FONTE: Brasil de Fato
Davi Fantuzzi é assessor para mercados do Centro Sabiá e coordenador da Comissão de Produção Orgânica de Pernambuco. Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, Davi explicou a importância da valorização da agricultura familiar da ponta a ponta e como garantir uma alimentação saudável, barata e livre de veneno.
BdF: O que diferencia um produto comum de um que possui o selo agroecológico?
Davi: Na verdade, o Estado brasileiro certifica a produção orgânica, porque o Estado não faz essa diferenciação de agroecologia e produção orgânica. Produção orgânica é produção sem veneno, pode ser feita por um empresário, uma empresa, e não necessariamente ela é completamente sustentável, pode estar usando muito insumos externos que são ruins pra saúde, mas a agroecologia já tem uma dimensão enquanto movimento e consciência. Agroecologia envolve as mulheres, envolve a juventude, a luta por direito, a organização em rede e pensa a produção de uma forma sustentável em todos as partes que a envolvem.
BdF: Quando se fala em alimentação orgânica ou agroecológica, um dos principais empecilhos que são ditos é o preço elevado e a dificuldade de acesso dos alimentos. Onde é possível achar alimentos agroecológicos a preços populares no estado?
Davi: A gente fez uma pesquisa em 2015 onde a gente criou uma cesta com 20 itens, e comparamos a cesta em duas feiras agroecológicas com três grandes redes de supermercado e com três feiras livres de mercado popular e o resultado surpreendeu bastante, porque ajuda a acabar com esse mito. Olhando o valor total da cesta, ela ficava em média 56% mais cara nos supermercados do que na feira agroecológica e nas feiras livres de mercados populares ficaram 19% mais caros do que as feiras agroecológicas. Se você quer encontrar produtos agroecológicos a preços mais acessíveis os lugares hoje são as feiras e outras iniciativas como grupos de consumo, lojas e armazéns do campo.
O Centro Sabiá está lançando um projeto que é a Agroecoloja. Como ela funciona?
A Agroecoloja é uma iniciativa das famílias agricultoras que fazem parte da rede espaço agroecológico, das organizações e do Centro Sabiá. A loja funciona na Av. Gonçalves de Medeiros, nº 95, 1 andar e ela traz a produção desses agricultores que estão na labuta das feiras agroecológicas. Ela funciona de quarta à sexta, das 14 ás 20h e no sábado de 8h ás 12h, com café da manhã. É um espaço de troca, um espaço para propiciar essa relação de campo e cidade mais estreita, assim como as feiras. É mais um espaço para escoar a produção agroecológica e para a população acessar produtos livres de veneno.
BdF: O que são esses grupos de consumo?
Davi: É um grupo de pessoas que entende o consumo como um ato político e que criou essas estratégia de compra direta dos produtores. Toda semana a gente oferta uma lista com mais de 120 itens agroecológicos, as pessoas dizem o que querem e aí no sábado de manhã, no espaço da Agroecoloja os consumidores passam para poder pegar os seus produtos. Tem uma dimensão de trabalho voluntário, de construir uma relação com os produtores. De vez em quando tem reunião para debater preços, qualidade e outras coisas e a gente também organiza visitas para conhecer essas famílias agricultoras que estão produzindo o nosso alimento. É mais uma estratégia disso que a gente chama de circuito de proximidade. É justamente essa relação entre produtor e consumidor que faz com que o alimento agroecológico seja mais acessível para as pessoas e remunere de forma justa o produtor, diferente das grandes redes de supermercado que tem uma cadeia enorme e que remunera muita gente e que por isso a gente não sabe de onde veio o produto e nem se o produtor recebe um valor justo.
BdF: Quais os riscos que a produção agroecológica vai enfrentar nesse novo governo, com o fortalecimento da bancada ruralista?
Davi: Com o Temer a situação já ficou complicada. Muito do apoio dado á agricultura familiar no Brasil foi sendo minado, reduzido, como a assessoria técnica e a extensão rural, porque toda família precisa de acompanhamento. Qual o grande produtor no Brasil que produz sem assessoria técnica? Ninguém produz. E essa assistência precisa ser continuada. O que a gente observa com o golpe é um desmanche das políticas públicas que apoiam a agricultura familiar no Brasil. Como Bolsonaro de novidade até agora não tem muita coisa, é a continuidade pior do governo Temer, a perspectiva é ruim. É pouco apoio para o setor e muita luta por parte dos agricultores e consumidores para que a gente continue sabendo o que tem no alimento da gente pra que consigamos continuar acessar um alimento livre de veneno, porque não dá mais. O brasileiro está bebendo 7,3l de veneno por ano. Quando a gente olha as contas só do veneno legal no brasil, porque entra muito agrotóxico ilegalmente. Não tem sistema de saúde que dê conta, estamos falando da vida das pessoas.
A Confederação da Agricultura Familiar