Foto: Raquel Aviani/Secom UnB
Neste sábado, 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. A data surgiu da luta das mulheres por melhores condições de trabalho, igualdade de direitos e respeito. Em 1975, a Organização das Nações Unidas, ONU, oficializou o 8 de março como um dia de reconhecimento da luta das mulheres, que continua até hoje. Por outro lado, o Dia Internacional da Mulher também é uma oportunidade de reconhecer a força e a resistência que personalidades femininas representam para a sociedade, principalmente na luta a favor das minorias. Pensando nisso, lembramos de 5 mulheres reconhecidas pela defesa dos direitos indígenas no Brasil: Eunice Paiva, Célia Xakriabá, Sônia Guajajara, Joênia Wapichana e Txai Suruí
Ao longo da história, mulheres como Eunice Paiva, Célia Xakriabá, Sônia Guajajara, Joênia Wapichana e Txai Suruí ganharam destaque por atuarem na luta pela preservação das terras, culturas e identidades dos povos indígenas de todo o país. Essas líderes e ativistas se destacam pela coragem e compromisso com a justiça social, enfrentando desafios em um cenário de desigualdade e discriminação. Elas são muito importantes para a resistência e o fortalecimento dos movimentos indígenas, defendendo não só os direitos territoriais, mas também a valorização da sabedoria ancestral e a garantia de um futuro digno para as aldeias. O Dia das Mulheres é uma oportunidade para reconhecer a importância das contribuições destas mulheres inspiradoras.

Em 2023, 6 mil mulheres indígenas marcharam em Brasília pelo fim da violência contra elas e pela demarcação de seus territórios – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Eunice Paiva
A história de Eunice Paiva inspirou o filme “Ainda estou aqui”, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. Interpretada por Fernanda Torres, a advogada brasileira Eunice Paiva (1929-2018), que ganhou destaque global com o sucesso do filme, é frequentemente lembrada pela luta incansável pelo reconhecimento do assassinato de seu marido, o deputado federal Rubens Paiva, desaparecido e morto pela ditadura militar em 1971. Por outro lado, uma parte igualmente relevante da carreira de Eunice foi a atuação na defesa dos povos indígenas do Brasil.
Eunice era uma das poucas profissionais que atuava com demarcações de terras indígenas e contribuiu para a luta dos direitos dos povos originários com artigos e ONGs, além de ter ajudado na formulação do artigo 231 da Constituição Federal, que estabelece que os indígenas têm direito à posse permanente das terras que tradicionalmente ocupam. Em 1983, a advogada Eunice, juntamente com a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, assinou o artigo “Defendam os Pataxós”, publicado na Folha de São Paulo e considerado um marco na luta indígena brasileira.

Foto: Reprodução
Célia Xakriabá
Célia Nunes Correa, também conhecida como Célia Xakriabá, é uma deputada federal e a primeira indígena a assumir a presidência de uma comissão no Congresso. Ela tem se destacado na luta contra o marco temporal, uma tese inconstitucional que defende que os povos originários só têm direito às terras que estavam sob sua posse desde a promulgação da Constituição de 1988. Xakriabá participou de 80% das audiências de conciliação do STF sobre as demarcações de terras indígenas e se tornou uma das vozes mais fortes nesse debate, argumentando que o marco temporal ignora a realidade histórica e a luta dos povos indígenas por seus territórios, que muitas vezes foram invadidos, saqueados ou proibidos de habitar antes mesmo da Constituição.
Em sua atuação, Célia Xakriabá utiliza de sua visibilidade como liderança indígena para conscientizar a sociedade e as instituições sobre os impactos devastadores do marco temporal para as comunidades indígenas e também para destacar o caráter fundamental da terra na preservação das culturas, tradições e modos de vida desses povos. Célia tem atuado no Congresso Nacional, nos tribunais e nas ruas, denunciando crimes ambientais, como a mineração em territórios indígenas, por exemplo. Sua voz e liderança representam uma resistência contínua à marginalização dos povos indígenas e à busca por justiça.

