FONTE: Medium

Uma denúncia de som alto e perturbação do sossego na madrugada da última sexta-feira, 7 de dezembro, desencadeou uma tragédia na Região da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Segundo informações da Rádio BandaB ( https://goo.gl/gCzaen), durante o atendimento à uma ocorrência na Vila Corbélia, que faz parte da CIC, um policial militar foi morto. Erick Norio teria sido alvejado por 2 disparos durante uma checagem. Seu parceiro checava uma placa na viatura e Erick desceu da viatura.

Ainda na madrugada da sexta-feira, a polícia começou uma operação no bairro para encontrar aqueles que teriam atirado no policial. A violência foi generalizada e o saldo da operação são moradores mortos a tiros e um incêndio que destruiu mais de 250 casas, deixando centenas de desabrigados.

Veja vídeo aqui

Durante a busca pelo autor do assassinato do policial, casas foram revistadas sem mandato judicial, moradores foram agredidos, tiros foram disparados e ao menos dois foram mortos. Além disso, são vários os relatos de ameaças que os militares teriam feito. Segundo um dos moradores “eles (policiais) queriam matar todo mundo aqui”.Os registros da violência que ocorreu ficam evidentes quando moradores correm para se esconder dos tiros neste vídeo.

“eles (policiais) queriam matar todo mundo aqui”

Uma mãe, que preferiu não se identificar por medo de represálias, relata que na sexta-feira pela manhã, o seu filho foi retirado da cama a bofetadas por policiais. O estudante não foi a aula por medo de sair de casa.

Ouça o áudio
Por recomendação da avó do menino agredido, ela não passou a noite em sua casa na ocupação. Segundo a mulher o que foi feito de dia pioraria a noite:

“Se fizeram isso comigo de dia, imagina o que farão durante a noite”

O tom de ameaça que a situação tomava assustou os moradores da Vila Corbélia. A testemunha afirma que durante toda a sexta-feira os policiais permaneceram entrando nas casas coagindo e agredindo os moradores. Gritavam “se não abrir a porta vai ser pior”.

Sede de vingança

Uma moradora de uma ocupação vizinha relata que os policiais afirmaram que “nem o capeta pararia eles”. As revistas e bloqueios tomaram uma proporção maior e, segundo moradores, seus celulares foram recolhidos pelos PM’s.

Ouça o áudio
Testemunho completo dado ao CWB Resiste, neste áudio
Após o anoitecer, uma página no Facebook “CICemAlerta24hr de Olho no Bairro”, que cobre notícias da região, fez post contando que recebeu vários pedidos de moradores que estavam com medo e fez um apelo à PM e as autoridades lembrando que muitas crianças e famílias moravam na ocupação. No dia seguinte, sábado (8), o vídeo foi apagado da página, após o incêndio repercutir nacionalmente. (https://www.facebook.com/pumacicalerta/videos/2128618093883868/)

O conteúdo havia sido compartilhado minutos antes do incêndio e da execução de um homem.

Aqui o vídeo recuperado na íntegra e repostado.

O Ápice da violência

Segundo várias testemunhas por volta da 22 horas os homens expulsaram moradores das proximidades do bar do Serginho. Muitos que relataram o ocorrido no dia 07 mencionaram o toque de recolher imposto pelos policiais. Ali no bar começaram a atirar para que as pessoas saíssem de perto. Neste momento teria começado o incêndio causado pelos policiais, segundo testemunhas. Eles teriam usado galões azuis para espalhar combustível.

Ouça o áudio completo

Versão resumida aqui:

Neste momento os moradores já haviam encontrado o corpo de Pablo, executado a tarde. Avistado pela última vez com os policiais.

Também mencionam uma família que teria sido executada próximo ao bar, mas os relatos de selvageria continuam.

Em entrevistas feitas no local moradores contam que um jovem foi conduzido pelos policiais para fora da ocupação e executado assim que o fogo começou. Ele teria filmado a ação dos PM’s. O corpo de Rafael foi encontrado minutos depois e também virou matéria para a Rádio Local. (https://goo.gl/p1bS42).

Rafael, testemunha ocular.

O corpo encontrado próximo ao horário do incêndio é de Rafael, afirmam os moradores indignados. Ele teria sido executado por PM´s. O jovem negro que morava a pouco tempo na comunidade, de acordo com o relato de uma mulher que não quis se identificar, filmou o momento em que policiais atearam fogo em uma casa. Segundo ela, o jovem foi perseguido e executado com um tiro na nuca.

Outro homem em vídeo, no vivo da página “CICemAlerta24hr de Olho no Bairro”, corrobora com toda a história dizendo que o jovem foi perseguido e assassinado por ter flagrado a ação dos policiais. No mesmo horário uma vítima de homicídio foi levada pelo IML, segundo matéria da BandaB.

