Foto: Diego Vara
Um novo estudo científico elaborado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica com apoio do governo brasileiro e da Unesco revelou que o Brasil quase dobrou o número de desastres climáticos anualmente desde 2020 na comparação com as duas décadas anteriores. Segundo os dados, os desastres climáticos no Brasil aumentaram 250% nos últimos quatro anos (2020–2023), com o total de 4.077 registros por ano. A pesquisa ainda mostrou uma correlação destes desastres com o aumento de temperaturas dos oceanos de aproximadamente 0,3°C a 0,5°C, o que levou a eventos extremos, como furacões e inundações, afetando milhares de vidas. Entre os exemplos, estão as secas no Centro-Oeste e as inundações no Rio Grande do Sul em 2024
O estudo, baseado em dados públicos extraídos do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, abrangeu o período de 1991 a 2023. Além disso, foram analisados dados de temperatura média do ar e da superfície oceânica dos últimos 32 anos, que mostraram que para cada aumento de 0,1°C na temperatura média global do ar, o Brasil registrou 360 desastres climáticos. No caso da superfície oceânica, para cada aumento de 0,1°C na temperatura média global, o país teve mais 584 eventos extremos.
Para efeito de comparação, foram registrados 6.523 desastres climáticos em cidades brasileiras na década de 1990, enquanto entre 2020 e 2023, o número de eventos alcançou 16.306. Desde 1990, o Brasil registrou 64.280 desastres climáticos, com um aumento médio de 100 eventos por ano. Nos primeiros dez anos de monitoramento, a média foi de 725 registros anuais. Entre 2000 e 2009, o número subiu para 1.892 registros por ano; de 2010 a 2019, passou para 2.254 por ano, e nos últimos quatro anos (2020 a 2023), a média chegou a 4.077 registros anuais.
As enchentes do Rio Grande do Sul, que causaram a morte de mais de 180 pessoas, estão entre os desastres climáticos de 2024. Casas no bairro do Lami, em Porto Alegre (RS), foram engolidas pelo repique do rio Guaíba – Foto: Vitor Shimomura
O estudo ainda revelou que, entre 1991 e 2023, 5.117 municípios brasileiros registraram danos causados por desastres climáticos, o que representa 92% das cidades do país. As secas foram as ocorrências mais frequentes, correspondendo a 50% dos registros, seguidas por inundações, enxurradas e enchentes, com 27%, e tempestades, que totalizaram 19%. As secas, em particular, têm se intensificado nos últimos anos, afetando principalmente as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Essas secas prolongadas têm causado sérios impactos na agricultura, no abastecimento de água e na qualidade de vida da população, além de agravar problemas econômicos em muitas áreas.
Ribeirinhos carregam galões de água enquanto atravessam bancos de areia do rio Madeira até a comunidade Paraizinho, em meio à pior seca da história. Humaitá, Amazonas (10 de setembro) – Foto: Bruno Kelly/Reuters
De acordo com o relatório Amazônia à Beira do Colapso – Boletim Trimestral da Seca Extrema nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira, elaborado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a seca extrema afetou, somente em julho do ano passado, 42 territórios e 3 mil domicílios indígenas, além de 15 povos originários, sendo um deles isolado. Este cenário também prejudicou o funcionamento de 110 escolas e 40 unidades de saúde dentro dos territórios.
Foto: Agência Brasil
Estes desastres climáticos têm correlação com o aquecimento das temperaturas da superfície oceânica, segundo o estudo, realizado pelo braço de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O oceano é importante para controlar o clima global, e seu aquecimento constante mostra os impactos crescentes da crise climática no planeta. Nos últimos 40 anos, o oceano aqueceu cerca de 0,6°C, o que é preocupante, pois esse aumento rápido e prolongado ameaça o equilíbrio de um sistema que cobre 70% da Terra, tornando mais frequentes e intensos os eventos climáticos extremos.
O aumento da temperatura global não só intensifica os eventos climáticos extremos, como também eleva os custos de energia e alimentos, provoca a escassez de água e contribui para o aumento de doenças relacionadas ao calor, como a dengue. Uma análise de pesquisadores da World Weather Attribution e Climate Central, o ano de 2024 teve 41 dias extras de calor extremo por conta de mudanças climáticas causadas pelo homem. Os pesquisadores analisaram 29 eventos climáticos extremos do ano passado que mataram pelo menos 3.700 pessoas, e descobriram que 26 deles tinham vínculos diretos com as mudanças climáticas.
Foto: Incredible Arctic – Shutterstock
Todos esses estudos servem como um alerta ambiental urgente que todos devem agir para proteger o meio ambiente e ter atitudes mais responsáveis. Em 2025, com o Brasil sediando a COP 30 em Belém, no estado do Pará, o foco global será ainda maior nas questões ambientais, o que representa uma oportunidade para unir esforços contra as mudanças climáticas extremas. Neste cenário, o protagonismo indígena nas decisões sobre o meio ambiente é de extrema importância, uma vez que os povos originários detém um conhecimento profundo sobre o comportamento da natureza, passado de geração em geração. Além disso, as aldeias funcionam como reservas naturais e seguem um padrão de atividades biosustentáveis. Logo, toda a sociedade tem muito o que aprender com os saberes indígenas e deve defender os direitos destas populações tradicionais, incluindo o marco ancestral contra a inconstitucionalidade do marco temporal.
Sabendo disso, a Secretaria Nacional Indígena ajuda os povos originários e o meio ambiente, por meio de ações que levam alimentos, educação e novas oportunidades para a autonomia das aldeias. Além disso, a SNI apoia bioconstruções e a agricultura familiar sustentável nos territórios, incentiva os indígenas a preservarem suas culturas e a terem hábitos saudáveis. A CONAFER defende a luta dos povos indígenas, divulgando as demandas das aldeias e buscando soluções, como a oferta de aulas sobre direitos humanos e o desenvolvimento de aplicativos de monitoramento e proteção das florestas.