Nos dias 11, 12 e 13 de abril, a CONAFER realizou a final do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena, com o apoio do Terra Bank, da Confederação dos Povos Originários das Américas, COPOA, e da União Nacional Indígena, a UNI. Provando que não é só futebol, o Estádio Valmir Campelo Bezerra, popularmente conhecido como Estádio Bezerrão, foi palco de uma grande festa dos povos indígenas pela disputa do título nacional. O evento valorizou a cultura, a tradição e a união dos povos originários. O mesmo campo que recebeu as equipes campeãs regionais Brejão de Nioaque (Centro-Oeste), Seleção Pataxó Coroa Vermelha (Nordeste), Seleção Pataxó Imbiruçu (Sudeste), Terra Indígena Ivaí (Sul) e Seleção Hunikuin (Norte), também se transformou em um grande espaço para a dança do bate-pau e do toré, rituais sagrados que unem dança, tradição, música, religiosidade e brincadeira para os povos indígenas. Nos vestiários, os jogadores se prepararam com cantos tradicionais das próprias aldeias, com seus cocares e maracás como amuleto da sorte. Na área reservada para os eventos, houve apresentação de capoeira, artesanato e pintura indígena para os torcedores, que vibraram a cada gol ao som do bordão que marcou a competição nas 5 regiões do Brasil: “tá no balaio!”. Até na hora da hidratação dos jogos a tradição se fez presente, com direito a tereré, a bebida energizante e refrescante culturalmente consumida pelos povos originários do Mato Grosso do Sul, lar do povo Terena do Brejão de Nioaque, o campeão do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena
No dia 11 de abril, os times vencedores regionais formados pelos povos Terena, Pataxó, Kaingang e Hunikuin realizaram uma grande abertura da final do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena. Antes do início dos jogos decisivos, o campo do Estádio Bezerrão foi palco da dança do bate-pau, tradicional do povo indígena Terena. Esta dança remete a uma batalha ritual entre dois grupos. Cada participante segura um bastão, com o qual simula ataques e defesas. Durante a encenação, o choque entre os paus gera uma sonoridade característica, que marca o compasso das sequências da dança indígena.

Time Brejão de Nioaque, do povo Terena do Mato Grosso do Sul, faz a dança do bate-pau na abertura do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena – Foto: CONAFER
A abertura do Campeonato também contou com apresentações dos times Seleção Pataxó Coroa Vermelha, Seleção Pataxó Imbiruçu, Seleção Hunikuin e Terra Indígena Ivaí com o toré, uma importante manifestação cultural que simboliza a união e a força coletiva dos povos indígenas. Realizado em forma de dança circular, o toré é acompanhado por cantos e instrumentos tradicionais, como o maracá, reforçando os laços comunitários e a conexão espiritual com a ancestralidade. O momento simbólico foi uma demonstração a céu aberto da cultura indígena para os torcedores que acompanharam tudo pelas arquibancadas e pela transmissão ao vivo da TV CONAFER, no YouTube.

Time Seleção Pataxó Coroa Vermelha, do povo Pataxó da Bahia, dança toré indígena na abertura do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena – Foto: CONAFER

Time Seleção Pataxó Imbiruçu, do povo Pataxó de Minas Gerais, dança toré indígena na abertura do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena – Foto: CONAFER

Time Seleção Hunikuin, do povo Hunikuin do Acre, dança toré indígena na abertura do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena – Foto: CONAFER

Time Terra Indígena Ivaí, do povo Kaingang do Paraná, dança toré indígena na abertura do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena – Foto: CONAFER
Mas a dança e os cantos tradicionais indígenas também fizeram parte de outros momentos do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena. Nos dia 12 e 13 de abril, entre as estruturas do Estádio Bezerrão, próximo à entrada das arquibancadas, os povos indígenas fizeram apresentações de capoeira, por exemplo, em uma integração sincrética típica da cultura popular brasileira. Com o uso de instrumentos tradicionais, como o maracá, cânticos em línguas nativas, e movimentos inspirados em danças ou jogos corporais típicos de cada povo, a capoeira indígena tem um sentido mais coletivo, simbólico e espiritual, sendo menos voltada à performance e mais à conexão com a ancestralidade e à expressão cultural do grupo. É, acima de tudo, uma forma de reafirmar a presença indígena na formação cultural do Brasil.


Fotos: CONAFER
Antes dos jogos da grande final do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena, os torcedores tiveram momentos imersivos na cultura dos povos originários. Todos tiveram a oportunidade de conhecer os colares, pulseiras, brincos, maracás e outros objetos feitos do artesanato indígena. Além disso, um dos estandes da CONAFER estava fazendo pinturas corporais com grafismo indígena, caracterizando a torcida para a disputa entre os 5 times campeões regionais.


Fotos: CONAFER
Após o som do apito com a autorização do juiz, a bola começou a rolar no gramado, unindo os povos indígenas de todo o país para jogarem futebol, um esporte que também é tradicionalmente praticado nas aldeias. Agora, a torcida preparada vibrou com cada gol, acompanhou o placar com emoção e reagiu intensamente a cada lance: fosse uma falta marcada, um pênalti disputado ou uma jogada de habilidade. As partidas foram mais do que uma competição, foram momentos de celebração, sentimento e integração entre os povos.

Foto: CONAFER
O 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena foi muito mais do que uma competição esportiva, foi uma grande celebração da identidade e da diversidade dos povos originários do Brasil. Ao reunir diferentes etnias em um mesmo campo, o evento promoveu não apenas o futebol, mas também a valorização das expressões culturais indígenas, como a dança do bate-pau, o toré, a capoeira, o artesanato e os cantos tradicionais. Cada momento, dentro e fora das quatro linhas, foi marcado pela força das raízes, pela espiritualidade e pelo orgulho ancestral, reafirmando que a cultura indígena segue viva, resistente e em constante movimento.

Foto: CONAFER
O momento mais emblemático da final deste Campeonato, foi a entrega do Troféu Galdino Pataxó Hã-hã-hãe Kariri-Sapuyá, que homenageou Galdino Jesus dos Santos, um defensor incansável dos povos originários que foi brutalmente assassinado enquanto dormia em uma parada de ônibus, em Brasília, no dia 19 de abril de 1997, data em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas. A taça de ouro do 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena foi entregue para a família de Galdino, um momento emocionante para a irmã, a filha, as netas e sobrinhos de Galdino Pataxó Hã-hã-hãe. A homenagem reforçou o compromisso da CONAFER com a memória e a luta dos que vieram antes, e transformou a cerimônia de premiação em um ato simbólico de justiça, respeito e resistência.

Família de Galdino recebe troféu Galdino Pataxó Hã-hã-hãe da nação Kariri-Sapuyá – Foto: Reprodução/CONAFER
No apito final, ficou claro que este Campeonato entrou para a história como um verdadeiro golaço da cultura indígena. Mais do que levantar taças, os jogadores mostraram que o futebol também pode ser território de memória, resistência e ancestralidade. Com a bola nos pés e as raízes no coração, os povos originários deram um show dentro e fora de campo, promovendo não só o esporte, mas também a valorização de suas tradições, identidade e união. O 1° Campeonato Nacional de Futebol Indígena terminou, mas o legado dessa partida continua em jogo.













