Por Greiciane Coelho

No primeiro dia do 20° Encontro de Mulheres Pataxós Hãhãhãe na escola Jardim Curumim, da Aldeia Milagrosa, reuniram-se mulheres de várias etnias. Abrimos a roda de conversa com uma participação de Nádia Akauan, da etnia Tupinambá, e que trabalha com Florais da Lua. Os florais são um caminho de cura pelas ervas. A conexão consiste em um círculo onde ficamos receptivas à energia da cura através das cartas dos Florais. As mulheres do Encontro iniciaram a roda de conversa sobre assuntos do dia a dia em seus lares. Elas disseram que são os mesmos serviços diários todos os dias, e que ao final da tarde estão exaustas. E que muitas delas sofrem dentro dos seus lares com agressões verbais, físicas ou sexuais dos seus parceiros. Para fechar o primeiro dia da reunião fizeram uma dinâmica: construíram uma rede de barbantes capaz de levantar uma mulher. A primeira tentativa falhou, pois o barbante não suportou. Mas elas não desistiram, tentaram novamente, uniram mais forças e conseguiram erguê-la. O intuito desta dinâmica foi mostrar que unindo forças e sabedorias conseguiriam atingir o objetivo. E encerraram o primeiro dia com rezas e cantos.

No segundo dia, depois da abertura novamente com rezas e cantos, cada uma se apresentou e deu sua impressão sobre o Encontro, depois montaram grupos de 3 mulheres e fizeram uma brincadeira para animar o dia que só estava começando. Na sequência, cada uma pegou um papel dentro de uma caixa e leu para todas. Os textos eram relatos de abusos de parceiros sofridos por mulheres em seus lares: agressões verbais, físicas e sexuais. Foi então apresentada uma peça de teatro, em que uma das mulheres, Maria Aparecida, apresentou-se  com 11 filhos, um no colo e outro para nascer. Ela encenou uma situação comum na vida delas, que era mulher de marido alcoólatra, que fazia sexo à força com ela, e que sofria para cuidar dos filhos que vão à escola, recorrendo aos vizinhos muitas vezes. Ela fez o relato e perguntou para a plateia: o que faço mulheres? Elas a aconselharam a denunciar seu marido pelas agressões, que ela deve seguir sua vida com seus filhos, e que será acolhida por todos da comunidade. Maria Aparecida agradece ao final da peça. Após uma discussão sobre a mesma peça, Renata e Nitya Roberta tocaram o Pin, um instrumento para relaxar,  e ficaram de olhos fechados um tempo, abrindo-os bem devagar. Receberam, então, cada uma um papel para desenhar o que pensavam sobre abusos do passado. Desenharam, mostraram umas para as outras, conversaram e sentiram a sororidade entre elas. Almoçaram e seguiram com uma peça de teatro falando sobre os desenhos, o Teatro do Oprimido. Mais tarde algumas mulheres gravaram um áudio para a rádio Cunhã, quando falaram sobre o Encontro.

O terceiro e último dia teve início com as mulheres de mãos dadas formando uma grande roda. Falaram como foi a noite e o que cada uma sonhou. Rezaram e cantaram agradecendo ao pai Tupã pelo dia que se iniciava. Seguiu-se uma dinâmica para enfatizar a necessidade da união entre todas, do companheirismo e da solidariedade. Abriu-se um debate sobre liderança na aldeia e o que elas podem fazer para apoiar as líderes. Criaram um grupo de mulheres na comunidade, o Grupo de Mulheres Indígenas do Caramuru (círculo dos sonhos). Para fechar o dia, falaram dos desejos que o Grupo representa: respeito, amor, fé, sororidade, confiança e fraternidade. Ao final, todas agradeceram e selaram um compromisso de lutar pelos seus direitos. E assim deixaram registrado que o nome de cada uma é resistência, e o sobrenome, mulher.

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