Neste vídeo é possível ver que os moradores em vários momentos acusam os policias de homicídio, agressões e do incêndio.

Fogo e Violência

Vários relatos dão conta que o incêndio teria ocorrido próximo a uma moradia e que mais de uma pessoa teria sido executada pelo mesmo grupo de homens fardados e que usavam coletes a prova de bala “amarelos”. O mesmo usado pelos policiais do estado do Paraná.

Segundo apuramos, o relato foi feito ao GAECO (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), por um dos meninos que testemunhou a ação. No áudio é possível ouvir, no diálogo entre moradores e um policial civil, que foram dois corpos encontrados carbonizados.

Uma série de abusos

Uma criança relata que seu primo foi espancado e esfaqueado por policiais que supostamente procuravam pelo assassino do soldado Erick Norio durante a tarde do dia 7 de dezembro. O menino testemunhou e conta como foi a ação violenta:

Ouça aqui
Também no ao vivo da “CICemAlerta24hr de Olho no Bairro”, os moradores diziam que os policiais do 23° batalhão que estiveram à tarde agredindo e executando moradores teriam voltado no momento em que o incêndio começou. Os moradores também testemunham que um jovem que foi encontrado morto durante o dia. Identificado apenas como Pablo, ele foi levado pelos policiais uma hora antes de ser encontrado baleado em umas das casas que estava sendo reformada na avenida principal. A informação também é mencionada por moradores em depoimento a polícia civil.

Programados para matar

Nas redes sociais, policiais militares da cidade de Curitiba fazem comentários de que a morte de seu colega não seria deixada de lado.

O 23° batalhão publicou uma foto lamentando a morte do policial e durante a noite do fatídico dia 7 de Dezembro esteve no local.

Explicações

Segundo os jornais locais, um homem e seu advogado teriam se dirigido a duas delegacias para cooperar com a polícia para resolução do assassinato do policial. Em matéria da rádio popular (https://goo.gl/jDwMg3), delegado e advogado contam que o homem foi liberado.

Na versão da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, que deu coletiva no sábado, 8 de dezembro pela manhã, os homicídios e incêndio foram “queima de arquivo” do crime organizado. https://goo.gl/f2rPsW

Um dia que não pode ser esquecido.

A Comunidade sofreu danos materiais. Mas também sofreu com o terror provocado pela noite do dia 7 de dezembro e os reflexos em suas vidas.

Dia 7 de dezembro ficará marcado para as centenas de famílias da região. Assassinatos, agressões e vários direitos violados. O fogo não consumiu apenas casas, mas sonhos e vidas.

As ocupações ficam nas proximidades das Ruas Palmeiras e Estrada Velha do Barigui, perto da BR 376. Muitos dos vizinhos da ocupação são empresas, centros de distribuição e até uma empresa de tratamento de lixo. As quatro ocupações, Dona Cida, Tiradentes, Primavera e 29 de Março, têm mais de 800 famílias que buscam moradia há cerca de 4 anos e não contam com os serviços básicos de água, esgoto e energia elétrica.

Entenda os fatos

7/12, sexta-feira aproximadamente às 5 horas da manhã

  • Um policial do 23º Batalhão da Polícia Militar é morto com dois disparos, enquanto atendia uma ocorrência;

7/12, sexta-feira, pela manhã

  • Relatos de abuso de autoridade e agressões feitas por parte de policiais militares;

7/12, sexta-feira, à tarde

  • Relato de uma mulher que ouviu dos policiais que “nem o diabo pararia eles”;
  • Celulares de parte dos moradores são recolhidos;
  • Moradores afirmam que o jovem Pablo foi levado pelos policiais na frente de toda a comunidade e após uma hora foi encontrado morto;
  • Policiais militares da região em seus perfis em redes sociais comentários dizendo que a morte do colega seria vingada;

7/12, sexta-feira, à noite

  • Uma página no Facebook “CICemAlerta24hr de Olho no Bairro”, que cobre notícias da região, fez post contando que recebeu vários pedidos de moradores que estavam com medo e fez um apelo à PM e autoridades lembrando que muitas crianças e famílias moravam na ocupação. No dia seguinte, o vídeo foi apagado da página.
  • Minutos depois, a mesma página faz um ao vivo relatando o início do incêndio. Os moradores estavam revoltados contando que pessoas foram executadas.
  • Testemunhas relatam que além dos homens, uma família inteira foi executada a tiros.
  • Relatos de que Rafael filmou policiais ateando fogo e foi executado.

8/12, sábado, pela manhã

  • Relatos de famílias procurando por crianças
  • Moradores afirmam que corpos foram jogados dentro das fossas
  • Ainda haviam pessoas desaparecidas.
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