da Redação
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou quarentena ao estado do Acre para conter a monilíase do cacaueiro, pela primeira vez no Brasil. A declaração, feita para todo o estado, implica na proibição do trânsito de materiais vegetais (frutos, plantas) hospedeiros da praga (espécies do gênero Theobroma e Herrania) provenientes de todo o estado para as demais unidades da federação. A monilíase, causada pelo fungo Moniliophthora roreri, é uma das mais sérias doenças do cacaueiro, infectando os frutos em qualquer fase de desenvolvimento e, em condições favoráveis, pode causar perdas de até 100% da produção. Nas regiões onde a monilíase se instalou, a sua ação tornou-se mais destrutiva do que a causada pela vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa), doença que provocou uma catástrofe na Região Cacaueira do Sul da Bahia, eliminando mais de 250 mil empregos diretos e reduzindo a produção de cacau a 25%
A Moniliophthora roreri (Monilíase do Cacaueiro), foi detectada em área urbana do município de Cruzeiro do Sul, 600 km da capital Rio Branco. A medida foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (5), por meio da Portaria nº 372. A medida cautelar visa prover um maior suporte para as ações de fiscalização do trânsito de vegetais, executadas pelas Agências Estaduais de Defesa Agropecuária.
“Essa é uma medida cautelar, que visa prover um maior suporte para as ações de fiscalização do trânsito de vegetais, executadas pelas Agências Estaduais de Defesa Agropecuária, com vistas a evitar a dispersão da praga para as áreas livres do país, principalmente para as áreas de cultivo de cacau e cupuaçu”, explica a coordenadora-geral de Proteção de Plantas, Graciane de Castro.
O status de “área sob quarentena” para todo o estado permanecerá vigente até que sejam concluídos os trabalhos de delimitação da área exata da ocorrência da praga e estruturadas as medidas previstas de prevenção e erradicação da praga previstas no Plano Nacional de Prevenção e Vigilância de Moniliophthora roreri.
Não havia registro da Monilíase do Cacaueiro no Brasil
A monilíase é uma doença devastadora que afeta, principalmente, plantas do gênero Theobroma, como o cacau (Theobroma cacao L.) e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), causando perdas na produção e uma elevação nos custos devido à necessidade de medidas adicionais de manejo e aplicação de fungicidas para o controle da praga.
Essa é uma doença que atinge somente as plantas hospedeiras do fungo, sem riscos de danos à saúde humana. O Mapa alerta que devido ao seu potencial de danos às culturas que atinge é de fundamental importância a notificação imediata de quaisquer suspeitas de ocorrência da praga nas demais regiões do país às autoridades fitossanitárias locais.
A monilíase infecta os frutos em qualquer fase de desenvolvimento e, em condições favoráveis, pode causar perdas de até 100% da produção. A partir do século passado na Colômbia, a sua dispersão vem ocorrendo com maior intensidade, passando ao Equador (1917), Venezuela (1941), Panamá (1949), Costa Rica (1978), Nicarágua (1980), Peru (1988), Honduras (1997), Guatemala (2002) e Belize (2004).
Mais recentemente a doença atingiu o México (2005) e Bolívia (2012) e hoje se encontra em todos os países produtores de cacau da América Latina, exceto o Brasil.
Com o aumento do trânsito de pessoas na fronteira amazônica, inclusive com a construção de rodovias ligando esta região aos países onde a doença ocorre a exemplo do Peru, o risco de introdução dessa enfermidade aumentou bastante, e já havia colocado o Brasil em alerta.
O potencial de inóculo por fruto é elevado. Um fruto doente pode produzir cerca de sete bilhões de esporos na superfície da lesão necrosada. A característica pulverulenta dos esporos do fungo, facilita a dispersão natural pelo vento, ou por meio de respingos de chuva das lesões esporulantes para outras plantas, podendo alcançar 1 km de distância. A dispersão a grandes distâncias entre regiões e/ou países ocorre por intervenção humana principalmente pelo transporte de frutos infectados. Os esporos podem sobreviver até 9 meses em qualquer material: ferramentas, sapatos, roupas, equipamentos, veículos e contêineres, artigos regulamentados, como sacarias e embalagens de acondicionamento de produtos vegetais que porventura foram infestados com esporos provenientes de países onde a doença ocorre.
Estado da Bahia já elaborou Cartilha sobre a Monilíase do Cacaueiro
A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC/SDI/MAPA) e a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (EBDA) elaboraram uma Cartilha sobre a Monilíase do Cacaueiro e, pela primeira vez, um Protocolo de Biossegurança para esta praga quarentenária ausente que ameaça a cacauicultura brasileira. Esse já é um desdobramento do trabalho de priorização da CEPLAC e ADAB no sentido de enfatizar as medidas necessárias à prevenção da monilíase. A definição dos critérios para estabelecimento do Protocolo de Biossegurança e da Cartilha é fruto de várias reuniões técnicas ocorridas nos últimos anos.
A Cartilha traz ilustrações que esclarece sobre a doença e as diversas ações para sua prevenção; um livro didático dedicado principalmente ao agricultor. O Protocolo de Biossegurança é um conjunto de procedimentos, ações, capazes de eliminar ou minimizar riscos de entrada da praga. Recomendamos que este seja utilizado principalmente pelo viajante, ao turismo rural, e outros setores da cadeia produtiva do cacau.
É imprescindível a todos, o conhecimento e a compreensão do perigo que esta praga representa, e as ações para sua prevenção contribuindo para as boas práticas de biossegurança.
Com informações do Mapa.