Um estudo publicado nesta semana na revista científica Nature revelou que aproximadamente 25% das espécies de animais de água doce estão em risco de extinção. As principais ameaças identificadas incluem a poluição, as mudanças climáticas e a atividade humana, como a construção de barragens e a mineração ilegal. Os habitats de água doce, como rios, lagos, lagoas, riachos, pântanos e áreas úmidas, representam menos de 1% da superfície terrestre, mas são lar de 10% das espécies animais. A extinção de animais de água doce pode afetar profundamente populações tradicionais, como indígenas e ribeirinhos, que dependem desses ecossistemas para alimentação, renda e atividades culturais

O estudo analisou mais de 23 mil espécies que vivem na água doce e destacou a importância da conservação dos ecossistemas. A análise mostra que animais como libélulas, peixes e caranguejos, dependentes de rios, lagos e outros ecossistemas de água doce, estão em perigo de extinção devido a combinação de ameaças, como mudanças climáticas, poluição, espécies invasoras, barragens, extração de água e crimes ambientais.

Foto: Reprodução/ Unsplash

Rios grandes, como o Amazonas, podem parecer fortes, mas, ao mesmo tempo, os ecossistemas de água doce são extremamente vulneráveis, ainda mais que a maioria das espécies que dependem dessas águas não enfrentam um único perigo, mas sim várias ameaças que atuam simultaneamente. Na América do Sul, o extenso ecossistema do rio Amazonas é ameaçado pelo desmatamento, incêndios florestais e mineração ilegal de ouro, por exemplo. Os incêndios ilegais provocados para o desmatamento dessas áreas produzem cinzas que poluem os rios e impactam negativamente os animais que vivem da água doce.

Em 2023, o Brasil perdeu cerca de 10.000 km² de floresta amazônica, o que equivale a mais de 1 campo de futebol por minuto. O desmatamento na região aumentou 21% em relação ao ano anterior, agravando a crise ambiental e climática 

Outra forma de contaminação da água doce ocorre por meio do garimpo ilegal. O uso de mercúrio na extração de ouro, contaminando a água, é um dos principais problemas. Um estudo realizado pelo MapBiomas em 2022 revelou que, entre 2010 e 2021, a área ocupada pelo garimpo em Terras Indígenas (TIs) no Brasil cresceu 625%. Os territórios indígenas mais impactados foram os dos Kayapó (11,5 mil hectares), Munduruku (4,7 mil hectares) e Yanomami (1,5 mil hectares). Estima-se que cerca de um terço do ouro exportado anualmente pelo país tenha origem no garimpo ilegal, cuja atividade tem se intensificado, especialmente na região amazônica. Só em 2023, o garimpo ilegal devastou 1.409,3 hectares em terras indígenas Yanomami, Kayapó e Munduruku. 

Canteiro de garimpo ilegal na região do Rio Uraricoera – Foto: Divulgação

A poluição, muitas vezes causada pelo garimpo ilegal, pelo despejo de produtos químicos tóxicos ou pelo desmatamento, compromete não só a vida dos animais, mas também a qualidade da água, tornando-a imprópria para consumo, higiene e pesca, atividades essenciais para a sobrevivência de povos tradicionais, como os ribeirinhos e os indígenas. Além disso, a contaminação pode resultar em doenças graves, impactando a saúde das comunidades e colocando essas populações em situação de vulnerabilidade, como ocorreu na Terra Yanomami, onde o garimpo ilegal levou a casos graves de desnutrição e malária entre os indígenas.

Yanomami ameaçados pelo garimpo se manifestam pedindo “fora garimpo” da Terra Indígena – Foto: Victor Moriyama/ISA

Sabendo disso, a Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social ajuda os povos tradicionais e o meio ambiente, por meio de ações que levam alimentos, educação e novas oportunidades para a autonomia das aldeias e comunidades. Além disso, a SEPOCS incentiva os indígenas, ribeirinhos, quilombolas, assentados, acampados e agricultores familiares a preservarem suas culturas e a terem hábitos saudáveis e sustentáveis. A CONAFER ainda colabora para a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento de aplicativos de monitoramento e proteção das florestas, como o Hãmugãy, e com a formação de guardiões ambientais para combater incêndios florestais. 

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