Os jovens Samuel Cristiano do Amor Divino, do povo pataxó, Aldeia Boca da Mata, de Porto Seguro-BA, e Nawy Brito de Jesus, do povo pataxó, da Aldeia Craveiros, de Prado-BA, foram mortos a tiros por pistoleiros no dia de ontem em Itabela-BA. Uma semana antes, no último dia 9, dois indígenas guajajara foram alvejados quando caminhavam perto de suas casas, próximo ao município de Arame, no Maranhão, na Terra Indígena Arariboia. Nos últimos 4 meses, três outros indígenas guajajara foram covardemente assassinados na mesma região. O que se passa no Brasil é uma sequência de crimes de invasores de terras indígenas, que lamentavelmente permanecem impunes há décadas. Seus pistoleiros agem à luz do dia ou na calada da noite, e seguem matando covardemente jovens pataxó, guajajara, yanomami, xavante, indígenas de todas as etnias que lutam por seus territórios originais. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, lamentou o assassinato dos jovens pataxó e prometeu acompanhar de perto a violência que vem acontecendo no local, informando que pediu o envio da Força Nacional à região de conflito

Samuel Cristiano do Amor Divino, 25 anos, e Nawy Brito de Jesus, 16 anos, foram alvejados pelas costas enquanto trafegavam de moto no povoado de Montinho, em Itabela. Os tiros foram efetuados por homens em uma moto. O caso é investigado pela Delegacia Territorial de Itabela.

Samuel Cristiano do Amor Divino, 25 anos, e Nawy Brito de Jesus, 16 anos, foram alvejados pelas costas enquanto trafegavam de moto no povoado de Montinho, em Itabela-BA

De acordo com a polícia, os indígenas foram atingidos pelos tiros por volta das 17h, no km 787, quando se deslocavam do povoado de Montinho para uma das fazendas ocupadas em um  processo de retomada feito pelos povos Pataxó da região do extremo sul baiano. Após o assassinato, os indígenas fizeram uma manifestação na BR-101, que ficou interditada por cerca de três horas, entre 19h e 22h.

Os indígenas, da Aldeia Indígena Pataxó Boca da Mata e Aldeia Indígena Pataxó Craveiro, foram assassinados na entrada da Fazenda Condessa, uma das retomadas do Povo Pataxó, no Território Indígena Barra Velha, município de Porto Seguro-BA. Nas últimas semanas, lideranças indígenas vêm denunciando às autoridades, a presença de um grupo de pistoleiros da Fazenda Brasília, de propriedade de um homem conhecido por Gaúcho. Virou rotina pistoleiros fortemente armados realizarem ataques a tiros às comunidade indígenas, sempre com arma de grosso calibre, deixando muitas casas totalmente perfuradas a balas. 

Esta situação dramática de violência e ataques contra os indígenas, foram relatadas às autoridades federais e estaduais, Ministérios dos Povos Indígenas e Presidência da FUNAI, Governadoria do Estado da Bahia, Secretaria Estadual de Segurança Pública do Estado da Bahia, Secretaria Estadual da Justiça do Estado da Bahia, Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Povos e Comunidades Tradicionais e Superintendência Estadual dos Povos Indígenas da Bahia. 

Mesmo na iminência de ocorrer tal fatalidade, nada foi feito e providências não foram tomadas para conter as ameaças, muito menos medidas e operações policiais para o desarmamento e prisão de pistoleiros e milícias instaladas nos territórios indígenas. A Polícia Militar do Estado da Bahia, não tem efetivo e nem viaturas para cobrir cerca de 20 localidades retomadas, espalhadas em quatro municípios, Prado, Itamarajú, Porto Seguro e Itabela. O Povo Pataxó, clama por medidas urgentes, pela intervenção da Polícia Federal e Força Nacional, no objetivo de conter a violência e assassinatos de indígenas.

Os indígenas constantemente realizam protestos em Brasília na luta por seus direitos

O Povo Pataxó, por meio das suas comunidades indígenas e iniciativas próprias, realiza retomadas em processos de Autodemarcação. No ano de 2009, em publicação no Diário Oficial do Estado e União do RCID, Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação Territorial, um estudo técnico antropológico realizado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a FUNAI, aprovou a identificação e delimitação da Terra Indígena Pataxó Barra Velha, área localizada geograficamente, nos municípios de Porto Seguro, Prado e Itamarajú/BA. Nos últimos 4 anos todos os processos de demarcação e regularização de terras indígenas, foram suspensos, trazendo grandes prejuízos e violação dos direitos indígenas no Brasil. 

Ministério dos Povos Indígenas tem agenda com lideranças indígenas do Extremo Sul da Bahia

Um dia após os assassinatos, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pediu o envio da Força Nacional ao local. “Ontem perdemos dois jovens Pataxó em virtude de conflito por terra e luta por demarcação. A minha primeira agenda do dia será com lideranças indígenas do Extremo Sul da Bahia. 

Um dia após os assassinatos, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pediu o envio da Força Nacional ao local

‘’Acompanharei de perto o que vem acontecendo na região e irei requisitar ação imediata do Estado”, escreveu a ministra, que ainda afirmou que a execução dos dois indígenas não ficará impune. “Requisitarei ações revigoradas do Estado para trazer justiça ao povo Pataxó pela morte desses dois jovens. Não haverá impunidade”, escreveu.

A ministra já havia se manifestado sobre o caso na noite de terça-feira, durante o protesto de um grupo de indígenas que fechou a BR-101 logo após o crime. “Acionei o Ministério da Justiça para enviar a Força Nacional ao local que está com a BR-101 interditada por indígenas Pataxó, protestando contra estes cruéis assassinatos dos jovens Samuel Cristiano 25 anos e Nawi Brito 16 anos. O Território Barra Velha aguarda a Portaria declaratória”, destacou. Ela disse que a “violência autorizada nos últimos anos, por meio do forte armamento, segue matando” e que “a situação no Extremo Sul da Bahia está cada dia pior”.

A presidenta substituta da FUNAI, agora Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Maria Janete Albuquerque de Carvalho, encaminhou ofício, na noite de terça-feira (17) solicitando ao Ministério Público Federal que investigue e apure a dupla execução de indígenas da etnia pataxó. O crime ocorreu em frente a uma das fazendas ocupadas por 19 comunidades pataxó há cerca de um ano. Os indígenas reivindicam a homologação da área de quase dois mil hectares, que fica entre os municípios de Porto Seguro e Prado.

“Considerando o contexto de contínuas violências contra os direitos indígenas, registramos a necessidade de investigação e apuração dos assassinatos e respectivos mandantes, visando evitar mais violências contra os povos indígenas daquela região”, diz o ofício, endereçado ao procurador da República José Gladston Viana Correia. A FUNAI informou que também irá solicitar à Polícia Federal providências sobre a região.

Com informações do Radar News.

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