A piscicultura brasileira vive um momento de recorde na exportação de pescados. E as cooperativas de pequenos produtores podem aproveitar esta onda de expansão internacional do mercado, mais precisamente da tilápia, em primeiro lugar, como também, do tambaqui, que vem logo em seguida na preferência dos americanos, nossos maiores compradores. O estado brasileiro que mais produz tilápia é o Paraná, com mais de 34% do volume total. Em 2022, os paranaenses cultivaram 187.800 toneladas da espécie, 3,2% a mais do que no ano anterior. Com isso, a região Sul aparece bem na frente nesse ranking, com 239.300 toneladas (43,5%). Mas existe muito mercado para conquistar e outras regiões têm potencial para aumentar suas produções agroindustriais agrofamiliares. Um estudo da Embrapa Pesca e Aquicultura em parceria com a Associação Brasileira de Aquicultura (Peixe BR) mostrou que a receita de exportação de pescado do Brasil aumentou 15% em 2022, chegando a US$ 23,8 milhões, a maior da história do setor. Acompanhe a matéria publicada no site da Embrapa com os dados de vendas para o mercado externo, além de depoimentos de pesquisadores e técnicos de aquicultura

O país que mais consome o peixe brasileiro são os Estados Unidos, que respondem por 81% das exportações brasileiras de pescado

A tilápia ( Oreochromis niloticus ), a espécie mais vendida para outros países, aumentou 28% na comparação com 2021, para um total de US$ 23,2 milhões. A informação foi publicada no Boletim Informativo  12 do Centro de Inteligência de Mercado e Aquicultura ( CIAqui )  da Embrapa Pesca e Aquicultura .

Em geral, o primeiro semestre de 2022 teve volumes de exportação superiores ao segundo. As exportações de produtos da piscicultura somaram  US$ 14,3 milhões, um crescimento de 100% em relação ao mesmo período de 2021. A análise mensal das exportações mostra variações ao longo do ano, sendo o maior volume tanto financeiro quanto em toneladas ocorreu no mês de maio.

A tilápia continua sendo a estrela entre as espécies de peixes mais exportadas, respondendo por 98% das exportações de pescado do país. A preferência estrangeira pela tilápia inteira congelada se manteve , tendo crescido 70% em relação ao ano anterior. Os filés frescos ficaram em segundo lugar, com 25% do total exportado e um aumento de 8% em relação a 2021. A categoria de filés congelados registrou o maior crescimento: 98% entre 2021 e 2022.

A segunda espécie mais exportada em 2022 foi o tambaqui ( Colossoma macropomum), com US$ 268 mil e queda de 51% em relação a 2021. A categoria de peixes surubim ficou em terceiro lugar, com US$ 114 mil e alta de 186% no ano, o maior crescimento entre as espécies classificadas.

O país que mais consome o peixe brasileiro são os Estados Unidos, que respondem por 81% das exportações brasileiras de pescado

Profissionalização no setor

Segundo o pesquisador da Embrapa  Manoel Xavier Pedroza Filho , o crescimento da produção (principalmente de tilápia) e a busca por novos canais de comercialização são alguns dos fatores que explicam o aumento das exportações brasileiras de pescados. “O crescimento do setor decorre da maior profissionalização e da ampliação da produção das empresas. Isso nos permitiu entrar no mercado internacional, que é excepcionalmente exigente em termos de qualidade e volume”, explica. “Enquanto isso, o mercado interno tem apresentado períodos de estagnação no consumo de pescado, levando a uma queda na demanda e nos preços. Nesse contexto, a exportação torna-se uma alternativa para o escoamento da produção e diminui a dependência de um mercado único”, avalia o especialista.

Para Francisco Medeiros, presidente do Peixe BR, 2022 foi um ano desafiador, mas a produção nacional continuou crescendo. “A economia global desacelerou devido à pandemia e também sofreu o impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Além disso, foi um período de altos custos de produção e de desajustes no comércio internacional. Apesar dessas e de outras adversidades, a piscicultura brasileira cresceu 2%. Esse crescimento não foi semelhante ao dos anos anteriores, mas a atividade ainda assim apresentou uma curva ascendente, o que comprovou que há uma demanda crescente por peixes cultivados”, afirma. “Produzimos 860 mil toneladas no total, com a tilápia novamente na liderança. Os peixes nativos continuam sendo um segmento de grande relevância, e outras espécies como o bagre listrado ( Pangasianodon hypophthalmus ) estão em alta”, relata.

EUA são os maiores compradores de peixe

Maior importador absoluto do pescado brasileiro, os Estados Unidos foram responsáveis por 81% dessas vendas, seguidos pelo Canadá, com apenas 5%, depois por Taiwan, Líbia e México. As exportações para os Estados Unidos cresceram 43% e chegaram a US$ 19 milhões. Apesar de não ter embarcado para a Líbia no último trimestre de 2022, o destino registrou aumento de 550% nas exportações acumuladas  no ano.

“A maioria das exportações para os Estados Unidos compreende as categorias de peixe inteiro congelado, filés frescos ou refrigerados e filés congelados. Neste último caso [filés congelados], as exportações aumentaram 80%, confirmando uma tendência de crescimento que vinha sendo observada ao longo de 2021 nesta categoria”, afirmou Pedroza. Para o Canadá, a principal exportação do setor foi o peixe inteiro congelado, que representou 79% do total (US$ 941 mil). Já para Taiwan, a maior categoria exportada foi de subprodutos não destinados ao consumo humano (US$ 531 mil), que inclui itens como óleos, farinhas e escamas.

Entre os estados brasileiros que mais exportaram pescados em 2022, o Paraná liderou com 58% do total, um aumento de 114% em relação ao ano anterior, seguido por Mato Grosso do Sul, com 18% do total, e Bahia, com 11%. O crescimento de São Paulo foi marcante: 127% na comparação com 2021.

Vendas devem continuar crescendo em 2023

Para 2023, as expectativas também são otimistas tanto para o mercado interno quanto para o externo. Com relação às exportações, após um aumento de 15% em 2022, os embarques devem continuar crescendo em 2023, principalmente de tilápia inteira e filés de tilápia congelados. As empresas do setor preveem um aumento nas exportações da espécie, principalmente no segundo semestre. A perspectiva de reabertura do mercado europeu para o pescado brasileiro – fechado desde 2018 – pode contribuir para o aumento das exportações de produtos da piscicultura.

Desde o segundo semestre de 2022, os preços da tilápia permaneceram altos como consequência da redução da população de peixes nos meses anteriores. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP), publicados no Boletim CIAqui, os preços da tilápia no mercado interno aumentaram 16% em 2022, encerrando o ano em R$ 8,51 por quilo.

O futuro do peixe brasileiro

O Brasil é um dos países com maior potencial mundial de crescimento da piscicultura em águas continentais. Isso se deve ao fato de possuir não apenas a maior reserva de água doce do mundo, mas também uma grande oferta de grãos para produção de rações e uma cadeia produtiva já bem estruturada. Empresas que atuam há décadas em outros segmentos de proteína animal – como aves e suínos – agora investem na cadeia da tilápia como forma de diversificar seus investimentos. Na região oeste do Paraná, algumas cooperativas de agricultores já são grandes produtores de tilápia, operando no mesmo sistema de verticalização utilizado na produção de frango de corte. Além da produção já consolidada, há perspectiva de crescimento da demanda, tanto no mercado interno quanto no externo.

O consumo de pescado no Brasil ainda é baixo – cerca de 9,5 kg por habitante ao ano–; no entanto, espera-se um aumento a longo prazo. Com relação às exportações, a perspectiva é de aumento de volumes, principalmente de produtos congelados de tilápia. Há uma tendência de crescimento do número de países importadores à medida que novos mercados se abrem. Por exemplo, várias empresas exportadoras de tilápia já possuem a certificação Halal, que dá acesso a diversos mercados em países islâmicos.

A segunda espécie mais exportada em 2022 foi o tambaqui (Colossoma macropomum) , com US$ 268 mil e queda de 51% em relação a 2021

Um longo caminho à frente

Apesar de ser o maior volume histórico nas exportações da piscicultura, o valor ainda é bem inferior ao de outras cadeias produtivas mais consolidadas, como a carne bovina, que chegou a US$ 13,091 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), ou o frango, que faturou US$ 9,762 bilhões em 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Mesmo com enorme potencial, a avaliação científica é de que a piscicultura brasileira é uma atividade com menos de uma década de existência e enfrenta diversos gargalos importantes, como alto custo de produção, alta burocracia nos processos de licenciamento ambiental e necessidade de tecnologias para produzir espécies nativas.

Para Pedroza, o setor produtivo está gradativamente ampliando suas estruturas. “Além disso, a Embrapa é uma das instituições que vem realizando pesquisas para minimizar gargalos tecnológicos, por meio de ações como análise genética da   Plataforma  Aquaplus ), tecnologias para melhoria da qualidade da alimentação, reprodução e melhoramento genético de espécies nativas e plataformas digitais para inteligência em aquicultura como o  CIAqui  e  o SITE Aquicultura ”, relata.

Com informações da Embrapa.

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