Foto: Pablo Valadares/Ag. Câmara
Sônia Guajajara
Sônia Bone de Sousa Silva Santos, conhecida como Sônia Guajajara, é a ministra dos Povos Indígenas do Brasil e a primeira mulher indígena a ocupar um cargo ministerial no país. Sônia Guajajara é uma das mais importantes lideranças indígenas e uma defensora dos direitos dos povos originários e da preservação do meio ambiente. Ela pertence ao povo Guajajara, do Maranhão, e sua trajetória como ativista é marcada por sua luta pela demarcação de terras indígenas e pelo respeito às culturas tradicionais. Sônia tem sido uma voz forte contra a inconstitucionalidade do marco temporal, o avanço do garimpo, o desmatamento e outros projetos que ameaçam os territórios indígenas e a natureza.
Em 2019, Guajajara liderou a Jornada Sangue Indígena Nenhuma Gota a Menos, que percorreu o Brasil e mais 12 países europeus para denunciar o desmonte dos direitos indígenas. Por sua luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, ela foi eleita pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Foto: Christian Braga
Joênia Wapichana
Joênia Batista de Carvalho, mais conhecida como Joênia Wapichana, é advogada e foi a primeira mulher indígena deputada federal no Brasil. Joênia foi a primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, conquistando esse marco histórico em 2006. Sua formação acadêmica e experiência profissional a tornaram uma referência na luta jurídica pela demarcação de terras indígenas, pela proteção ambiental e pelo fortalecimento das políticas públicas voltadas para os povos indígenas. Em 2018, Joênia Wapichana foi eleita deputada federal por Roraima, tornando-se a primeira mulher indígena a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Sua luta é especialmente focada no combate a projetos e políticas que buscam reduzir ou enfraquecer os direitos indígenas, como a proposta inconstitucional do marco temporal. Em sua atuação como deputada, Joênia defendeu a implementação de políticas públicas que beneficiem as comunidades indígenas, com foco na saúde, educação e desenvolvimento sustentável. Além disso, ela tem trabalhado para aumentar a visibilidade das mulheres indígenas no cenário político e social, buscando garantir a igualdade de direitos e o empoderamento das mulheres dentro das suas próprias comunidades e na sociedade.

Foto: Reprodução/Câmara Federal
Txai Suruí
Walelasoetxeige Paiter Suruí, mais conhecida como Txai Suruí, é uma jovem ativista indígena do povo Paiter Suruí, que ganhou destaque internacional por ser a única brasileira a discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima, a COP 26, em Glasgow, na Escócia, onde falou sobre a preservação ambiental e os direitos dos povos indígenas. Diante de representantes do mundo inteiro, Txai Suruí expôs o avanço da mudança climática na Amazônia. Txai também é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, já liderou manifestações políticas e também denunciou o avanço de crimes ambientais sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia.
O discurso poderoso de Txai sobre a destruição da Amazônia e a necessidade urgente de ações para enfrentar as mudanças climáticas é fruto de sua trajetória, em que teve contato com o ativismo desde o berço com o exemplo de sua mãe, Neidinha, veterana na luta dos indígenas por igualdade. Além de sua atuação no campo ambiental, Txai Suruí também é defensora da demarcação das terras indígenas e do fortalecimento da autonomia das comunidades indígenas.

Foto: Karwai Tang/ UK Government/Reprodução
Eunice Paiva, Célia Xakriabá, Sônia Guajajara, Joênia Wapichana e Txai Suruí foram mulheres responsáveis por fortalecer a luta dos povos originários. Ao apoiar as comunidades indígenas, de forma permanente, a CONAFER, por meio da Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social, a SEPOCS, reforça o mesmo propósito com ações sociais e educativas nas aldeias, debates que conscientizam os indígenas sobre os seus direitos e apoio jurídico como associados agrofamiliares. Além disso, a Confederação defende o marco ancestral contra a inconstitucionalidade do marco temporal, promovendo as causas indígenas por meio de reportagens, publicadas no site e no YouTube TV CONAFER.
A luta destas 5 mulheres na defesa dos indígenas e o compromisso da CONAFER em apoiar as aldeias de todo o país estão conectados aos mesmos objetivos: fortalecer a autonomia dos povos originários, a luta pelo direito à demarcação das terras indígenas e garantir uma vida digna nas comunidades tradicionais. A Confederação, ao atender mais de 114 mil famílias indígenas, em todas as regiões do Brasil, só pode reconhecer nas mulheres uma inspiração para seguir em sua missão.