe Barra Velha, em Porto Seguro, Bahia. O apoio dos colaboradores da SEPOCS à aldeia Trevo do Parque, em Itamaraju, é importante para uma boa atuação nos Jogos Indígenas. A Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social participa da organização e decoração do espaço para estes jogos, bem como a obtenção de patrocínio para os prêmios, por exemplo. A Confederação segue apoiando a cultura indígena por meio de ações educativas e esportivas para os povos originários de todo o país, além da divulgação das tradições nas aldeias no site da CONAFER e no canal do YouTube TV CONAFER. 



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