Por Redação UNC

A Fazenda São Francisco é uma área de 900 alqueires em Querência do Norte que desde os anos 90 é palco de uma história de tragédia, luta e resistência. Ex-produtora de soja e improdutiva desde 1997, a área pertencia a Maurílio Favoreto, fazendeiro da região que foi condenado por tráfico de drogas em suas terras.

Em 1998, sabendo da situação da terra, um grupo de sem-terras ocupa a área e monta acampamento, na esperança que assim ela seja revertida à Reforma Agrária. Porém, o dono não gosta nada disso e manda, mesmo preso, um grupo de vários homens encapuzados e armados retirar as famílias à força do local. Durante a investida dos pistoleiros, Sétimo Garibaldi, um dos acampados, foi baleado na perna com uma escopeta e teve socorro médico negado, agonizando até a morte no local, na frente de seus amigos e família.

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Mesmo com novo dono, Lourival Loretto, a fazenda se manteve quase sem nada por cerca 20 anos, um grande território vazio, improdutivo e afundado em dívidas com a União. Até que em 19 de Fevereiro, na Jornada Nacional de Luta Carnaval Vermelho de 2018, um grupo de 60 famílias composto por União Nacional Camponesa (UNC), Movimento de Luta pela Terra (MLT) e Ligas Camponesas (LCU-BR) resolveu retomar a área e tentar mais uma vez encaminha-la para a Reforma Agrária.

Dessa vez, antes de utilizar da violência, o arrendatário da área, Sr. Celso, ofereceu, literalmente, uma maleta cheia de dinheiro para que as lideranças “sumissem no mundo” e deixassem as famílias desamparadas, pois só assim ele conseguiria convence-las a sair também. As lideranças repudiaram a atitude, negando o dinheiro e começando a entender com que tipo de pessoa estavam lidando. O homem saiu dizendo que ainda não havia terminado com eles.

Passou pouco menos de um mês até que a reintegração de posse viesse e no dia 08 de março um contingente de dezenas de policiais do choque se deslocou até lá e forçou as famílias a se retirarem. Por sorte, o vizinho da fazenda já havia sido sem-terra e entendia a luta e o desespero das famílias. Ele deixou todos acamparem em seu terreno.

Depois de alguns dias, o movimento voltou a ocupar a área, dessa vez com mais gente e mais garra. Desde então as mais de 100 famílias vêm revitalizando a Fazenda São Francisco. No solo que outrora era seco e quebradiço, agora diversas hortas crescem saudáveis. Nos pastos que antes eram vazios, agora cavalos, bezerros, vacas, porcos, patos e galinhas correm soltos, sempre interagindo com os acampados.

Onde antes era só terra e pó, hoje existem dezenas de barracos, cada um abrigando vida em seu interior. Das lonas fez-se a moradia do povo que segue lutando na esperança de seu pedaço de chão.

A situação pro fazendeiro se tornou quase insustentável e ele está de mãos atadas. Ao que tudo indica sua única opção de receber algo pela área é oferta-la para o INCRA. Mas ele já disse abertamente em uma outra ocasião que não gostava de sem-terras, então a situação ainda é uma incógnita.

Mas todas as lideranças e famílias do acampamento estão extremamente otimistas e esperançosas. “A vitória vem pra quem luta né, e aqui a gente luta bastante. Sinto que estamos perto da nossa conquista”, diz a liderança Maria Cristina enquanto alimenta as galinhas, o tom é de quem sabe das coisas por vir.

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