A Cultura Africana é uma das mais influentes na construção da sociedade brasileira e responsável pela base do imaginário popular, donde advém as crendices e ensinos folclóricos que se estabelecem desde a meninice até o enredo das concepções sociáveis.
O ensino da história e cultura afro-brasileira, mesmo que resguardado pela Lei 10.639/03 e por sua promulgação 11.645/08, está longe de ser representado no ambiente escolar e incorporado no currículo. A literatura sobre o tema é extremamente escassa nas bibliotecas públicas e privadas. Em alguns locais do brasil profundo e da cultura periférica é a voz empoderada que se destaca nesse processo humano, horizontal e honesto. Pouquíssimas vezes ela é trabalhada com transparência e quando acontece não ocupa o lugar de protagonista no ensino-aprendizagem.
Vê-se o recorte que há na “Semana da Consciência Negra”, cinco dias com atividades simplistas e desinteressantes, apenas com papéis em branco e estereótipos para colorir. Não vemos, por exemplo, lideranças Quilombolas atuando intramuros escolares por intolerância da própria comunidade que a cerca, por um preconceito disseminado de geração em geração.
Ainda, de maneira imensurável, a rotina escolar se perpetua sem a representatividade afro-brasileira em suas ações, sabotando principalmente o desenvolvimento cultural das localidades onde se estabeleceu. As memórias estão sendo apenas pela negligência e pela falta de comprometimento com a pluralidade cultural.
Na sala
Utilizados em sala de aula, os projetos são trabalhados em datas específicas (comemorativas) e sem planejamento para a formação continuada dos saberes. O Ensinante que tem conhecimento se depara em uma encruzilhada, a ansiedade de inserir a cultura africana para as crianças e o medo de sofrer represália de pais/responsáveis, pois a resistência e o preconceito são avassaladores para o ensino da ancestralidade, principalmente quando falamos da cosmologia e nos atentamos à descolonização das mentes.
Então, nesse tumulto do querer, da lei, da importância, do ódio, da ignorância, das demonizações, acaba-se que o ensino fica apenas na pré-disposição de quem atua em espaços pedagógicos não-escolares.
São inúmeras e imensas as dificuldades em reproduzir atividades que encantam com os atabaques da ancestralidade, quase escamoteada se estivesse apenas à deriva em um pedacinho de papel denominada “lei”, pois não é defendida por quem deveria nas escolas.
A comunhão dos saberes orgânicos e uma proposta libertadora que proporciona a todos o protagonismo da aprendizagem está distante do idealismo multicultural, mas a resistência sempre existirá para manter viva a Memória pelos cânticos dos desafortunados. “Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas” é a incontestável leveza do protesto. Ensinar sempre será um ato transgressor.
Por Bruno Bossolan

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