O homem do campo, Antônio Carlos, nasceu em Xanxerê, oeste de Santa Catarina, e desde pequeno esteve cercado pela vida da produção rural. Descendente de imigrantes alemães que vieram agricultar no Brasil, teve na sua família a tradição da agricultura mantida por várias gerações. Já adulto, mudou-se para o estado de São Paulo, para a cidade de Presidente Epitácio, lugar onde deu início à sua trajetória profissional, e também constituiu família. Ele era funcionário de um grande frigorífico, e atuava na coordenação dos processos químicos da água dentro do estabelecimento. Um trabalho em que permaneceu por muito tempo durante a década de 90, tornando-se exemplo para todos os seus colegas, por sua ética de trabalho e conduta profissional ilibada

Como cidadão consciente, Antônio Carlos militou pelas Diretas Já e pela redemocratização do país. E era muito respeitado em sua comunidade por sua participação ativa em aspectos sociais, destacando-se por sua liderança natural. Era chefe de uma grande família, bom marido, pai de filhos formados, tinha um emprego que pagava um bom salário. Tudo estava andando bem, até que durante o expediente sofreu um acidente no trabalho e teve a sua mão gravemente machucada, impedindo-o de exercer seu ofício, levando-o à aposentadoria. 

Antônio poderia ter escolhido fazer qualquer coisa com o tempo livre e o valor mensal que recebia de pensão, mas decidiu retomar às suas origens e trabalhar em prol dos agricultores familiares e camponeses da região. Começa então sua trajetória de luta pela terra e vida digna para todos aqueles que têm na produção do alimento a busca pelo sustento. Em pouco tempo se torna referência em reforma agrária, e a ética pelo qual era conhecido em seu antigo emprego faz com que ganhe espaço dentro do movimento campesino.

Sempre foi muito rigoroso com qualquer ação que fosse errada, sempre foi incisivamente contra drogas, bebidas e prostituição dentro do movimento. Antônio Carlos é dono de um coração gigante, ele não mede esforços para ajudar os outros, colabora como pode, muitas vezes oferecendo conselhos, orientando, ensinando as crianças, auxiliando os mais velhos, dando suporte às famílias. Ele chegava a usar parte do recurso de sua pensão de aposentadoria para alimentar as pessoas ou ajudá-las em alguma emergência.

Em 2010, Antônio recebeu um lote da reforma agrária no município de Teodoro Sampaio, e com o decorrer do tempo, suas produções e safras se destacaram dentro do assentamento. Ele sempre foi um produtor organizado e cuidadoso, e com uma diversidade de culturas sempre muito produtivas. Depois de algum tempo, teve o seu lote selecionado pela CONAFER para implementar um projeto de tecnologia e fomento à produção chamado ERA, Estação Empreendedora Rural Agroecológica, mas que infelizmente não se concretizou devido à situação em que se encontra hoje. 

Devido à sua grande atuação na região de São Paulo, foi convidado a ingressar na CONAFER a nível nacional, trazendo a visão de empoderamento do agricultor familiar e pequeno produtor, por meio de políticas públicas aplicadas na base e do fortalecimento do empreendedorismo rural, para que o pequeno produtor conseguisse enxergar e valorizar seu próprio potencial. Logo seu exímio trabalho na Confederação o transformou em uma liderança nacional, e motivo de orgulho para a CONAFER, encabeçando importantes ações e projetos como o fortalecimento do PNAE, PAA e PRONAF; o documento da reforma agrária em nome da mulher; o crédito para jovens agricultores; o estímulo às produções indígenas e originárias; empreendedorismo rural, e a defesa das micro e pequenas indústrias. 

Infelizmente, em 2019, enquanto exercia sua função de secretário, foi preso por uma ligação com lideranças de um outro movimento no passado, pessoas de índole muito diferente da dele, de caráter duvidoso. E por interesses financeiros e políticos, Antônio Carlos, que durante sua vida sempre esteve ao lado do bem, acabou pagando por um erro que não foi seu. Porém, a justiça tarda, mas não falha. 

Sobre a pessoa de Antônio Carlos.

Secretário da Federação dos Agricultores Familiares do Estado de São Paulo

“ Venho por este manifestar um breve relato sobre o companheiro Antônio Carlos, guerreiro, lutador, pessoa que conheço há 10 anos, de boa índole, pai de família exemplar, trabalhador, conselheiro, pessoa de bons hábitos e princípio, sem vícios,  sempre pronto a auxiliar quem o procura sem medir esforços para ajudar o próximo, como toda pessoa de luta, convivemos durantes anos dentro das ações de luta, organizando bases e comunidades, pela causa agrária, a de ter um país mais justo e solidário, nisso o campo fértil é a reforma agrária, que é um direito constituído de todo cidadão brasileiro, a luta camponesa, infelizmente é tão combatida e perseguida, pelo pré conceito..

Que somos vistos como baderneiros, bandidos.. sendo que o único que fazemos é lutar por um país melhor e pela liberdade camponesa, fazendo valer o direito que a terra precisa cumprir sua função social e só a reforma agrária é capaz de produzir essa transformação social e mais igualitária. Estamos solidários com o nobre companheiro, que antes de tudo é um ser humano, que merece seu direito à liberdade, preservado, atuamos juntos como coordenadores da UNC e CONAFER.”

