da Redação

Há milhares de anos, quando tudo ainda era original, o Kuarup já existia na maior floresta do mundo. Ele é uma homenagem aos mortos ilustres da região do Xingu. Os povos xinguanos realizam o rito centrados na figura mitológica de Mawutzinin, considerado o primeiro homem da humanidade, segundo suas crenças ancestrais. No ano de 2020, pela primeira vez o ritual não foi realizado em função da pandemia. Mas agora, em 2021, nos meses de julho e agosto, a mais famosa manifestação cultural indígena pôde ser realizada. E a CONAFER contribuiu com seu apoio cultural, logístico e financeiro para que o Kuarup acontecesse. Lideranças das aldeias Kuikuro, Kalapalo e Nafukua, enviaram cartas de agradecimento ao presidente Carlos Lopes, e ao secretário geral Tiago Lopes. Como entidade que reúne todas as categorias de agricultores familiares, as causas dos povos originários são também causas suas. Por isso, apoiamos e defendemos os povos indígenas, e nos aliamos como guerreiros na defesa das suas tradições, à liberdade de expressão e preservação da sua rica cultura

O Kuarup voltou! E não poderia ser diferente para alegria das aldeias do Xingu. O primeiro dos quatro rituais foi na aldeia Nafukua, nos dias 17 e 18 de julho, o segundo na aldeia Afukuri, dias 24 e 25 de julho, depois o terceiro Kuarup na aldeia Kalapalo, dia 8 de agosto, e o quarto Kuarup na aldeia Ipatse, a principal aldeia do povo Kuikuro, dias 14 e 15 de agosto.

A dança do Kuarup tem a finalidade de trazer aqueles que morreram à vida. No começo da celebração, os guerreiros recebem com danças guerreiros de outras aldeias. Em um tronco de árvore chamado de Kuarup são feitas decorações específicas. A homenagem ocorre sempre um ano após a morte dos parentes indígenas. Em torno dos troncos, a família faz uma homenagem aos mortos. Passam a noite toda acordados, chorando e rezando pelos seus familiares que se foram. E é assim, com rezas e muito choro, que se despedem pela última vez.

Durante as celebrações há comida, danças, cânticos, rezas e o momento das lamentações, quando na aldeia são erguidos troncos de madeira pintados e enfeitados com faixas de cor amarela e vermelha e alguns objetos do morto. Cada tronco representa um morto.

Na tradição do Parque Indígena do Xingu, cada tronco enfeitado com adornos coloridos representa uma pessoa falecida a ser homenageada. Esses troncos ocupam o lugar central no ambiente em que indígenas rezam e choram a morte de seus entes queridos.

Os secretários indígenas da CONAFER, Burain de Jesus Pataxó, secretário de Tradições e Culturas dos Povos Originários, e Jair Kuikuro, secretário dos Povos Indígenas do Xingu, atuaram na articulação que viabilizou a ajuda da CONAFER para a realização do Kuarup.

À esquerda, o secretário de Tradições e Culturas dos Povos Originários, Burain de Jesus Pataxó, tendo ao seu lado, Jair Kuikuro, secretário dos Povos Indígenas do Xingu, na articulação que viabilizou a ajuda da CONAFER para a realização do Kuarup

O sucesso dos quatro encontros em aldeias diferentes foi tão comemorado, que as lideranças dos povos Nafukua, Afukuri e Kalapalo, enviaram cartas de agradecimento à direção da CONAFER.

Nas cartas, caciques e pajés e lideranças registram que o apoio foi muito importante para que os rituais ocorressem da melhor forma possível. E também lembraram dos representantes da CONAFER no Xingu, “que tem nos ajudado e nos apoiado sempre que precisamos”, como foi escrito ao final das cartas.

Veja o teor das cartas dos Nafukua, Afukuri e Kalapalo:

À CONAFER
Ao Sr. Presidente da CONAFER, Carlos Lopes
Ao Sr. Secretário Geral da CONAFER, Thiago Lopes

Carta de Agradecimento

Em nome do Povo Kuikuro, nós caciques, lideranças tradicionais e pajés agradecemos o apoio prestado a nossa comunidade durante a cerimônia tradicional do Kuarup, realizada em nossa aldeia no dia 15 de agosto de 2021. O apoio da CONAFER, através da SENPIX, foi muito importante para a realização dessa cerimônia sagrada para as nove etnias do Alto Xingu. Por isso, agradecemos mais este apoio e todos os apoios já prestados ao nosso Povo, comunidades e demais Povos Indígenas do Xingu.
Muito obrigado.

A luta dos povos originários é a mesma luta da CONAFER

Todos os indígenas são reconhecidos como agricultores familiares pela Lei da Agricultura Familiar, a Lei nº 11.326, de 2006. Para atuar mais diretamente nas causas indígenas, a CONAFER tem secretarias voltadas para as questões indígenas, atuando desde o mapeamento de territórios e suas diversas culturas agroecológicas, e também no estímulo à cultura e às suas tradições.

A história do genocídio de 6 milhões de indígenas, desde que os colonizadores chegaram na América, desde que aqui se fixaram infringindo direitos humanos e os direitos dos povos originários, desde quando destruíram milhares de etnias, fez erguer uma defesa inabalável dos territórios dos povos que originaram nosso país, que formam a nossa cultura e nos inspiram diariamente a preservar o meio ambiente.

Portanto, a luta dos povos originários é também uma luta da CONAFER. Estamos juntos, apoiamos e defendemos os povos indígenas. E nos aliamos como bravos guerreiros na defesa das suas causas, principalmente o direito à proteção dos seus territórios, à autodemarcação, à liberdade de expressão e preservação da sua rica cultura.

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