da Redação
Devido ao crescimento da demanda, clientes precisam fazer pedidos com 24h de antecedência para garantir a cesta de alimentos
A pandemia da covid-19, que causou a suspensão de várias atividades, como feiras livres, levou muitos produtores rurais a se unirem para entregar mercadorias na casa dos consumidores e garantir renda. Os agricultores familiares já ofereciam o serviço delivery (entrega), mas depois do novo coronavírus a procura cresceu consideravelmente. De acordo com o produtor Claudimar Resende, 42, o aumento na demanda ocorreu depois que ele publicou uma lista de produtos nas redes sociais. “As pessoas começaram a divulgar nosso trabalho para outros grupos, e dessa forma cresceu tanto o número de pedidos, que a gente nem conseguiu atender todo mundo”.

Claudimar mora na cidade de Alexânia\GO, distante 90km da capital federal. Há oito anos que ele e a esposa, Vânia Mendonça, 37, vendem alimentos orgânicos na quadra residencial 308 Sul, em Brasília. Mas agora, em função do novo coronavírus, os atendimentos são apenas online. “As pessoas mandam mensagem no dia anterior, a gente faz a colheita e quando é de tarde já separamos as encomendas dos clientes”, explica.
Segundo o bombeiro Túlio Machado, 35, a praticidade do atendimento e a qualidade dos alimentos fazem a diferença. “Ele manda a lista dos produtos disponíveis no dia, ou na semana, então fazemos o pedido e depois recebemos em casa. É mais rápido e prático pra gente, e ainda ganhamos no preço, na qualidade dos produtos orgânicos, além de evitar aglomerações”, afirma.
Já a analista de sistemas, Virginia Fonseca, 45, ressalta a importância de fortalecer a agricultura familiar. “Nesse momento que estamos enfrentando essa crise, provocada pelo coronavírus, é muito importante incentivar o pequeno produtor, manter o emprego dessas pessoas. Além do mais, os alimentos orgânicos são mais saudáveis”.
As entregas são feitas a pé, de bicicleta ou de carro, dependendo da distância. Para isso, o Claudimar fez uma parceria com dois motoristas de aplicativo. “Eles estavam parados, sem rodar muito. Então propus essa parceria: eles levam as encomendas e os clientes pagam o serviço de entrega”.
 

Para o motorista de aplicativo, Marcos de Brito, 32, o trabalho de entregador veio em boa hora. “Está sendo muito bom para mim, pois com esse trabalho estou garantindo a renda da minha família”.
De acordo com Brito, o trabalho de entrega é simples, mas requer cuidado. “Eu pego as caixas, que já estão prontas com os endereços, e vou entregar. Chegando ao local coloco a caixa na porta e o cliente recebe. O pagamento é feito por meio de transferência bancária, para não termos contato com as pessoas”, justifica.
Hoje o trabalho coordenado pelo Claudimar gera renda para dez famílias, entre as pessoas que atuam diretamente com ele e os outros agricultores parceiros, que fornecem seus produtos para conseguir atender um número maior de clientes.

Diferença entre alimentos orgânicos e alimentos convencionais
Os alimentos orgânicos são livres de agrotóxicos em toda sua cadeia produtiva. Enquanto o cultivo de alimentos convencionais utiliza defensivos químicos para matar insetos, larvas, fungos e vegetais, e assegurar maior produtividade.
Outra diferença é que a agricultura orgânica respeita o ciclo biológico natural. Segundo o nutricionista Nilo Bello Gomes, o alimento orgânico traz benefícios para a saúde e para o meio ambiente. “O alimento orgânico vem com uma carga de respeito muito grande à natureza, além de ele ser mais suculento e mais saboroso, ele também vem com uma potência de nutrientes mais elevada que o alimento convencional, que leva agrotóxico em sua produção. E hoje a gente já detém o conhecimento de que o agrotóxico é muito nocivo para a saúde do ser humano”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de agrotóxicos é responsável por 20 mil mortes por ano. Desde 2008 o Brasil é o maior usuário destes produtos agroquímicos, em decorrência do desenvolvimento do agronegócio, que faz uso, em larga escala, de agrotóxicos já proibidos em outros países, a exemplo do glifosato.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) publicou em 2015 o documento técnico informando o público a respeito do uso de agrotóxicos, que ressalta os riscos destes pesticidas para a saúde. No documento o Inca afirma que, dentre os efeitos associados à exposição de agrotóxicos podem ser citados, além do câncer, infertilidade, impotência, abortos, malformações fetais, neurotoxicidade, desregulação hormonal e consequências sobre o sistema imunológico.
Nesse sentido, a utilização de agrotóxicos afeta drasticamente as relações naturais de equilíbrio estabelecidas no meio ambiente, e elimina diversas formas de vida animal e vegetal. Enquanto a agricultura orgânica, ao contrário, incentiva essas relações e provoca um acréscimo na biodiversidade das regiões onde é implantada.
O consumo de alimentos orgânicos está diretamente ligado à conservação da integridade física e à preservação da natureza. “Alimentação é uma escolha política. Nesse contexto, é muito mais virtuoso investir na saúde, do que na doença”, encerra Nilo.

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