da Redação
O tubérculo mais usado na cozinha, nasceu na América do Sul e conquistou o mundo. Rica em cálcio, magnésio, ferro e fósforo, mais do que alimentar e fortalecer os ossos, ou equilibrar a pressão arterial e combater a hipertensão, a batata é responsável por uma extensa cadeia produtiva, que vai desde as gôndolas dos supermercados até as cozinhas dos melhores restaurantes do mundo. Mas é na mesa das famílias que ela se torna indispensável, sendo preparada de todas as formas e receitas. Ela é a terceira cultura alimentar mais importante do planeta, e tem uma produção mundial anual estimada em mais de 330 milhões de toneladas para uma área de 18 milhões de hectares. No Brasil, a sua produção atinge anualmente a marca de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas, sendo 100 mil hectares como commodity e 30 mil hectares como produto da agricultura familiar. São 30 grandes regiões rurais produtoras em 7 estados brasileiros: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Bahia. Segundo a Embrapa, grande parte da produção nacional é comercializada in natura, sendo apenas 10% do total produzido destinados ao processamento industrial, nas formas pré-frita, congelada, chips e batata palha. Na agricultura familiar, a história de crescimento desta planta e o desenvolvimento de sistemas sustentáveis na sua produção, permitiram o surgimento de um imenso mercado consumidor, transformando esta hortaliça em item essencial à segurança alimentar do mundo
No mundo inteiro existem cerca de 2 mil espécies de batata. O seu cultivo no Brasil antecede à colonização portuguesa, tendo se iniciado, de acordo com historiadores, há 8 mil anos pelos povos originários que habitavam a região da Cordilheira dos Andes, entre a Bolívia e o Peru. A partir de então, esta hortaliça passou a fazer parte da segurança alimentar do Império Inca, o maior da América pré-colombiana, conquistando outros povos da América, incluindo-se os exploradores europeus que desembarcaram por essas regiões em busca de ouro e demais metais preciosos.
Ao longo de milhares de anos, o cultivo da batata se disseminou pelo planeta. Mas é na sua riqueza como alimento regional, que ela ganha mais força na culinária. No Brasil, a hortaliça é produzida pelos agricultores familiares de Norte a Sul, principalmente nos 3 estados sulistas, que aprimoraram o seu cultivo, desenvolvendo métodos próprios de plantio, irrigação e aterramento, aumentando sua produtividade e consolidando este produto como sendo de grande importância socioeconômica para o segmento agrofamiliar.
Sua produção está dividida entre os tubérculos que se destinam ao consumo de mesa e aqueles que podem ser processados e beneficiados pelas agroindústrias. Para as cultivares que chegam às mesas, são exigidas características que atestam a sua qualidade, como a aparência final da hortaliça, película lisa e brilhante, formato alongado, polpa de cor creme ou amarela e resistência ao esverdeamento. Já as batatas a serem transformadas pela indústria, requerem um formato mais adequado aos cortes mais precisos a que servem seu uso final, como as chips ou palito, que devem possuir gemas superficiais e teores adequados de matéria seca.
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada no ano de 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cada brasileiro consome em média 4kg de batata por ano, colocando o consumo desta hortaliça à frente de cultivares tradicionais como o inhame, a batata-doce, o cará e a mandioca. Com isso, seu cultivo vive um momento de revitalização em todas as regiões do país, unindo esforços de organizações e entidades de agricultores, instituições de assessorias técnicas e órgãos públicos para a promoção de atividades que assegurem sua produtividade e mantenham sua alta rentabilidade, preservando características históricas de seu cultivo, como o baixo uso de agroquímicos, a não agressão ao meio ambiente e sua propriedade de se adaptar à realidade da agricultura familiar de cada local.
O alto valor nutricional da batata e sua relativa facilidade de cultivo, salvou a vida de milhões de europeus durante a segunda guerra mundial. Outro aspecto curioso deste alimento, é que no passado os cobradores de impostos eram ludibriados pela sua característica de se desenvolver debaixo do solo, o que ajudou para o seu cultivo se espalhar pelo mundo para ganhar outros usos além da culinária. A fécula dessa hortaliça, por exemplo, é usada pela indústria farmacêutica para completar comprimidos, e pela indústria têxtil para a elaboração de uma cola bastante usada em tecidos, enquanto as suas cascas quando fermentadas permitem a produção de etanol, que pode servir de base na composição de bebidas alcoólicas.
A batata contém quase todas as vitaminas e nutrientes importantes, à exceção das vitaminas A e D, o que a torna um alimento rico em propriedades vitamínicas para a saúde humana, com possibilidade para oferecer até dois gramas de proteína a cada 100g consumida em uma dieta saudável. Por décadas, foram suas características nutricionais que, segundo historiadores, fizeram com que os sábios iluministas incentivassem o consumo e a disseminação do seu plantio, convencendo uma população culturalmente resistente e conservadora em seus hábitos alimentares a adotarem este item.
As variedades de batata mais cultivadas no Brasil têm, em sua grande maioria, origem europeia, tornando o aumento da sua produtividade um desafio para os agricultores, que recorrem a entidades, a exemplo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para realizar o melhoramento genético dessas cultivares, adaptando-as a fatores como um fotoperíodo mais longo e um período vegetativo menor. Este melhoramento é fundamental para as variedades destinadas a servirem de matéria-prima para as agroindústrias, principalmente quando processadas sob a forma de palitos pré-fritos congelados, cujos padrões mínimos exigidos pelo segmento industrial requer produtividade acima de 40 toneladas por hectare e conteúdo de matéria seca superior a 19%.
Para implementar o cultivo dessa hortaliça, é necessário que a sua semente tenha boa procedência, de modo a garantir sanidade, bom estado fisiológico e brotação adequada da batata. No Brasil, durante as décadas de 70 e 80, o governo incentivou seu plantio por meio de financiamento em bancos, atrelando sua produção pelos agricultores à aquisição de um pacote, que incluía a compra de sementes melhoradas, fertilizantes químicos e veneno, além da imposição da monocultura como regime de produção, fazendo com que ela deixasse de ser rentável às famílias produtoras, que a utilizavam sobretudo para sua subsistência.
Produção agrofamiliar da batata
A crescente demanda das famílias e seu uso diversificado na indústria, ampliou a sua produção no país, o que garantiu plenas condições de desenvolvimento desse cultivar. Segundo informações levantadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e Agricultura (FAO), a produtividade brasileira de batatas aumentou 28,1% nos últimos dez anos, principalmente devido à melhoria nas técnicas de cultivo empregadas pelos produtores, associada à introdução de cultivares mais produtivas. O sucesso da hortaliça é tamanho que a FAO admitiu o tubérculo enquanto uma solução possível para o enfrentamento da má nutrição e a pobreza, destacando sua importância nesse sentido ao decretar o ano de 2008 como sendo o Ano Internacional da Batata.
Apesar da escassez de chuvas nos principais estados produtores, reduzindo a produtividade das safras em 2021, a perspectiva é de que em 2022, de acordo com dados divulgados pela HF Brasil, a área total cultivada de batata seja aumentada em 2,4% no país, devido a alta demanda da indústria de pré-fritas e às condições mais favoráveis da safra de águas 2021/22, o que trará mais renda aos agricultores familiares brasileiros.