No fim de setembro, quando o presidente da CONAFER subiu à tribuna da CPMI do INSS para prestar esclarecimentos, não eram apenas papéis, provas ou números que estavam em foco, era a voz de agricultores de aldeias, de assentamentos, de comunidades ribeirinhas e quilombolas que ecoava ali.
Uma entidade que, ao longo dos anos, percorreu estradas de terra, lugarejos e regiões às margens dos mapas, hoje enfrenta uma investigação que muitos veem como política. No meio dessa tensão, as famílias do campo, que sempre dependeram de uma interlocução — alguém que as levasse até serviços, assistência técnica, convênios — assistem a uma espécie de paralisação silenciosa.

A grande teia construída no território
Talvez não seja visível à primeira vista, mas a estrutura da CONAFER não está confinada à sede ou aos gabinetes. Ela se estendeu por municípios do Norte ao Sul, dialogando com empreendedores rurais,agricultores familiares, povos tradicionais, pequenos produtores e lideranças comunitárias. No campo, essa presença se traduz em acesso, a serviços, orientações e parcerias. Quando Carlos Lopes afirma que “mais de 2.900 municípios” estavam vinculados à entidade, não se fala apenas de adesões, mas de parcerias locais, trabalhos realizados, resultados, reuniões, redes que se formaram no dia-a-dia.
Nesse contexto, a investigação não atinge somente uma entidade, mas toca aquilo que existe entre a entidade e as pessoas que giram em torno dela: produtores, famílias, apoio técnico, ciclo produtivo. É aí que mora a tensão: quando o aparato institucional vacila, o suporte cotidiano no campo sente o impacto.
Em Brasília há uma disputa que vai além da documentação: há representatividade, há quem se movimente politicamente, há redes que atravessam as casas de campo, as lideranças e os pequenos municípios, até os corredores do Congresso. Na busca de ter os trabalhos retomados nas bases.

Impactos sentidos nas comunidades
Enquanto a investigação se desenrola, em muitos cantos dos estados brasileiros, naqueles locais em que a CONAFER atuava como ponte para assistência técnica, para orientação previdenciária, para cooperativas… as vozes começam a perguntar: “E agora?”
Quando uma entidade que já estava em todo o Brasil vê questionados seus processos, as famílias que dependem de seus serviços sentem um eco. Não é apenas se trata de recursos suspensos ou convênios revistos, mas da sensação de que a interlocução que tinham pode ficar mais difícil. O agricultor que conversava com um técnico da CONAFER para regularizar seu benefício, a assentada que buscava orientação sobre produção e organização coletiva, essas pontes não podem se romper sem que haja um impacto.
Se há no campo insegurança em relação ao amanhã, se há produtores que hesitam em levar ideias adiante porque “o fluxo” parece ameaçado, isso não é efeito colateral irrelevante: é parte de um processo político em que a estrutura de apoio rural acaba ficando no centro de uma disputa.

O cerne político que emerge
É importante entender que, além dos fatos investigados, o que está em tensão é o papel de uma entidade que opera nas bases. E, por isso, toda a questão assume contornos políticos. Quando uma instituição que se fez presente em estradas, feiras, encontros de comunidades, impele lideranças locais, e de repente é submetida a investigação, o que se coloca não é apenas a legalidade de atos, mas quem ocupa espaço de poder no campo.
Há partidas que se jogam silenciosamente: os espaços de interlocução entre o Estado e o agricultor, os canais de mobilização local, a influência de uma rede que, sem alarde, mobiliza as vozes do Brasil rural. Assim, quando se diz que “a CONAFER atua em milhares de municípios”, não se fala apenas de logística: fala-se de uma presença que traduz identidades e comunidades — e que, na política, nunca deixa de ser relevante.
Quando parlamentares apelam para quebras de sigilo, convocações, prisões, não se trata só de apuração técnica. Trata-se, também, de uma disputa por representações, por quem fala por quem, por quem tem voz no campo. E os agricultores, nesse meio, observam: quem diz que está “dando conta” de seus interesses? Quem está ao alcance? Quem avança nos sertões, nas pequenas vilas e nas margens dos rios?

Uma chamada à reflexão
Em momentos como este, a mensagem para os trabalhadores rurais, para as comunidades indígenas, quilombolas, assentadas, para as mulheres do campo, para os jovens empreendedores rurais, é simples e poderosa: fiquem atentos. O centro da discussão não está apenas em Brasília ou nos altos corredores partidários. Está também nos sítios, nas feiras, nas cooperativas, nas associações que se formam em torno da vida no campo.
Que o processo de investigação siga, porque transparência, lisura e responsabilidade são fundamentais. Mas que se tenha, ao lado disso, cuidado para que as bases não sejam vítimas de uma disputa que se travou acima. Que as vozes do campo não percam o canal de escuta, que as pessoas pequenas não fiquem sem interlocução por causa de uma operação que quer, ao mesmo tempo, resolver irregularidades e não travar o apoio àquelas famílias.
A CONAFER destaca-se, antes de tudo, como uma entidade que se propôs a dar voz ao agricultor familiar. Que, naquele momento, seu legado de presença nacional, em camadas diversas, seja lembrado não só como estatística, mas como compromisso com comunidades. E que, no meio desse embate político, a verdade prevaleça, e as famílias que lá estão sintam-se seguras de que a interlocução continuará firme.