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CONAFER QUÊNIA: povos originários do Brasil atravessam o Atlântico para revolucionar a vida dos Kikuyu, a maior comunidade tradicional do país

Por Lucas Titon

O mundo se torna pequeno quando a missão é transformar vidas. Foi com esse propósito que, no dia 17 de fevereiro, uma comitiva da CONAFER partiu rumo ao continente africano. Sob a liderança do presidente Carlos Lopes, o grupo levava na bagagem não apenas projetos revolucionários e conhecimento técnico avançado, mas também o compromisso de criar conexões verdadeiras e impactar a realidade de quem sempre se sentiu esquecido. Nesse grupo estavam presentes representantes das secretarias de monitoramento, comunicação, relações internacionais e do programa +Pecuária Brasil – um projeto que cruzaria o oceano pela primeira vez, carregando no melhoramento genético a esperança de fortalecer comunidades através do desenvolvimento sustentável de seus rebanhos. O destino final era o Quênia, onde nos esperavam desafios, aprendizados e a consolidação de uma parceria que viria para mudar a vida de milhares de pessoas.

A viagem foi longa. Mais de 40 horas separavam Brasília do vilarejo de Kandutura, no condado de Rongai, cidade de Nakuru, onde a comitiva da CONAFER foi recebida por uma das mais tradicionais comunidades do Quênia: os Kikuyu. O cansaço da jornada foi rapidamente substituído pela emoção quando, ao chegar, fomos surpreendidos por um acolhimento inesquecível.

Mulheres Kikuyo cantando na chegada da CONAFER à comunidade

“Enviados por Deus!”, cantavam em sua língua, celebrando nossa chegada. Uma das músicas entoadas dizia algo como: “Disseram que nunca teríamos visitas, mas veja, hoje eles estão aqui.” Era impossível não se emocionar. Entre cantos e danças, fomos recebidos não apenas como visitantes, mas como parte de algo maior.

A história dessa conexão começou há 20 anos, quando Davi Feo, hoje diretor de Relações Internacionais da CONAFER, pisou pela primeira vez no solo queniano. Ele foi acolhido pelo líder local Peter Jiguna, com quem construiu uma amizade que resistiria ao tempo e à distância. A cada retorno, Davi reforçava a mesma promessa: “Um dia, voltarei para ajudar a transformar essa comunidade.”

O destino se encarregou de aproximá-lo da pessoa certa. Em um encontro com Carlos Lopes, presidente da CONAFER e uma grande liderança indígena do Brasil, a promessa encontrou seu caminho. “Vamos lá cumprir essa missão”, disse Carlos, selando o compromisso de levar um projeto que pudesse fazer a diferença na vida dos Kikuyu.

Da esquerda para a direita: Nikson, funcionário da CONAFER Kenya; Geovanio Katukina, secretário de políticas de monitoramento e segurança; Carlos Lopes (Tamury Tapuia), presidente; Davi Feo, diretor de relações internacionais; Peter Jiguna, liderança dos Kikuyu

Um ano se passou desde aquele diálogo, e a CONAFER já havia retornado à comunidade três vezes, ouvindo suas necessidades, entendendo sua cultura e iniciando a implementação do +Pecuária Brasil, agora +Pecuária África. O maior programa de melhoramento genético do mundo chegava até os pequenos produtores Kikuyu, oferecendo tecnologia de ponta sem custos – algo que antes parecia impossível para eles.

Agora, com os laços fortalecidos e o caminho pavimentado, Carlos Lopes liderava a comitiva que consolidaria essa parceria histórica. Mas a viagem trouxe algo ainda maior do que o esperado: de parceiros nos tornamos amigos, de amigos nos tornamos família.

Abraço fraterno entre Carlos Lopes e Peter Jiguna antes da apresentação da CONAFER para a comunidade

O acolhimento não era apenas um gesto de boas-vindas; era o reflexo de uma cultura ancestral profundamente enraizada, que valoriza a coletividade e a conexão entre os povos. Para entender a grandiosidade desse momento, é essencial conhecer a trajetória dos Kikuyu, a maior comunidade tradicional do Quênia.

Os Kikuyu formam o maior grupo étnico do Quênia, representando cerca de 17% da população do país. Com mais de cinco milhões de pessoas, essa comunidade se destaca não apenas pelo seu número, mas também pelo seu papel fundamental na economia queniana, sendo tradicionalmente agricultores em uma das regiões mais férteis do país.

Monte Kenya, local sagrado dos Kikuyu

A origem dos Kikuyu ainda é motivo de debate entre historiadores e etnólogos. Alguns estudiosos defendem que esse povo descende dos Mogikoyo, um grupo banto que teria migrado do oeste da África. Durante essa longa jornada, passaram pela atual Tanzânia e, ao alcançarem as proximidades do Monte Quênia, decidiram se estabelecer, enquanto outros grupos continuaram em direção ao sul do continente. Inicialmente, os Kikuyu eram caçadores e coletores, mas com o tempo, adotaram a agricultura e começaram a cultivar o solo vulcânico rico em nutrientes ao redor das montanhas quenianas. 

Além das teorias históricas, os Kikuyu carregam consigo uma rica tradição mitológica sobre suas origens. Segundo a lenda, o primeiro homem, Gikuyu, e sua esposa, Mumbi, foram colocados em Mũkũrwe wa Nyagathanga, na região que hoje corresponde ao distrito de Muranga, por Mwene Nyaga, o deus supremo. O casal teve nove filhas, que deram origem às diferentes linhagens do povo Kikuyu. Diz-se que, ao chegarem à idade adulta, Gikuyu pediu a seu deus que lhes concedesse maridos. A resposta divina veio de forma inesperada: ao redor de uma figueira sagrada, surgiram nove jovens de terras distantes – possivelmente Masai, com quem os Kikuyu mantêm uma relação histórica de proximidade e conflitos.

Representação de Mwene Nyaga, Deus supremo da cultura tradicional Kikuyu

Entre fatos e lendas, a trajetória dos Kikuyu se confunde com a própria história do Quênia, sendo um povo que soube preservar suas raízes enquanto se adaptava às mudanças ao longo dos séculos.

A conexão entre os Kikuyu e os povos originários do Brasil vai muito além das semelhanças na luta por território e identidade. Suas cosmovisões compartilham uma relação profunda com a terra, entendendo-a não apenas como um espaço físico, mas como um ser vivo que abriga histórias, ancestrais e espiritualidade. Os mitos de criação de ambos os povos também dialogam: enquanto os Kikuyu acreditam que Gikuyu e Mumbi foram colocados pelo deus Mwene Nyaga em uma terra sagrada para dar origem à sua nação, diversas etnias indígenas do Brasil possuem narrativas semelhantes sobre ancestrais que surgiram da floresta, dos rios ou das montanhas, escolhidos pelos deuses para fundar seus povos.

Pequena Kikuyu usando um cocar indígena do Brasil

Foi com essa conexão invisível, mas poderosa, que chegamos a Kandutura e fomos recebidos com uma celebração inesquecível. A comunidade organizou uma grande recepção, reunindo grupos de diferentes partes do território, cada um trazendo consigo sua história, seus desafios e sua força coletiva. Homens e mulheres de diversas organizações locais vieram nos encontrar, como os Sisi Kwa Sisi (65 membros), Matweko (47), Number 5 (62), Unity Group (97 mulheres e um homem), Furaha Women Group (30) e os Tuyoitich, do alto das montanhas (48). Também marcaram presença os Surutians (70), Soeto Block 3 (43), Magegania (33), Faith Group (32) e Akeisha Dairy, este último com uma impressionante rede de 700 integrantes. 

O encontro foi muito mais do que uma festa. Entre danças, cantos e discursos de boas-vindas, pudemos sentir a força dessa gente e, ao mesmo tempo, enxergar mais de perto as dificuldades que enfrentam diariamente. Foi uma recepção vibrante, mas também um convite à escuta, um chamado para compreender suas necessidades e somar forças em busca de soluções.

