O Brasil, maior exportador de carne de frango do mundo, representando cerca de 35% do comércio global, enfrenta atualmente um dos maiores desafios sanitários de sua história recente: a confirmação de um foco de gripe aviária em plantel comercial, no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, no dia 15 de maio. Desde então, 24 países ou blocos comerciais suspenderam totalmente a importação de carne de aves do Brasil, e outros 13 adotaram restrições ao produto proveniente do estado afetado. A medida teve impactos significativos em um setor que movimentou 5,2 milhões de toneladas em exportações e gerou uma receita de US$ 9,9 bilhões somente em 2024. Diante desse cenário, mais do que acompanhar o impacto econômico e político das negociações com os países importadores, é fundamental que a sociedade esteja atenta à natureza da doença envolvida: a influenza aviária, popularmente conhecida como gripe aviária
A gripe aviária é uma doença causada por vírus da família Orthomyxoviridae, sendo o subtipo A(H5N1) um dos mais conhecidos. Esses vírus afetam principalmente aves domésticas e silvestres, mas também já foram detectados em mamíferos — incluindo casos recentes em bovinos. Embora a transmissão para seres humanos seja rara, não é impossível. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades sanitárias brasileiras recomendam atenção e vigilância constante.
Ave passando por exame para diagnosticar gripe aviária (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
A desinformação pode causar pânico desnecessário ou, ao contrário, levar à negligência de medidas importantes de prevenção. É essencial entender que a gripe aviária não se transmite pelo consumo de carne de frango ou ovos devidamente cozidos. O contágio humano, quando ocorre, está geralmente ligado ao contato direto com aves doentes ou ambientes contaminados. A população deve ficar atenta a recomendações das autoridades sanitárias e manter boas práticas de higiene. Isso inclui:
- Evitar contato com aves silvestres ou domésticas doentes;
- Notificar órgãos de controle sanitário ao identificar animais com sintomas;
- Consumir apenas produtos de origem animal devidamente inspecionados e preparados.
Medidas adotadas pelo Brasil
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) já iniciou negociações com os 24 países que suspenderam as importações, buscando flexibilizar as restrições impostas. Além disso, protocolos sanitários acordados com os países importadores estão sendo seguidos à risca. O foco segue restrito ao estado do Rio Grande do Sul — terceiro maior produtor de frango do país — e medidas de controle foram adotadas em um raio de 10 km ao redor do local afetado. Apesar das restrições temporárias, 128 dos 160 mercados internacionais para carne de frango brasileira continuam abertos e sem restrições. As autoridades reforçam que o episódio está sendo tratado com transparência e rigor técnico.
Galinha doméstica de Angélica-MS, a 270 quilômetros de Campo, está com suspeita de gripe aviária. (Foto: Marcos Maluf)
O papel da sociedade
É importante que a população esteja bem informada para colaborar com a contenção da doença e evitar sua disseminação. A informação é uma das principais armas contra surtos sanitários. O acesso a fontes confiáveis e a adoção de medidas simples podem fazer a diferença entre uma crise controlada e um problema de proporções maiores. Em um mundo cada vez mais globalizado, a saúde animal e humana estão interligadas — conceito conhecido como “Saúde Única” – (em inglês, “One Health”) é uma abordagem integrada que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. Este conceito visa abordar desafios de saúde complexos que transcendem fronteiras nacionais, buscando soluções conjuntas que envolvam diferentes áreas do conhecimento. Portanto, conhecer e entender doenças como a gripe aviária é não apenas uma responsabilidade do setor produtivo e das autoridades, mas de todos nós.
Países que suspenderam a importação total de aves do Brasil:
- Albânia
- Angola (somente do Rio Grande do Sul)
- Argentina
- China
- Chile
- Coreia do Sul
- Canadá
- Filipinas
- Iraque
- Índia
- Jordânia
- Malásia
- Marrocos
- México
- Namíbia
- Paquistão
- Peru
- República Dominicana
- Sri Lanka
- Timor-Leste
- União Europeia
- Uruguai
Observação: a restrição para o Rio Grande do Sul, devido a um surto de gripe aviária, afeta também outros países além de Angola, como Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão, Ucrânia, Rússia, Bielorrússia, Armênia e Quirguistão.
O volume total das exportações de frango do Brasil em 2024 foi de 5,2 milhões de toneladas, com receita de US$ 9,9 bilhões
O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, representando cerca de 35% do comércio global. As exportações brasileiras são dirigidas a 160 países. Embora o foco atual esteja restrito ao Rio Grande do Sul — o terceiro maior produtor de frango do país —, as consequências já são significativas. Japão, União Europeia, Coreia do Sul e China foram os primeiros blocos que impuseram restrições às importações de carne de frango brasileira. Em particular, a União Europeia suspendeu completamente a certificação sanitária para qualquer carne de frango vinda do Brasil, proibindo sua entrada em território europeu.
