A agricultura familiar é o segmento econômico que mais gera empregos e renda na região; atividade agroecológica atua decisivamente na preservação ambiental de todo o bioma com 32% dos estabelecimentos agropecuários do país
O bioma mais ruralizado do país ocupa uma área de aproximadamente 800 mil km², que corresponde a cerca de 70% da região Nordeste e 11% do território nacional. Ele é exclusivamente brasileiro, e o nome “Caatinga”, de origem tupi-guarani, significa “floresta branca”. Uma referência à cor predominante da vegetação durante a estação de seca, quando quase todas as plantas perdem as folhas para diminuir a transpiração e evitar a perda da água armazenada. No período das chuvas, as folhas ficam verdes e as flores voltam a brotar.
As características do ecossistema da Caatinga é de mata clara e aberta, com clima semiárido marcado por períodos extensos de seca e poucas nascentes, abrangendo os territórios de oito estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, além do norte de Minas Gerais. A Caatinga possui cerca de 178 espécies de mamíferos, 591 espécies de aves, 177 espécies de répteis, 79 espécies de anfíbios; 241 espécies de peixes; 221 espécies de abelhas e mais uma imensa diversidade de fauna e flora.
27 milhões de pessoas habitam a Caatinga. Grande parte delas, cerca de 40%, depende dos recursos do bioma para sobreviver. É a região mais ruralizada do Brasil: 32% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros estão localizados aí.
Entretanto, lamentavelmente, a Caatinga é um dos biomas mais degradados, concentrando mais de 60% das áreas propensas à desertificação. Atualmente, as principais causas de desmatamento estão associadas à extração inadequada de mata nativa para a produção de lenha e carvão vegetal. O impacto reflete na fertilidade do solo, na extinção de espécies da fauna e flora e, portanto, na piora da qualidade de vida da população. Essas práticas já levaram à devastação de 45% da área do bioma.
Agricultura familiar no resgate da Caatinga
Ao todo, há no bioma 1,6 milhão de propriedades, sendo 75% delas de no máximo 20 hectares. A Caatinga é, essencialmente, agricultura familiar: pessoas que vivem de pequenos estabelecimentos e têm a agropecuária como principal atividade. Ao longo do ano, de acordo com as safras, os agricultores também coletam espécies nativas para se alimentar, vender ou processar, com destaque para o umbu e a carnaúba, como forma de complementar a renda.
A resiliência dos povos que habitam a Caatinga tem nas práticas agroecológicas a força para o sustento, e que se reflete também na luta para que os grandes projetos de irrigação não se apropriem de áreas tradicionalmente ocupadas pela agricultura familiar.
Existem muitas experiências de populações tradicionais e agricultores familiares que vivem na Caatinga e investem em um manejo diferenciado e sustentável do solo. Estas experiências têm demonstrado que é possível a convivência com as características menos favoráveis à agricultura, por meio de um cultivo variado de grãos, legumes e frutas, além de uma agropecuária com tecnologia, pois muitas propriedades já trabalham no melhoramento genético dos seus rebanhos. Assim, a agricultura familiar da Caatinga preserva os recursos naturais, ao mesmo tempo em que ajuda no desenvolvimento deste segmento econômico responsável por 10% do PIB do país.