Peter Jiguna oficializa seu casamento em cerimônia especial

Como se o destino tivesse reservado um símbolo ainda mais forte para essa jornada, nossa chegada coincidiu com um momento especial para a comunidade: o casamento de Peter Jiguna, a principal liderança local. Dois anos após a perda de sua primeira esposa, ele agora celebrava uma nova união, e nós tivemos o privilégio de testemunhar esse momento, não como meros visitantes, mas como parte da família.

A cerimônia foi um verdadeiro encontro de mundos. Entre rituais tradicionais, cânticos e danças, fomos convidados a participar ativamente, como se já pertencêssemos àquele povo. Ali, sob o mesmo céu, Brasil e África se entrelaçavam em gestos, olhares e sentimentos compartilhados. Foi mais do que uma celebração matrimonial; foi a materialização da conexão profunda entre nossas histórias, nossas lutas e nossas esperanças.

Anciões Kikuyu felizes com a chegada da CONAFER, eles achavam que ninguém viria

No calor das comemorações, sentíamos que aquele momento representava algo maior: a união entre povos que, apesar do oceano que os separa, compartilham uma essência comum. A alegria do casamento era também a alegria do reencontro entre raízes distantes, mas que sempre estiveram ligadas.

Ao final dos dias de trabalho, nos despedimos de Kandutura com a certeza de que essa foi apenas a primeira de muitas páginas dessa história. A conexão que se formou entre Brasil e Quênia não foi apenas simbólica—ela se transformou em ações concretas, que já começaram a mudar a realidade da comunidade. Em um território onde o acesso à água sempre foi um desafio, conseguimos perfurar um poço artesiano para garantir o abastecimento da região, e agora seguimos com a construção da torre d’água, consolidando um dos recursos mais essenciais para a vida.

Representação da torre de água que está sendo construída na comunidade

Representação da sede da CONAFER Kenya que está sendo construída na comunidade

Nos pequenos produtores Kikuyu, vimos o desejo de prosperar e decidimos contribuir com o que há de melhor em tecnologia agropecuária. Inseminamos mais de 200 vacas, promovendo um salto na qualidade genética do rebanho local, e com resultados promissores: 54% das fêmeas confirmaram prenhez, e as demais já passaram por uma nova rodada de inseminação. Mas nossa missão foi além do campo. Formamos a primeira brigada comunitária de combate a incêndios do Quênia, capacitando homens para protegerem suas terras e suas famílias. E para que esse trabalho continue crescendo, vamos erguer uma sede na comunidade, que servirá de base tanto para os brigadistas quanto para diversas outras iniciativas.

Dia de melhoramento genético na comunidade

Entendemos que o desenvolvimento vai muito além da produção agrícola—é preciso garantir condições dignas de vida. Por isso, estamos comprometidos em melhorar a infraestrutura local, começando pela construção de banheiros, um passo fundamental para transformar a realidade sanitária da região. Mas nosso compromisso não termina aqui. Representantes da CONAFER Brasil retornarão periodicamente para implementar novos projetos, fortalecer parcerias e acompanhar de perto cada avanço conquistado.

Mais do que um trabalho social, essa parceria representa um pacto entre povos que reconhecem uns nos outros a mesma essência: a resistência, a força e a esperança. O que começou com um encontro transformou-se em irmandade, e o que já realizamos juntos é apenas o começo de uma história muito maior. Com cada passo, cada conquista e cada vida impactada, reforçamos um compromisso inabalável: estamos aqui para construir um futuro melhor, lado a lado, como verdadeiros irmãos.

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Sisi Kwa Sisi

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Matweko

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Number 5

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Furaha Women Group

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Akeisha Dairy

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Tuyoitich

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Surutians

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Soeto Block

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Magegania

Carlos Lopes e comitiva com representantes do grupo Faith Group

Carlos Lopes e comitiva com representante do grupo Unity Group

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