da Redação
Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, em Minas Gerais, utilizaram uma técnica inovadora na cultura do milho doce para controlar uma das piores pragas dessa espécie: a mosca-da-espiga. Neste processo de controle ecológico, eles utilizaram armadilhas nas lavouras para atrair as fêmeas adultas do inseto, impedindo a sua reprodução; o milho doce tem excelente mercado no Brasil, e dos cerca de 36 mil hectares cultivados, praticamente 100% da produção é destinada ao processamento industrial para consumo humano, especialmente para fabricação de milho enlatado, com movimentação em torno de R$ 550 milhões por ano
O milho doce é uma variedade de milho com alto teor de açúcar, resultado de uma mutação recessiva que ocorre naturalmente nos genes que controlam a conversão de açúcar em amido dentro do endosperma do caroço de milho. Enquanto o milho verde normal tem em torno de 3% de açúcar e 60 a 70% de amido, o milho doce tem de 9 a 14% de açúcar e de 30 a 35% de amido.
Com alta demanda industrial, o milho doce pode ser comprado enlatado no mercado, usado muitas vezes com a ervilha no preparo de diferentes receitas, como acompanhamento em diferentes pratos, em um simples cachorro-quente, e no preparo de outros ingredientes, como pastas e patês. Por esta versatilidade é muito utilizado na culinária. Portanto, o milho doce tem bastante mercado, mas assim como toda cultura, controlar as pragas e doenças, torna-se sempre fator decisivo entre o lucro ou o prejuízo. E o controle biológico é aliado fundamental neste resultado final em que se deseja um produto lucrativo e 100% agroecológico.
Técnica de controle ecológico mostra bom resultado contra praga do milho doce
O método consiste em utilizar armadilhas McPhail nas lavouras para atrair as fêmeas adultas da mosca, impedindo a sua reprodução. Já é usado com sucesso no monitoramento da mosca-da-fruta. As pesquisas na Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, comprovaram que a tecnologia é uma alternativa viável de controle de pragas do milho, pois a cultura é muito suscetível aos insetos fitófagos (que se nutrem de matérias vegetais) em praticamente todas as fases de desenvolvimento, incluindo os grãos na espiga, um local de difícil acesso aos métodos tradicionais de controle no milho convencional.
Se não houver controle, em menos de uma semana, as larvas eclodem e imediatamente começam a se desenvolver, inicialmente nos estilo-estigmas. Depois, as larvas passam a se alimentar do grão em formação, permanecendo nesse local até a colheita da espiga. Os danos nos estilo-estigmas podem impedir a fertilização, provocando falhas e reduzindo o número de grãos. E os danos diretos nos grãos reduzem a produtividade e a qualidade dos produtos. Quando associados aos ocasionados por microrganismos fitopatogênicos, são as principais causas de depreciação do produto, especialmente para a agroindústria.
Nenhum método de controle de pragas, seja biológico ou químico, era eficaz no combate à mosca-da-espiga. Com esta tecnologia, temos a sustentabilidade como valor principal agregado à produção industrial. No caso do controle por pesticidas, o engenheiro-agrônomo e analista do setor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Sinval Lopes, afirma que “o problema da mosca-da espiga é agravado quando ocorrem várias tentativas de controlar a praga com inseticidas químicos. O alto número de pulverizações aumenta a concentração de resíduos químicos no produto final. E resíduos de pesticidas acima dos limites máximos permitidos por lei constituem uma barreira às exportações de alimentos processados”.
Armadilhas usam atraente alimentar para capturar os insetos
A pesquisa foi realizada em uma lavoura de milho doce, irrigada por pivô central, na Embrapa Milho e Sorgo. Foram utilizadas 12 armadilhas McPhail contendo como atraente alimentar uma proteína hidrolisada de milho. As armadilhas foram distribuídas em uma área aproximada de 8 mil metros quadrados cultivados com milho doce. As fêmeas são então atraídas em busca do alimento e não conseguem sair da emboscada.
Em estudo prévio, foi observada a existência de duas espécies de mosca, Euxesta eluta e Euxesta mazorca (esta citada pela primeira vez no Brasil), e ambas, especialmente as fêmeas, são atraídas para as armadilhas McPhail, bem antes da presença de estilo-estigmas no milho, o local preferido para a postura.
Experimento bem-sucedido: fêmeas na armadilha e poucos danos aos grãos
Na área do experimento com o uso da armadilha McPhail, o controle de pragas foi realizado também para as lagartas Spodoptera frugiperda e Helicoverpa. A presença delas na espiga pode atrair a mosca-da-espiga, mostrando relação de infestação entre diferentes pragas.
Todas as armadilhas receberam atrativos alimentares. Em seguida, foram realizados os tratamentos e as coletas necessários para análise. A cada 10 dias, todos os insetos capturados eram contados e separados por espécie e sexo. Apenas as moscas Euxesta eluta e Euxesta mazorca foram encontradas.
Segundo o engenheiro-agrônomo, a ocorrência de machos das duas espécies nas armadilhas foi insignificante em todas as épocas de avaliação, comparado com o número de fêmeas. Tal fato pode ser explicado pela necessidade de alimentação da fêmea antes da oviposição.
Diante dos bons resultados obtidos pela pesquisa, a armadilha McPhail, contendo atrativos alimentares, é uma alternativa viável para controlar a mosca-da-espiga. A inovação da pesquisa com o uso da armadilha McPhail mostrou eficácia no controle biológico de fêmeas adultas da Euxesta e, por isso, tem potencial para suprir a falta de métodos adequados para controlar os danos causados à cultura do milho doce.
Com informações do portal da Embrapa