A piaçabeira, espécie de palmeira, produz as fibras de piaçaba, uma das grandes riquezas amazônicas, e por isso pode ser explorada de maneira sustentável. Em outras regiões do país, existem vários tipos de vassouras de acordo com o tipo de cerda: de palha, de cipó, de pelo, de nylon. Mas só uma é genuinamente amazônica, a vassoura com cerdas de piaçaba. As fibras da piaçabeira servem para a cobertura de casas e artesanato, mas principalmente para a confecção de vassouras. No Amazonas, a espécie é abundante na região do médio rio Negro, e a cidade de Barcelos é o maior produtor dessas fibras. Neste cenário, encontramos Seder Hélio Katznara, presidente da Coopiacamarin, que em reunião nesta terça-feira, 13 de dezembro, com o presidente Carlos Lopes da CONAFER, selou a parceria que vai levar ainda mais desenvolvimento aos indígenas ribeirinhos do Amazonas

A produção abastece Barcelos e as cidades próximas. A Coopiacamarin foi fundada em 2009, por Inalda Batista. Desde 2019, Seder é o presidente da cooperativa. Há mais de doze anos ele é piaçabeiro e contou sobre o seu ofício: “os piaçabeiros não moram na cidade de Barcelos. Eles vivem nas comunidades que pertencem ao município, no interior, na divisa, nos igarapés, e são coletores nômades. Cortam as fibras num determinado lugar e quando acaba ali, vão andando mais pra frente até encontrar outra planta com fibras. Detalhe importante: a piaçabeira não é derrubada. O piaçabeiro vai lá, corta o ‘cabelo’ dela, somos tipo os penteadores do mato, e depois de cinco anos a piaçabeira está lá, novamente com fibras, então o piaçabeiro vai lá e corta de novo. Assim é o ciclo da piaçabeira.”

Da esquerda para a direita, o secretário da Amazônia Legal Silas Vaz, o presidente da CONAFER, Carlos Lopes, e Seder Hélio Katznara, presidente da Coopiacamarin

Seder explica que “a comercialização da piaçaba é a segunda maior fonte geradora de renda para o município de Barcelos, além de também promover trabalho quase o ano inteiro para o povo carente, que vive nas comunidades, gente trabalhadora, gente de bem, que tira seu sustento através dessa fibra tão maravilhosa que nos dá renda há mais de um século. São aproximadamente dois mil trabalhadores beneficiados com a produção de piaçava”. O comércio existe desde a segunda metade do século 19 quando as fibras integravam as riquezas naturais da região, então exploradas. Com o fim do segundo ciclo da borracha, ocorrido durante a Segunda Guerra, muitos seringueiros continuaram a extrair as fibras, o que continua até os dias de hoje.

A cidade de Barcelos

São quase dois dias para chegar em Barcelos, um dos lugares mais bonitos e encantadores do interior do Amazonas, mais ao Norte do Estado, com uma natureza de exuberância única, a 400 km em linha reta da capital Manaus, ou 1 mil km entre condução por terra e barco. De avião, a viagem dura 1 hora passando pela floresta e os arquipélagos da imensa bacia amazônica, até aportar às margens do lendário Rio Negro, com direito a sobrevoar o espetáculo do maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas, e o sétimo maior rio do mundo em volume de água.

Fundada em 1728, Barcelos é uma cidade histórica, a primeira capital da província do Amazonas, e tem sua origem ligada às missões que chegaram na Aldeia de Mariuá. Nesta região vivem indígenas de diversas etnias, entre elas os Yanomami, organizados em aproximadamente 250 aldeias dentro da grande floresta.

Um futuro de crescimento na produção

A extração das fibras da piaçaba sofreu um revés há uns cinco anos quando o Ministério Público foi até Barcelos e alegou que o trabalho dos piaçabeiros era escravo, e que precisavam de carteira de trabalho para continuar na extração. Seder explicou que “o pessoal que mora nas cabeceiras não tinha como tirar a carteira. Muita gente ficou sem poder trabalhar e chegaram a passar fome. A produção de fibras caiu. Mas felizmente tudo foi resolvido e se normalizou”.

A Coopiacamarin reúne 161 afiliados em dia com a cooperativa. São mais de 500 cortadores, entre homens e mulheres indígenas, ocorre que os demais não estão legalizados por falta de algum documento, ou porque estão nas cabeceiras dos rios. Atualmente, segundo Seder, três fabriquetas produzem vassouras, em Barcelos, e as exportam para Manaus, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Belém do Pará. No mercado exterior, Portugal já é um forte comprador da fibra de piaçaba. Os extrativistas são dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

Com informações do Jornal do Commercio.

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