Por Caio Felipe e Ingrid Mutinelli

Formação vegetacional ou fitofisionomia são ecossistemas que trazem uma identidade própria, como o próprio nome diz “fito” – vegetação, “fisionomia” – aspecto físico. Ou seja, quando olhamos uma paisagem natural, identificamos a presença ou ausência das árvores, assim como seu porte médio, quais espécies de plantas mais frequentes, qual o tipo do solo ou qual a disponibilidade de água. Todas essas características definem um conjunto de seres que compartilham o mesmo local e que estão adaptados aquela condição específica, a qual denominamos fitofisionomia. 

Os primeiros estudos contemporâneos sobre os tipos de vegetação do Cerrado brasileiro foram feitos por George Eiten, botânico e professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília, tendo realizado também a “Classificação da Vegetação do Brasil” pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentre as dezenas de tipos de vegetações, Eiten descreveu e classificou algumas que são restritas a certas regiões do bioma Cerrado.

O mais interessante é que apesar de ser uma savana, o Cerrado brasileiro abriga em seu coração também ricas pradarias e florestas tropicais, devido aos seu processo de coevolução com outros biomas e a sua própria identidade de diversidade de ambientes nata. Por muitas vezes, em apenas uma paisagem, é possível identificar mais de dez tipos de fitofisionomias diferentes, mas comumente passam despercebidas aos olhos do visitante. 

Como proposta, Ribeiro e Walter (1998) primeiro propuseram três grandes categorias denominadas “formações”: florestais, savânicas e campestres. Os principais fatores que auxiliam na definição de uma fitofisionomia são a estrutura da vegetação e a taxa de sombreamento. Para as formações florestais a percentagem de dossel é de 65%/70% – 85%/95%; para as savânicas, 65%/70% – 10%-5%; e para as campestres, <5%.

Dentro de cada uma formações gerais existem diversas fitofisionomias; da florestal, por exemplo, há quatro principais que são: Cerradão, Mata Seca, Mata de Galeria, Mata Ciliar. As fitofisionomias, por sua vez, podem ter subcategorias que as diferenciam; como no caso da Mata de Galeria, que pode ser Inundável ou Não-Inundável ou a Mata Seca que pode ser Decídua, Semi-Decídua ou Sempre-Verde.

Das formações savânicas, há quatro principais fitofisionomias: Cerrado, Vereda, Palmeiral, Parque de Cerrado (Campo de Murundus); com destaque para a fitofisionomia Cerrado, que se subdivide em Denso, Típico, Ralo e Rupestre. Já das formações campestres, há três principais fitofisionomias, que são: Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre. Todos eles podem ser úmidos sazonalmente ou não, além de poderem ter murundus em alguns casos. 

Ribeiro, J.F., & Walter, B.M.T. (1998). Fitofisionomias do bioma Cerrado.

Eiten, G. (1983). Classificação da vegetação do Brasil. 

ANEXO 

Este anexo trará imagens das fitofisionomias que ocorrem na RPPN Murundu, em Alto Paraíso de Goiás. Ao todo são oito fitofisionomias:  Campo Limpo, Campo Sujo, Cerrado Ralo, Cerrado Típico, Cerrado Rupestre, Campo de Murundus, Mata de Galeria e Mata Ciliar.  As fotografias foram retiradas na própria RPPN por Caio Felipe, Isabela Castro e Ingrid Mutinelli, durante o ano de 2020.

As figuras A, B e C representam o Campo de Murundus, onde é possível identificar pequenos montículos com vegetação de formação savânica envolto por depressões tomadas por Campo Limpo. Nota-se na figura C, que a vegetação dos murundus é menos densa, caracterizando um subtipo de Campo de Murundus pouco conhecido e discutido.

Nas figuras D, E e F identifica-se em primeiro plano a fitofisionomia de Campo Limpo, que pode ter dois subtipos: Úmido ou Seco, a depender das condições hidrogeomorfológicas. No caso da RPPN Murundu, ocorre os dois subtipos, sendo o Úmido mais comum e bem distribuído.

As figuras G e H representam o Cerrado Rupestre, onde é possível ver grandes afloramentos rochosos entremeados de árvores e arbustos que crescem entre fendas ou em pequenos recintos de solo, sendo o estrato herbáceo-subarbustivo pouco representativo. A figura H não apresenta vegetação tão bem caracterizada porque é a borda do Cerrado Rupestre com Campo Sujo, apresentando uma estrutura vegetacional mais rasteira.

Já as figuras I e J trazem a fitofisionomia mais comum do Cerrado Brasileiro e que caracteriza o bioma, o Cerrado Típico. Na RPPN, a fitofisionomia é menos abundante e ocorre em situações de enclave ou entre transições de fitofisionomias.

Os quadros K e L representam o Cerrado Ralo, que tem a presença de arbustos e árvores, só que em menor densidade do que o Típico. Na RPPN, essa fitofisionomia ocorre normalmente nas bordas de outras fitofisionomias, como o Cerrado Rupestre, assim como acompanhando veio de escoamento que chegam até o rio dos Couros.

Em relação ao Campo Sujo (M e N), pode-se encontrar também seus dois subtipos: Úmido e Seco. Ele normalmente ocorre também entre transições de fitofisionomias e confunde-se com o Cerrado Ralo em alguns momentos, sendo difícil determinar um limite exato. Também é possível encontrar Campo Sujo ocorrendo em afloramentos rochosos, o que é menos comum na área, o que pode ser verificado no canto direito inferior da figura N.

Por fim, as últimas figuras (O e P) representam a Mata de Galeria e a Mata Ciliar, ambas são diferentes em relação à cobertura vegetal. Contudo, elas alternam-se durante o percurso do rio dos Couros que passa pela RPPN. Isso deve-se pelo fato da grande variação de solo encontrado na área do rio, variando desde solos pedregosos/arenosos que abrigam a Mata Ciliar onde o dossel não se encontra; assim como solos hidromórficos mais profundos que sustentam Mata de Galeria. Mesmo assim, a Mata de Galeria é mais comum e abundante, ocorrendo mais na porção jusante do rio.

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