da Redação

Com a suspensão das importações de fertilizantes impostas pela Rússia, no dia 4 de fevereiro, principal fornecedora deste insumo para a produção agrícola brasileira, surge a necessidade de o país promover com urgência o uso dos biofertilizantes e insumos orgânicos no campo. Para isso, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) dará início, a partir do mês de abril, ao projeto Caravana Embrapa FertBrasil, uma das medidas criadas para o enfrentamento da crise de fertilizantes, por meio do Plano Nacional de Fertilizantes, a ser lançado nas próximas semanas pelo governo federal. O plano visa reduzir a dependência da importação de insumos agrícolas, como os adubos, que neste momento teve a situação agravada devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Pesquisas recentes, como a que resultou na primeira patente verde desenvolvida na Universidade Federal do Paraná (UFPR), demonstram o potencial brasileiro para o desenvolvimento de novos biofertilizantes, capazes de suprir a carência deste insumo e viabilizar uma opção sustentável aos fertilizantes químicos

A Caravana Embrapa FertBrasil visitará 30 polos produtivos de 9 macrorregiões do país a fim de incrementar a eficiência na utilização dos fertilizantes, disponibilizando aos produtores técnicas para a redução de custos de produção e estimulando a implementação de novas tecnologias, bem como boas práticas de manejo de solo, água e plantas. A ação é uma medida de enfrentamento à atual crise em função da guerra entre russos e ucranianos, já que o Ministério da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento (Mapa) informou só possuir estoque do produto até o mês de outubro.

O Brasil importa 85% dos fertilizantes de que precisa, sendo a Rússia é seu principal fornecedor, de onde o país chegou a importar, apenas no ano de 2021, cerca de 20% das 40 milhões de toneladas do insumo consumido. Desde o fechamento das fábricas da Petrobras em 2016, que era a responsável pela produção de amônia e adubos nitrogenados por meio do uso de gás natural, a dependência externa dos setores agrícolas pelo produto só cresceu, trazendo a necessidade de repensar a produção de insumos no país enquanto medidas de segurança nacional e de segurança alimentar.

Nesse sentido, o biofertilizante se apresenta como uma alternativa de baixo custo para o produtor, e com grandes benefícios para a agricultura e o meio ambiente. Isto se dá por se tratar de um coproduto proveniente do processo da biodigestão, capaz de fazer o aproveitamento dos resíduos deixados pela produção agropecuária como o esterco, que quando colocados em uma câmara para fermentação se transformam em biofertilizantes: produto agrícola estratégico para ampliar a produtividade no campo, ao favorecer a reciclagem de nutrientes e a microbiota do solo.

O Brasil dispõe de uma imensa riqueza mineral, com grandes reservas de nitrogênio, fósforo e potássio, que reafirmam seu grande potencial para a autossuficiência na produção de fertilizantes. Estudos recentes, como desenvolvido pela UFPR, que resultaram na primeira patente verde da Instituição, apontam a aquicultura marinha como a mais poderosa neste segmento, por meio do cultivo das macroalgas como fonte de matéria-prima no desenvolvimento de adubos, barateando o produto e elevando a produção agrícola de forma considerável.

O biofertilizante pode ser utilizado para irrigação em culturas anuais ou perenes, e em sistemas de produção convencionais ou orgânicos, sendo uma alternativa ou complemento aos adubos químicos, e gerando menos impactos no solo e no meio ambiente. Além disso, por se tratar de um produto oriundo do processo de fermentação da biomassa, com a atuação de diversos tipos de microrganismos vivos, produz efeitos nas plantações de caráter fitohormonal, fungicida, bacteriológico, nematicida e acaricida.

O uso dos biofertilizantes são uma prática comum da produção agroecológica, pois o uso da biomassa obtida por qualquer tipo de matéria orgânica como palhas, cascas, grãos, sementes descartáveis, sangue de animais, ossos, cascos, chifres, vísceras e dejetos, podem ser empregados na fermentação, facilitando a produção caseira deste insumo. Embora sua produção seja simples, cada cultura necessita de quantidade e nutrientes específicos para o seu adequado desenvolvimento, e para isso é preciso buscar orientação técnica que ajude a elaborar o biofertilizante ideal de cada cultivo.

A Caravana itinerante da Embrapa irá tratar junto aos produtores sobre questões práticas e de impacto imediato a serem adotadas para promover a redução de até 20% no uso dos fertilizantes no país, o que representaria uma economia de um bilhão de dólares para o produtor rural brasileiro, já na safra 2022/23. Os pesquisadores pretendem levar técnicas e soluções que reforcem a importância do manejo sustentável dos solos e adubos para otimizar a eficiência de uso destes insumos sob ameaça de escassez, melhorando a produtividade e garantindo a competitividade da produção de alimentos no Brasil.

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