O Carnaval, uma das festas mais emblemáticas do Brasil, possui raízes profundas que remontam à Europa e à Grécia Antiga. Contrariando a ideia comum, sua origem não está apenas na celebração do hedonismo e da liberdade, mas também guarda vínculos históricos com a agricultura familiar e as práticas agrícolas, uma parte essencial da história e da identidade do Brasil

Historicamente, o Carnaval tem suas raízes em celebrações pagãs, trazidas para o Brasil pelos colonizadores portugueses. No entanto, seu vínculo com a agricultura familiar é menos conhecido, mas não menos significativo.

De acordo com estudos antropológicos e históricos, as festividades carnavalescas eram momentos de pausa nas atividades agrícolas, marcando o período entre a colheita e o início do plantio. Essa conexão com o ciclo agrícola não apenas permitia aos agricultores descansar após árduos trabalhos, mas também celebrar a abundância da colheita e invocar boas colheitas futuras. As brincadeiras com água, farinha e outros produtos lembram as práticas da terra e a abundância da natureza.

Em diferentes regiões do Brasil, o Carnaval assume características distintas, muitas vezes refletindo as tradições e a agricultura locais. No Nordeste, por exemplo, onde a agricultura familiar é uma força motriz da economia, os ritmos e as cores do Carnaval muitas vezes refletem a cultura agrária da região, com danças e músicas que homenageiam as raízes rurais.

Mesmo com as transformações sociais e culturais ao longo dos séculos, a ligação entre o Carnaval e a agricultura familiar permanece viva em muitas comunidades. Hoje, embora as celebrações carnavalescas tenham se tornado grandes eventos urbanos, a essência da festividade continua a ecoar os ritmos da vida rural.

“Essa celebração era realizada em homenagem ao deus Saturno e sempre foi caracterizada pelo relaxamento da ordem social e pelo clima de carnaval”, diz a historiadora Marguerite Johnson, da Universidade de Newcastle, na Austrália, em entrevista à BBC News Mundo

“Saturno era o deus do tempo, da agricultura e das coisas sobrenaturais. Como os dias encurtavam e de alguma forma a terra morria de forma simbólica, era necessário que o deus do tempo e da comida ficasse feliz”, explica a historiadora Marguerite Johnson.

O Carnaval é muito mais do que apenas uma festa; é um reflexo da rica tapeçaria cultural do Brasil, incluindo sua conexão com a terra e suas tradições agrícolas. Relembrar essa ligação com a agricultura familiar não apenas enriquece nossa compreensão da festividade, mas também nos incentiva a valorizar e preservar as raízes que sustentam nossa identidade cultural.

Neste Carnaval, prepare-se para celebrarmos com alegria e entusiasmo, reconhecendo e honrando as profundas raízes por trás dessa celebração: a festa da agricultura familiar.

Referências:

  • Da Matta, Roberto. “Carnavais, Malandros e Heróis: Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro.” Editora Rocco, 1997.
  • Silva, Leonardo Dantas. “Agricultura Familiar: um Olhar Sobre a Realidade Nordestina.” Editora UFBA, 2010.
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