FONTE: O Globo
Pesquisadores afirmam que origem do fenômeno é o uso de fertilizantes no Brasil; fenômeno polui praias paradíacas do Caribe
As águas cristalinas do Caribe não são mais tão atraentes assim. O cenário paradisíaco foi literalmente manchado por uma invasão de algas, que também atingiram o Golfo do México e o Sul da Flórida . A tendência é que elas ganhem cada vez mais território, caso o Brasil não contenha o desmatamento na Amazônia , dizem cientistas americanos.
O sargaço é um grande gênero de algas de coloração marrom, é típico de áreas tropicais e dão à região a aparência de um rio lamacento. O odor é outra característica marcante.
Em um esforço para atacar o problema, as autoridades de Miami começaram a limpar as praias com caminhões na última sexta-feira, mas a iniciativa parece apenas um remendo.
— O principal problema é o Rio Amazonas . O segundo, o aquecimento global. Quanto mais quente a água, mais ela se reproduz — disse Steve Leatherman, especialista em meio ambiente da Universidade Internacional da Flórida (FIU), à AFP.
Leatherman destacou que, em 2011, a produção agrícola avançou sobre a região brasileira do rio Amazonas. Isso resultou em um maior uso de fertilizantes, porque, para semear mais, os produtores que desmatam a floresta obtêm em troca um solo muito pobre de lama vermelha.
Esses fertilizantes são arrastados pelas chuvas para o rio Amazonas e chegam ao Oceano Atlântico, onde fertilizam as algas. O resultado é que “há 20, 30, 50 vezes mais, cem vezes mais sargaço do que antes”, alertou Leatherman.
O sargaço é um fenômeno natural. Trata-se de um ecossistema onde se alimentam peixes, caranguejos e aves. Quando Cristóvão Colombo viu a extensão que essa alga ocupa, a oeste das Bahamas, no Atlântico Norte, sua densidade o levou a acreditar que era uma ilha. Mas agora, segundo Leatherman, ela se tornou “um desastre econômico e ambiental”.
Os barcos de pesca não conseguem navegar. A praia é desagradável para os banhistas. Os peixes morrem porque as algas absorvem oxigênio. As tartarugas não podem se aninhar. E, quando morre e cai no fundo do mar, o sargaço sufoca os corais. Os danos econômicos que provocam à pesca e ao turismo ainda não foram quantificados.
Nas Ilhas Virgens Britânicas , o sargaço tem dois metros de espessura. Punta Cana, uma lendária praia de mar azul turquesa na República Dominicana , está marrom. Barbados declarou emergência nacional. O México recorreu à Marinha para retirar as algas e tentar recuperar a beleza de Cancún.
Um estudo da Universidade do Sul da Flórida (USF), publicado em julho pela revista Science, diz que o problema, que começou em 2011 com picos de hipertrofia em 2015 e 2018, provavelmente chegou para ficar.
Imagens de satélite mostram como o sargaço se forma na foz do rio Amazonas, estendendo-se de lado para o Atlântico, África, Caribe e o Golfe do México. Os pesquisadores chamam a região atingida de “Grande Cinturão de Sargaços do Atlântico” (GCSA). Entre 2015 e 2018, ele se estendeu por mais de 8.850 quilômetros. Em junho, sua biomassa atingiu mais de 20 milhões de toneladas.
O estudo culpa o uso de fertilizantes na Amazônia e os nutrientes na costa africana pelo excesso de sargaço.
— A questão é se chegamos ao ponto em que a GCSA se tornou o novo normal — diz o principal autor do estudo, Chuanmin Hu, professor de oceanografia óptica na USF. — Sob o enriquecimento contínuo de nutrientes devido ao desmatamento e uso de fertilizantes… a resposta é provavelmente positiva.
A Confederação da Agricultura Familiar