da Redação
Terror ocorreu na Aldeia Trevo do Parque, no território indígena de Barra Velha, do povo Pataxó, Sul na Bahia
Na tarde deste último domingo, dia 2, um grupo de 5 indígenas foi abordado em seu território por 3 homens fortemente armados, de forma totalmente inesperada e com ameaças de morte. Os indígenas Yuri, Marcos, Antônio, Marcelo e Manoel foram rendidos no momento em que retiravam madeira da mata dentro da propriedade indígena para produzir um galinheiro comunitário, trabalho que faz parte de um projeto de agricultura na Aldeia Trevo do Parque.
Eles relataram tudo em um documento manuscrito, detalhando a abordagem violenta e intimidatória, totalmente criminosa, e que não pode passar impune, como tantos outros casos de violência contra os povos tradicionais que ocorrem diariamente por todo o Brasil. Ao apontarem armas e mandarem os indígenas ficar sentados, dizendo que todos iriam morrer, sem explicação nenhuma, os criminosos colocaram a vida de todos em risco, o que revela a gravidade do fato.
Um homem com o nome de Jeferson, conhecido das cinco vítimas, chegou imediatamente após a abordagem truculenta, e mesmo sabendo quem eram, e que estavam em seu território, apenas se limitou a apontá-los aos criminosos confirmando ser quem eles procuravam, como faz um delator mal-intencionado.
Os indígenas Pataxó sentiram a morte de perto com armas apontadas para as suas cabeças, sendo humilhados em sua própria casa, em seu próprio território, apontados como ladrões por homens que em nenhum momento se identificaram. E ainda disseram que se algo acontecesse para o tal Jeferson, eles voltariam para matar todo mundo.
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Depois de relatar os fatos de grave ameaça e invasão de propriedade à FUNAI, Yuri, Marcos, Antônio, Marcelo e Manoel, esperam agora uma punição aos agressores por meio da justiça. A FUNAI informou que abriu processo para encaminhar denúncia à coordenação regional pedindo atuação da Polícia Federal.
Escalada de violência contra os indígenas é a maior da década
A violência contra os indígenas só tem aumentado no Brasil. De 2019 para 2020, ela cresceu 23%, um recorde. Este crescimento da violência contra os povos originários e comunidades tradicionais vem acelerando desde o início da década, com dois picos: 2017 com 64 registros, sendo 54 situações de ameaças, 5 de lesão corporal e 5 homicídios; e 2019, com 63 situações de violência relatadas ao MPF, sendo 54 de ameaças, 7 lesões corporais e 2 homicídios.
Em 2018, 2016 e 2014, houve, respectivamente, 47, 45 e 44 registros de atos violentos, enquanto os anos de 2011 e 2012 apresentam os números mais baixos, com 16 e 19 casos investigados, respectivamente. Estas informações abrangem a atuação do Ministério Público Federal em todo o país, de 2010 a 2019. O estado brasileiro que lidera o triste ranking da violência neste período é o Pará, com 55 registros. A Bahia, onde ocorreu o caso na Aldeia Trevo do Parque está em segundo lugar com 32 casos, mesmo número do Rio Grande do Sul.
Por todo o país, acumulam-se novas ações violentas a cada dia, na maior parte das vezes, mais de 60%, a questão é agrária, sendo que os crimes cometidos contra os indígenas ocorrem por meio de invasões e violência pela posse dos seus territórios. E que não podem ficar impunes, pois todos os povos originários e tradicionais têm a posse dos seus territórios e direitos de populações vulneráveis garantidos pela Constituição.
Capa: CONAFER