Por Redação UNC
Na Aldeia-Mãe Pataxó de Barra Velha, na Bahia, a Cabana de Cerimônias foi palco de um grande rito de resistência durante o dia 19 de abril. Conhecido como “Dia do Índio”, a data ficou marcada para os Pataxós como um momento de exaltar a resistência, a luta e a memória de seus antepassados. Representantes da UNC acompanharam os povos indígenas de diferentes aldeias da região, e até mesmo de outros estados, em um belíssimo ritual de lembrança, força e esperança.
A preparação do evento tem início na noite anterior, quando os Pataxós entoam suas músicas enquanto se pintam com cores e formas tradicionais. Cantam forte em uma só voz enquanto se fortalecem para a celebração do dia seguinte. Como aponta a tradição, homens e mulheres se separam e ambos recebem de seus mais velhos as bênçãos e as instruções para o ritual. Essa troca é parte fundamental do fortalecimento espiritual da aldeia.

Menino Pataxó se pintando com uma mistura de Carvão e Jenipapo

Focados e com as pinturas prontas, os guerreiros vão até a praia e lá ficam até o sol nascer. Na primeira luz da manhã todos iniciam o Toré e partem em direção à comunidade, passando pelas ruas principais convocando a aldeia para o ritual enquanto seus cânticos espantam os maus espíritos.
Sempre cantando, passam pela escola e seguem até a igreja, onde realizam uma cerimônia com todos aqueles que saíram de suas casas para segui-los. Pedem iluminação e força aos Encantados.

“Guerreiro da Mata Virgem, ele é quem balança a Aldeia..
Guerreiro da Mata Virgem, ele é quem balança a Aldeia..
Eu tava lá na Mata, eu tava lá na Mata…
Debaixo da samambaia
Eu tava lá na Mata, eu tava lá na Mata…
Oi aonde o Guerreiro vai…”

Pataxós Hã-Hã-Hãe de Baixo Alegre fazem seu ritual

De lá vão para a grande Cabana de Cerimônias, onde recomeçam a entoar os cantos ancestrais que refletem suas forças, identidades e tradições. A todo momento mais pessoas se aproximam do círculo, cantando mais alto, mais forte. Enquanto isso, ao redor da Cabana iluminada pelo sol, jovens conversam e jogam bola e crianças correm e brincam por entre as pessoas, todas com suas pinturas e acessórios tradicionais. É possível sentir no ar a energia que emana da união de diversas aldeias e povos interagindo, juntos pelo mesmo motivo: rememorar e fortalecer sua história.
Jovem Fotógrafa Pataxó em momento de reflexão durante as orações

Apesar do clima descontraído, o evento não é de comemoração, mas de reflexão. Durante suas falas, frisam a colonização portuguesa e suas consequências, do genocídio e da exploração dos povos que ocupavam a terra antes do “descobrimento”. Lembram e repudiam eventos como o Fogo de 51, atrocidade cometida pelo governo brasileiro que desalojou e exterminou muitos indígenas na década de 50. Reforçam a importância da territorialidade, reafirmando que suas terras são para a produção de comida, desenvolvimento de atividades culturais, fortalecimento da cultura e manutenção das tradições ancestrais; nunca para exploração. Ressaltam a importância da participação dos jovens nas atividades da aldeia, do papel de se carregar e manter as tradições e da necessidade da formação e desenvolvimento de novas lideranças, que ajudarão a manter a aldeia nas próximas décadas.
Carne sendo assada para o almoço

Entre papos, danças e rituais, a comida vai ficando pronta enquanto a carne é assada. As centenas de pessoas se preparam para o grande almoço, fazendo fila para comer. Ao se servirem, se espalham por todos os cantos e descansam para aproveitar a segunda parte do dia.
Durante a tarde acontecem os jogos indígenas, como a corrida de maracás, que consiste em dois grupos, revezando o maracá, uma pessoa por vez corre a distância 50m e volta entregar o maracá ao próximo. Depois uma grande corda é estendida e o cabo-de-guerra começa, sempre com todos rindo e torcendo ao redor. Brincaram crianças, homens e mulheres de todas as idades.
Jogos Indígenas, Revezamento de Maracá

As atividades vão cessando à medida que o sol vai se pondo. Ainda é possível ver algumas rodas cantando e balançando os maracás enquanto a luz vai embora por completo. Aos poucos as pessoas vão voltando para suas casas e os que ficam acendem uma fogueira para espantar o frio. “A música não pára até que a chama se esgote” brinca um jovem Pataxó. E assim continuam noite adentro, felizes pelo dia que passou e fortalecidos para enfrentar o futuro.

“No galho da oliveira, onde a arara foi a pousar…
Oi caça a caça índio guerreiro, não mata a arara deixa ela voar…”

 
Confira todas as fotos na galeria abaixo:

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