Thales Ramos

Presidente do ITT, Instituto Terra e Trabalho, com sede em Brasília

“Falar do Antônio Carlos é sempre um prazer pra mim porque eu sou a prova viva da luta do Antônio Carlos no oeste paulista, mas não só no oeste paulista mas em todo o estado de São Paulo. Antônio Carlos era uma pessoa que lutava muito pelo bem daqueles que eram menos favorecidos. Eu já vivi várias situações com Antônio Carlos, não ter dinheiro pra abastecer. Me ligar e falar que estava precisando de um dinheiro pra gasolina, pra sair trabalhar em prol daqueles que precisavam, e preciso dizer que está fazendo muita falta aqui. Sua conduta e ética de trabalho são inquestionáveis.”

Vinícius Ramos da Cruz

Secretário Geral e Financeiro e Vice-Presidente da CONAFER

“Venho aqui de espontânea vontade fazer um depoimento sobre nosso companheiro Antônio Carlos que se encontra hoje preso na penitenciária. Meu depoimento hoje é sobre a situação do Antônio Carlos ao momento de ser preso. Ele era Secretário da Federação dos Agricultores Familiares do Estado de São Paulo, um dos diretores da CONAFER Brasil, em Brasília. Fazia um trabalho de base, levando benefícios e políticas públicas a todos os filiados da CONAFER tanto no estado de São Paulo, como no Paraná, Mato Grosso, Pará e em vários estados. É um companheiro de luta, que sempre trabalhou honestamente, sempre esteve ao lado do agricultor familiar e do assentado, fazendo palestras e demonstrando seu trabalho e sua experiência junto ao público filiado à CONAFER.”

Tiago Abraão Ferreira Lopes

Liderança camponesa de Bauru, São Paulo

“Eu faço parte do movimento há mais de 10 anos, e nesses 10 anos eu tive a oportunidade de conhecer o companheiro Antônio Carlos. Falar do Antônio Carlos pra mim é muito fácil, quando eu conheci, a primeira coisa que percebi nele foi a bondade dele. De longe eu vi ele ajudando o próximo, tirando a blusa de frio dele e dando pra uma pessoa do movimento que tinha acabado de chegar e não tinha nada. Nesse espaço de tempo só fui criando admiração, de ver todas as atitudes dele, uma pessoa correta, séria dentro do movimento, a qual a gente tentou ao máximo seguir o exemplo do Antônio Carlos. Antônio Carlos é uma liderança muito importante no nosso estado de São Paulo, honesto demais. Ele era meio ignorante só com as coisas erradas, as coisas que não estavam no contexto, que ele não era a favor mesmo. Nada que fosse errado ele aceitava no movimento. Por isso digo que é pra mim é muito fácil falar dele. Mesmo ele estando passando por um momento difícil, mas a gente crê que logo ele vai estar aí com a gente de volta.”

Marcos Amad

Presidente da CONAFER

“O Antônio Carlos a gente se conhece na década de 2000, ele é egresso do ativismo agrário no Brasil desde a década de 90, no município de Presidente Epitácio, São Paulo, onde o mesmo trabalhava num frigorífico, em que era coordenador da área de química de água. Sempre participativo na comunidade, família grande, filhos tudo formados, emprego bem remunerado até que sofre um acidente na mão, é impedido de continuar trabalhando, aposenta, e entra nas bases do movimento campesino. Sempre ajudando, sempre colaborador, sempre família, nunca favoreceu drogas, bebida, prostituição. Sempre ajudando do seu benefício, do seu salário de aposentado, para ajudar em alguma emergência. Sempre ativo nas questões nacionais, sempre uma liderança. O movimento sempre foi muito covarde com as pessoas verdadeiras, pois no movimento sempre teve interesse financeiro, econômico, político, e o Antônio Carlos era o verdadeiro movimento né, porque ele realmente tinha descido de uma situação estável para estar com o movimento. Foi assentado no ano de 2010 no município de Teodoro Sampaio, e uma das melhores propriedades, a mais organizada e produtiva era a sua. Ficou amigo dos mais velhos, orientador das crianças, até que incorreu nesse processo, acompanhando outras lideranças de caráter duvidoso, e na maioria das vezes o bom paga pelo ruim. Este é o caso. Antônio Carlos também participou dos ativismos das Diretas Já, da redemocratização do Brasil, é um profissional que na Confederação chegou agregando, porque trazia todo esse histórico de militância agrária e rural em regiões de Santa Catarina e São Paulo. Ele é de Xanxerê, no norte catarinense, família de lavrador, descendente de alemão. Ele chegou na CONAFER trazendo esse empreendedorismo, essa necessidade lógica do camponês não se aceitar como vulnerável ou como uma peça subsidiada, sempre foi um cara colaborador nisso. É fácil descrever o caráter do Antônio Carlos porque ele não precisava estar na luta, pois ele não era miserável. Ele era uma pessoa aposentada que tinha colocado sua vida para ser mais útil. Participou de várias ações de caráter importante, como a luta para que o documento da reforma agrária fosse direcionado às mulheres em 2009, no programa nacional de merenda escolar, PNAE, PAA, são bandeiras muito importantes que ele contribuiu como militante, fortalecimento do PRONAF, são vitórias que a gente trouxe pro setor que antes não existia, e ele estava sempre junto. Quando saiu a questão das mulheres foi uma vitória, crédito para jovens também, a gente conseguiu que iniciasse a carteira de crédito com 18 anos para o jovem poder ficar na área rural. Ele tem um filho que é agricultor, trabalha com ele. Com a CONAFER, ele ajudou no fortalecimento dos povos originários, nessa quebra da tutela, até que no ano de 2019 para 2020, veio a ser preso por essas questões que a gente sabe que não são dele, e sim de um grupo que ele fez parte. O que a gente tem por ele aqui no movimento da Confederação é muito orgulho pela sua atuação, pelos trabalhos realizados e pelo tipo de homem que ele é, sério, um exemplo.” 

Carlos Roberto Ferreira Lopes 

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