O 1º Encontro Nacional de Professores Indígenas foi um sucesso de público e propostas de docentes de 54 etnias de territórios de todo o Brasil. Com o encerramento neste último final de semana, projeta-se agora o próximo MEL. Pelo menos este é o desejo de todos que estiveram reunidos durante uma semana na Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro-BA, aldeia anfitriã do encontro. Idealizado e organizado pela CONAFER, o Mais Educação Livre foi além das expectativas, pois a cada testemunho e apresentação de um professor, novos ensinamentos e experiências foram se acumulando. Esta massa de informação vai ser agora apresentada em forma de um documento para registrar este momento histórico na educação indígena do país
Para a professora indígena Luciana Kanela, de Luciara, região do Araguaia, em Mato Grosso, “o MEL é tudo o que a gente estava esperando no momento. É uma luta que a gente está tendo lá na escola, porque está tendo muita resistência do Estado em relação a isso. Então, o projeto MEL é um Norte para dar continuidade no nosso trabalho, para que a gente saia desse paradigma, dessa educação voltada toda para os alunos não indígenas. E a gente está sofrendo muito com isso nessa questão. Então, nós teremos que implantar a nossa grade curricular de acordo com a nossa cultura, com a nossa etnia, para que os nossos alunos cresçam sem desviar, dentro da cultura para levar isso mais adiante.”
A professora indígena Luciana Kanela, de Luciara, região do Araguaia, no Mato Grosso
Nitinawã Pataxó, uma das fundadoras da Reserva da Jaqueira, é escritora, pedagoga e também professora de alunos indígenas de Porto Seguro, ao ser indagada sobre sua experiência com MEL, fez uma declaração de apoio ao projeto: “olha, este momento nós sabemos que é um momento histórico para nós, de grande importância. Eu quero parabenizar com fé por este grande encontro com o povo originário do Brasil. E o que nós já fazemos aqui no nosso cotidiano? Essa educação diferenciada ao qual a gente já trabalha na Aldeia da Jaqueira, além de ser uma aldeia, ela também é uma universidade para nós, porque aqui nós já formamos educadores, gestores, nossos jovens, nossas lideranças. Tudo tem a formação aqui no conhecimento tradicional. Claro que eles saem para poder buscar o conhecimento científico, agregando a esses valores tradicionais. Então, esse encontro é de muita importância não só para nós, Pataxó, mas para nosso povo originário. E eu levo para mim essa grande experiência de pensar num futuro melhor para nossas futuras gerações. Eu quero agradecer mais uma vez a todos vocês, meu muito obrigada. E eu creio que isso aqui foi uma aprendizagem muito grande, não só pra mim, mas para todo o povo que está aqui.”
Nitinawã Pataxó, uma das fundadoras da Reserva da Jaqueira, é escritora, pedagoga e também professora de alunos indígenas de Porto Seguro
Enoque Pereira Ugarte, da etnia Yanomami, é professor na cidade de Barcelos, no Amazonas, e falou da sua experiência no Mais Educação Livre: “muito gratificante este momento, com todos os professores indígenas aqui envolvidos, várias pessoas, vários indígenas de várias regiões aqui, todos juntos em um único local, trocando experiências. Está sendo muito gratificante. Agradeço especialmente ao pessoal da coordenação de Barcelos, da SEMED, que nos ajudou juntamente com o pessoal aqui também da coordenação aqui de Porto Seguro, junto com a fé. E está sendo incrível, um aprendizado muito grande. Com certeza eu vou levar muita coisa para minha comunidade e passar com os meus alunos e os moradores de lá, aprender e conhecer outras etnias, outros parentes que também estão lutando por uma educação melhor para as suas aldeias está sendo maravilhoso. É uma experiência ótima estar aqui com todos eles, com todos. São todas pessoas maravilhosas, todos trocando experiências. A diversidade de culturas, pinturas corporais e tradições são tão variadas, e eu não imaginava nem um momento da minha vida estar aqui reunido com todas essas pessoas. E eu agradeço a todos por estar aqui.”
Enoque Pereira Ugarte, da etnia Yanomami, é professor na cidade de Barcelos, no Amazonas
O cacique Pedro Kanela, do Araguaia, Mato Grosso, também falou da sua experiência no 1º Encontro Nacional de Professores Indígenas: “eu sou Pedro, o cacique do povo Kanela do Araguaia, Aldeia Nova Pakaru, no município de Luciara, Mato Grosso, onde nós estamos em processo de retomada com o território em terras frias, terras que é de interesse, de proteção e conservação e é o nosso espaço de sobrevivência. Mas estar aqui nesse espaço, discutindo um espaço da importância que é para nós, representa, porque aqui chegaram aqueles que vieram, o desconhecido e nos dominaram. Mas com toda a dominância que teve, a gente resistiu. E aqui estamos. E aqui em Porto Seguro, assim como chegaram aqui em Porto Seguro, também a gente nesse encontro promovido pela CONAFER, traz um novo recomeço, uma nova expectativa para o nosso povo Kanela do Araguaia, para todos os povos do Brasil. Porque nós, povos do Brasil, povos originários. Estamos aqui com mais de 50 etnias e conhecemos pessoas diferentes, isso nos traz uma esperança, uma perspectiva.”
O cacique Pedro do povo Kanela, no Araguaia, Aldeia Nova Pakaru, no município de Luciara, Mato Grosso
O local para iniciar uma revolução no ensino indígena no país não poderia ser mais inspirador: exatamente onde houve a invasão europeia em 1500. Promovido pela CONAFER, o evento Mais Educação Livre (MEL) teve a presença de delegações de professores indígenas de territórios de todo o Brasil. Foi um encontro único, sem similar na história da educação dos povos originários. O local escolhido foi a Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro-BA, a aldeia anfitriã dos mestres de 54 etnias participantes do MEL. Durante uma semana, todos apresentaram as suas experiências didáticas, com oficinas para práticas de ensino, produções literárias e propostas pedagógicas para a criação de um documento que contemple uma renovação no ensino indígena brasileiro, única forma de educar as novas gerações nos valores originários, promover a autonomia dos povos, alfabetizar na língua indígena e de contar a história verdadeira que os livros oficiais não revelam.