Presidente da CONAFER denuncia ofensiva para privatizar o INSS e questiona blindagem a entidades de fachada em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo
Em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo, o presidente da CONAFER, Carlos Roberto Ferreira Lopes, fez duras denúncias contra a CPI do INSS e o que classificou como uma agenda política e econômica para destruir a previdência pública e abrir caminho para sua privatização. Lopes afirmou que a comissão tem atuado de forma seletiva e injusta, mirando entidades legítimas e atuantes — como a CONAFER — enquanto blinda associações de fachada, que sequer existem, mas que movimentaram recursos públicos por anos sem qualquer fiscalização, mesmo com o conhecimento da CGU e PF sobre elas.
“Há entidades que não existiram, que subtraíram o erário por 30 meses, sem sede, e não foram chamadas. Já escutei de advogados e familiares que sou boi de piranha, cortina de fumaça. Estão batendo naqueles que são grandes para esconder os que não existem”, afirmou à Folha.

Uma agenda para destruir e privatizar o INSS
Segundo o presidente, há um interesse político e financeiro evidente em desqualificar as associações que defendem o modelo público de previdência, especialmente aquelas que representam trabalhadores rurais, pequenos produtores e comunidades tradicionais.
“Há um interesse de desqualificar as instituições que defendem a aposentadoria no Brasil social para privatizar o INSS, porque ele leva 17% do PIB. Estão querendo uma previdência privada, uma previdência que pague quem já recebeu e quem vai se aposentar. Isso interessa ao mercado, que já leva 72% do nosso ativo fiscal”, disse.
Serviços paralisados e milhares de famílias sem atendimento
Desde a Operação Sem Desconto, a CONAFER teve suas atividades totalmente interrompidas em todo o país. A entidade, que até então mantinha presença em quase 3 mil municípios brasileiros, oferecendo assistência jurídica, técnica e social para agricultores familiares e empreendedores rurais, foi impedida de seguir atendendo milhares de famílias que dependiam de seus serviços. solucoes economicas, cultural, educacao, saude
“Do nada, viramos bandidos. Nós funcionávamos de segunda a sexta, prestando serviços reais. Agora estou acautelado pela Justiça, com funcionários para pagar e famílias sem atendimento. Parece que há uma agenda para destruir e privatizar a previdência. Isso não é justiça, é perseguição”, afirmou o presidente.

Interesses políticos por trás da CPMI
O presidente da CONAFER também destacou que o atual presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), tem interesses políticos claros na condução das investigações e nas acusações feitas contra a entidade. Segundo Lopes, o senador busca capitalizar politicamente o ataque à CONAFER, transformando o caso em palanque eleitoral e desviando o foco das verdadeiras irregularidades que envolvem associações inexistentes e o próprio sistema financeiro. Foi descoberto que o advogado que representava o presidente da CONAFER tinha laços com Paulo Amada, assessor de Carlos Viana, e prontamente foi desabilitado de seus serviços.
“Tem alguma coisa na disputa política e eleitoral para trazer esse tipo de relação de ONG com deputado para dentro da CPI. Já tivemos várias crises do PowerPoint no Brasil, e há várias vítimas. Agora, tentam transformar a CONAFER em uma delas”, declarou.
“Sou o boi de piranha de um sistema corrupto”
Lopes reforçou que a CPI tem servido para fabricar culpados e proteger estruturas muito mais poderosas, transformando a CONAFER em alvo preferencial por ser uma entidade que realmente existe, gera impacto social e questiona o poder econômico.
“Sou o boi de piranha. Estão batendo naqueles que são grandes, que funcionam, para esconder os que não existem. No ambiente de CPI, você não está investigado, já está sentenciado e execrado”, disse.
Um ataque à agricultura familiar e à previdência pública
Com mais de uma década à frente da CONAFER, de origem indígena e com as mãos pretas, Carlos Roberto Ferreira Lopes reafirmou seu compromisso com a defesa da agricultura familiar, do empreendedorismo rural e da previdência pública.
“As instituições que defenderam a aposentadoria nesse país não foram o parlamento, foram os sindicatos e associações. Agora estão querendo extingui-las. É uma agenda. Estão desmontando o Brasil social para entregar a previdência ao mercado”, alertou.
Hoje, a CONAFER busca reverter judicialmente as restrições impostas e retomar o atendimento a milhares de famílias que dependiam de seus programas e serviços. Lopes afirma que não vai se calar diante do ataque a uma entidade que, por mais de 10 anos, construiu pontes entre o campo e o Estado brasileiro, e que não vai aceitar aqueles que nunca fizeram nada parar aqueles que fazem todos os dias.
“Querem calar a CONAFER porque ela sempre defendeu os pequenos, os invisíveis, os que não têm voz. Mas nós seguimos acreditando no Brasil real — o Brasil que planta, produz e resiste.”
Confira a entrevista completa: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/10/presidente-de-entidade-investigada-acusa-cpi-do-inss-de-blindar-associacoes-de-fachada.shtml