da Redação
Os baianos respondem por 70% da produção nacional do fruto. Das 28 mil propriedades dedicadas à cultura no estado, cerca de 80% são de pequenos produtores familiares
Junto com o açaí e a castanha-do-brasil, o cacau aparece em primeiro lugar no mapeamento da demanda por produtos sustentáveis, realizado junto a mais de cem empresas em 2019, realizado pela Conexsus. Embora seja um fruto nativo da região amazônica, é produzido principalmente na Bahia, estado que, sozinho, responde pela maior parte da produção brasileira. Somados, Amazonas e Pará respondem por outros 20% da produção no país.
A cultura do cacau tem um potencial enorme na agricultura familiar, pois apresenta baixa dificuldade de manejo e manutenção e possibilita aos agricultores uma jornada menos exaustiva de trabalho. Quando bem conduzidas, as lavouras permitem a manutenção de árvores para obtenção de frutos e madeira, transformando áreas degradadas em agroflorestas. Ou seja, a agricultura se desenvolve associada à conservação ambiental.
Técnicos da Embrapa indicam, inclusive, um cultivo do cacaueiro em conjunto com a bananeira, pois o primeiro extrai muito potássio do terreno, enquanto a bananeira libera potássio para o cacau e também água – promovendo uma irrigação e adubação naturais. Há também ganhos com a preservação do solo, a partir do sombreamento do local, preservando a umidade do ambiente e recuperando áreas degradadas.
Boas práticas melhoram a produção baiana
O cacau é o principal produto agrícola do sul da Bahia, e foi muito importante para manter o agricultor na terra no processo de reforma agrária. Aproximadamente 80% das 28 mil propriedades dedicadas à cultura cacaueira no estado pertencem a pequenos produtores familiares. É um cultivo que ainda depende muito de mão de obra. O cacau produzido no estado é matéria-prima para mais de 30 marcas de chocolates.
Pré-assentamento Dois Riachões é exemplo de preservação da cultura cacaueira
Localizada no Baixo Sul da Bahia, a comunidade produtora de cacau conseguiu conquistar terra, liberdade e independência financeira depois de conviver por gerações em situação análoga à escravidão.
A comunidade ocupa uma área de 406 hectares, sendo que 150 deles dedicados ao cultivo do cacau cabruca, banana da terra, banana prata, aipim e hortaliças em geral. O restante da área é dividido em Área de Preservação Permanente (APP), florestas, capoeira e pasto.
O resgate do sistema de produção cabruca pela reforma agrária e a capacitação em agroecologia para a produção de subsistência favorecem o desenvolvimento da comunidade, que hoje produz também amêndoas de qualidade vendidas para grandes marcas de chocolates. Em 2020, Dois Riachões comemorou a finalização da sua própria fábrica e, em breve, terá também o seu próprio chocolate.
Para o agroecologista e presidente da FAFER-BA, Fidel Marx, para que a produção dos agricultores familiares melhore ainda mais, é preciso acesso ao crédito, como o Pronaf, por exemplo. Fidel traz boas notícias e fala sobre a cadeia produtiva: “acabamos de inaugurar uma fábrica-escola de chocolate, pois, na cadeia produtiva do chocolate, a gente fica com apenas 2% do valor do produto final. Com a produção de chocolate, o produtor aumenta sua renda ao final do ciclo. Porém, não conseguimos acessar o Pronaf, nem os editais do Banco Mundial. É preciso que essas políticas realmente cheguem aos produtores”, destaca ele.
Fidel frisa também que, para parte dos produtores que permanece na pobreza rural, é necessário acesso à assistência técnica e extensão rural, e finaliza: “estamos mostrando que plantar livre de agrotóxicos e transgênicos é produtivo, tanto em volume quanto em qualidade, além de utilizar recursos economicamente mais viáveis. Nós somos ambientalmente sustentáveis e socialmente justos. Conseguimos levar alimento saudável para a classe trabalhadora do campo e da cidade”.
Veja a história de sucesso de Dois Riachões e o seu amor pelo cacau: