da Redação
As políticas públicas estão longe de resolver as demandas de fomento do segmento agrofamiliar brasileiro; fintechs voltadas ao agro, inovações em carteiras de crédito e ativos agroecológicos são atrativos para investidores privados
Existem movimentos da economia que se sobrepõem aos aspectos ideológicos e de políticas públicas dos governos, das metas do Banco Central e bancos de desenvolvimento. Eles ocorrem a partir do desgaste de modelos econômicos, novas oportunidades de alto retorno do investimento e também por inovações tecnológicas. Este pacote é capaz de mudar paradigmas.
Como o financiamento público do segmento agrofamiliar, uma bandeira histórica do setor. Pois, criou-se um conceito de assistencialismo para os setores mais vulneráveis, e acabam se confundindo com políticas de crédito de baixo valor, o que ocorre frequentemente com o Pronaf, nosso principal programa de crédito agrícola, fazendo com que o pequeno agricultor muitas vezes saia do banco deixando parte do dinheiro que emprestou em taxas e custos, já pensando em uma nova dívida.
Projetos de financiamento da produção com valores maiores têm mais chances de sucesso. Porém, para as demandas por valores mais baixos de financiamento, como o Pronaf B até 5 mil reais, os agricultores ainda sofrem com as exigências e excessos de burocracia, e taxas de mercado, excesso de burocraciamesmo que menores que os bancos privados.
Os recursos que fomentam os setores do agronegócio, agrofamiliar e todos os outros setores da economia, provêm do BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, e que segue orientações da autoridade econômica do país, o que inviabiliza novos recursos em função de ajustes fiscais, causando variações nas políticas de crédito, tanto das carteiras, como nos processos de aquisição de financiamentos.
Outra alternativa é olharmos para os grandes bancos privados. Mas quando nos deparamos com suas carteiras de crédito para o setor rural, vemos um esvaziamento total. Em recente demonstração de resultados do Banco Itaú, vemos a carteira de crédito rural literalmente vazia, sem movimentação.
Em resumo: os bancos comerciais e múltiplos têm custos operacionais muito altos, suas taxas são maiores, então, o agricultor e o banco não estabelecem vínculos. E os bancos públicos seguem cumprindo o papel de única alternativa de financiamento, seja para produção, habitação ou aquisição de terras.
Bancos digitais, empreendedorismo e educação financeira são nas novas armas dos pequenos agricultores
No entendimento de Carlos Lopes, presidente da CONAFER, “é na visão inovadora e empreendedora dos agricultores familiares que está a saída para o fomento do setor. Temos buscado estes recursos como correspondentes legais do Banco do Brasil, por meio de outros bancos públicos regionais, como o Banco do Nordeste, mas não temos dúvidas do caminho inevitável dos investimentos privados migrarem em direção ao nosso segmento, seja com fintechs ou
diretamente com os investidores privados. Os ativos e demandas agrofamiliares não são nada desprezíveis”.
No último dia 16 de abril, o Mapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez reunião virtual com entidades da agricultura familiar e investidores privados, exatamente para debater propostas de inovação nas áreas de crédito, seguro, logística e comercialização voltadas à agricultura familiar. Em breve, serão anunciadas as primeiras operações-piloto de financiamento para a agricultura familiar com recursos 100% privados.
A ministra Tereza Cristina defende que a tecnologia proporcionou o aumento da produtividade da agropecuária, e que agora chegou a vez do mesmo acontecer nas finanças e na governança dos empreendimentos rurais.
Nas palavras da ministra, “temos uma agricultura de ponta e precisamos que as finanças acompanhem esse ritmo. Para isso contamos com soluções como as que as startups e agrofintechs estão desenvolvendo. Nosso foco é melhorar o ambiente de negócios e ver nosso agro acontecer na sua plenitude aproveitando-se plenamente seu potencial”.
O fato é que há no horizonte próximo uma mudança, ainda que latente, na atração de recursos privados para financiar os projetos produtivos da agricultura familiar. Ao contrário das grandes empresas do agronegócio que tratam seus investimentos seguindo orientação dos acionistas e critérios de mercado, atingindo altos índices de retorno, nossos agricultores familiares encaram cada financiamento como um projeto de vida.
Carlos Lopes finaliza: “cabe às entidades do setor, criar e oferecer novas possibilidades de chegada de recursos financeiros às suas bases, construir esta ponte entre o privado e os agricultores. A CONAFER tem investido em sua plataforma digital, desenvolve a criação e implantação de produtos financeiros voltados aos seus associados e estimula o empreendedorismo rural, sempre com a ideia da inovação pela tecnologia e organização coletiva para levar crédito e crescimento aos produtores agrofamiliares. O financiamento privado da agricultura familiar é um caminho sem volta.”