À medida que o MEL avança, mais enriquecedora é a sua dinâmica. As experiências dos professores Yanomamis do Amazonas, somam-se aos saberes dos docentes Kaingangs do Rio Grande do Sul, com as histórias dos educadores Xavantes do Mato Grosso, e também com as conquistas dos mestres Pataxós da Bahia, gerando um volume de trocas de informações e aprofundamentos pedagógicos sem similar na história do ensino indígena brasileiro. É neste fórum de debates e trocas de conhecimentos que o ensino originário ganha força para ser transformador nas aldeias e revolucionário nas propostas, nas ações que virão e na materialização de avanços reais para as novas gerações dos povos indígenas brasileiros.

O Mais Educação Livre (MEL) surpreende a cada nova apresentação de um professor indígena, seja qual for o seu território. Os professores representantes de 54 etnias do Brasil, todos presentes na Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro-BA, a aldeia anfitriã dos mestres de 50 etnias participantes do MEL, vêm testemunhando um evento sem similar no gênero. As experiências didáticas são e as práticas de ensino são reveladoras de um universo ainda desconhecido pelos educadores brasileiros, indígenas e não indígenas.

Professora Daniela Kaingang (à esquerda), da Terra Indígena do Guarita, maior território indígena do Rio Grande do Sul, e Aline de Vargas, assessora da Secretaria de Agricultura da CONAFER no RS, seguram  a bandeira da Escola Estadual de Ensino Médio Francisco Canquerini, Zona Rural de Viamão, escola não indígenas, mas que possui um projeto de prática pedagógica de integração de saberes e atividades de integração com atividades poliesportivas para todos os alunos indígenas e não indígenas

O professor´de Porto Seguro, Francisco Costa, doutor em Linguística com pós-doutorado em Educação Intercultural falou da sua experiência no MEL, Mais Educação Livre, das oficinas, aprendizados, do estudo do material didático, e fez sua avaliação do que pode realmente fazer uma revolução no ensino indígena do Brasil: “a gente está falando de uma pluralidade enorme de debates, da participação de diversas etnias, todas falando sobre as suas possibilidades de produção de material didático. Isso foi riquíssimo, porque a gente está falando de materiais didáticos, de práticas no plural. 

Cada material didático pensando a sua etnia, a sua cosmovisão, a sua maneira de aprender e de ensinar. Então é incrivelmente importante e relevante a gente ter esses encontros, porque principalmente a participação desse tanto de etnia, a troca de experiências, a troca de saberes, a troca de valores, um contribuindo com a construção do material da outra etnia. Isso faz com que a etnia faça o seu material a partir da sua identidade, a partir da sua memória, a partir da sua maneira de ser e de aprender, mas que conhecendo como os outros estão fazendo, isso contribui e colabora. A gente percebeu que há experiências que já estão mais avançadas, no sentido de já ter material produzido, há experiências ainda em processo inicial, há experiências no processo que já há poucos, mas há materiais produzidos, mas certamente o que a gente percebeu é que uma etnia colaborou muito com o debate para outra etnia”, conclui Francisco Costa.

Veri Katukina, pesquisador indígena e graduado em Pedagogia com Ênfase na Interculturalidade, é também um dos palestrantes do MEL, Mais Educação Livre. Katukina deu a sua impressão do encontro: “o que eu pude perceber aqui é uma junção de várias etnias, o processo de interculturalidade dentro das escolas indígenas, o processo de aprendizagem dessas crianças. A gente tem professores aqui de várias regiões do país, de Norte a Sul do Brasil, com diversas realidades diferentes, tanto na parte de ensino quanto na parte de estrutura.” 

“O que a gente está propondo aqui hoje é a construção de um manual para trabalhar a interculturalidade dentro desses territórios, utilizando a parte de tecnologia também, palestrantes de várias regiões, professores e doutores envolvidos nessa discussão, e principalmente, ouvindo os professores, os mestres que estão nos territórios. E, a partir disso, propor algo que realmente faça a diferença dentro dos territórios e que leve um futuro para essas crianças.”

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