FONTE: Século Diário
Mulheres quilombolas promovem artesanato com fibra de bananeira para dinamizar economia da comunidade
O tronco era a última parte da bananeira que ainda não havia sido devidamente estudada pelas comunidades quilombolas da região de Santana, em Conceição da Barra, norte do Estado, como matéria-prima para a fabricação de produtos artesanais e geração de renda sustentável para as famílias.
Era. Com o projeto Mulheres de Fibras, a cadeia produtiva da bananeira estará completa, inserindo mais um componente de dinamização das comunidades, seguindo os princípios da Economia Criativa.
A aula inaugural acontece nesta segunda-feira (11), a partir das 8h30, no auditório do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Nego Rugério, na comunidade de Santana.
A oficina, gratuita, terá continuidade por cerca de quinze semanas, sendo uma aula por semana, e já conta com alunos vindos dos bairros do distrito de Santana, das comunidades quilombolas do Córrego da Angélica, Coxi, Roda d’ Água e Linharinho.
A primeira etapa da oficina vai ensinar a tirar a fibra do tronco, tratar com cloro e amaciante e armazenar. “A fibra quando é bem tirada e bem lavada e amaciada, dura até dez anos”, assegura Jurema Gonçalves, anfitriã do projeto, no CRAS Nego Rugério, e presidente da Associação Quilombola do Pequenos Produtores do Córrego da Angélica (AQPCA).
A segunda etapa abordará a preparação da fibra tratada para a feitura das peças artesanais, por meio de tranças, fios para tear ou crochê.
E, na terceira etapa, os alunos se dedicarão à produção do artesanato, incluindo bolsas, caixas de presente, capas de agenda e de bíblia, suporte de cerveja e, com a fibra cozida, também papel de parede e de capa de caderno.
Banana, farinha e mel
A iniciativa é mais um resultado do Projeto Bafamel [Banana, Farinha e Mel], iniciado em 2017. A partir dele, as comunidades passaram a plantar bananeiras para recuperação do leito do córrego da Angélica (cada produtor plantando dez pés de banana, completando dez metros quadrados), e a produzirem mel de abelhas nativas sem ferrão e aproveitar o fruto, tanto maduro (doces, rapaduras, banana passa, banana chips) quanto verde (farinha, biomassa, macarrão, capelete) da planta.
A produção de farinha também foi estimulada, pois a tradição mais importante da gastronomia quilombola não pode se perder. “A mãe de todo quilombola é a farinha”, poetiza Jurema.
Por enquanto, cada família produz sua própria farinha ralando a mandioca e torrando no fogão. O material para uma casa de farinha comunitária, no entanto, já foi comprado por meio do edital Mais Vida Menos Petróleo, da Campanha Nem Um Poço a Mais, empenhada por diversas organizações comunitárias e de comunidades tradicionais do país, com apoio da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase). A construção se dará em breve, em mutirão.
Toda essa farta produção é escoada para moradores de São Mateus e da Grande Vitória inscritos na Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA) pioneira do Espírito Santo, que agrega outras comunidades do Território Quilombola Tradicional do Sapê do Norte, entre São Mateus e Conceição da Barra.
Fôlego
O projeto Mulheres de Fibras foi contemplado pelo edital de Culturas Populares e Tradicionais Quilombolas e será realizado com recursos do Funcultura/Secretaria de Estado de Cultura (Secult). Entre os apoiadores, ao lado da AQPCA e da Fase, está o jornal Século Diário. “Século Diário é o nosso fôlego”, metaforiza Jurema.
“Quando a gente está quase perdendo tudo, Século dá as mãos e a gente consegue subir de novo na superfície. É onde a gente tem voz”, declarou, referindo-se à cobertura feita, historicamente, pelo jornal, à luta quilombola no Sapê do Norte pelo reconhecimento de seu território tradicional, usurpado há meio século pela Aracruz Celulose, hoje Fibria/Suzano

Compartilhe via: