da Redação
O Art. 231 da Constituição Federal reconhece o direito dos Povos Indígenas sobre seus territórios e a manutenção de suas tradições, cabendo à União a demarcação, proteção e respeito.
Sem apoio do governo federal, indígenas criam suas próprias regras para conter avanço do coronavírus em suas aldeias, controlando a entrada e saída de pessoas em seus territórios. Segundo Junior Xukuru, 37, liderança da aldeia Recanto dos Encantados, localizada em Brasília\DF, o momento exige atitude. “É hora dos povos indígenas fazerem barreiras de contenção, para que pessoas não indígenas não adentrarem nas comunidades”, alerta Junior.
Diante da incapacidade do poder público em atender às demandas dos indígenas, em face da chegada do novo coronavírus nas aldeias, Xukuru protesta: “nós sabemos que hoje a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), não tem o preparo específico para atender os Povos Originários diante dessa pandemia. Inclusive os próprios servidores da Sesai estão levando o coronavírus para dentro dos nossos territórios”.

Junior Xukuru no centro da imagem

Além disso, as constantes invasões de garimpeiros, madeireiros e grileiros nas terras indígenas, aumentam ainda mais o risco de proliferação do vírus. Dados oficiais da Sesai indicam que já são 27 indígenas diagnosticados com a covid-19, com três mortes, além de 28 casos suspeitos. Porém, este número pode ser maior em virtude da subnotificação e falta de testes.
Para o pesquisador da Escola de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), integrante do grupo de trabalho em saúde indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Andrei Moreira Cardoso, esse é um dos segmentos populacionais mais suscetíveis à pandemia. “Podemos considerar que os povos indígenas estão entre as populações mais vulneráveis para o avanço do novo coronavírus, pois experiências anteriores mostram que as doenças infecciosas introduzidas em populações indígenas, tendem a se espalhar rapidamente e atingir grande parte da população”, afirma o médico.
Lições e superações em tempos de coronavírus
Atualmente no Brasil existem 305 povos indígenas, com 274 línguas, totalizando aproximadamente um milhão de pessoas. Além da diversidade étnica e linguística, os indígenas brasileiros vivem hoje em vários contextos sociais, que vão desde os povos isolados e de recente contato, aos indígenas que vivem em centros urbanos. Mas independente do contexto, o momento atual entre os povos indígenas do Brasil é de isolamento e retorno às tradições.
“Depois do coronavírus, a vida na aldeia mudou muito em alguns aspectos. A maioria das pessoas está procurando ir mais para a roça, estão plantando, indo pescar no mar e também no rio, já outras pessoas estão indo pro mangue”, pondera o professor e mestrando em antropologia pela Universidade de Minas Gerais, Sandro Pataxó, 34, que vive na aldeia Barra Velha, situada em Porto Seguro\BA, e diz perceber que a comunidade está se voltando a outra forma de viver, sem depender tanto do poder público e da sociedade capitalista: “há uma consciência coletiva entre os parentes, de buscar outros subsídios necessários para a existência, para a sobrevivência humana”.
Sandro Pataxó com a Constituição do Brasil

Com as aldeias isoladas, os povos indígenas estão regressando aos seus modos de vida mais tradicionais, e já conseguem retirar uma lição da crise causada pelo novo coronavírus. “Precisamos criar nossa autonomia e ao mesmo tempo pensar em nosso propósito de vida, de sustentabilidade, de caminhar juntos com a natureza”, conclui Sandro Pataxó.

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