Por Caio Felipe e Ingrid Mutinelli

O Cerrado é uma savana tropical situada, majoritariamente, na área central do Brasil e que interliga diversos outros biomas do país, sendo o segundo maior da América do Sul. Caracteriza-se como uma savana tropical por dois principais motivos: o primeiro porque apresenta duas estações climáticas bem demarcadas, pluviosidade sazonal no verão e estiagem no inverno; e o segundo porque é predominado por vegetações savânicas, ou seja, há a coexistência dos estratos herbáceo-subarbustivo e arbustivo-arbóreo.  

Além disso, sua extensa distribuição em cerca de treze (13) estados brasileiros permite uma imensa variedade de formas vegetacionais que estão associadas, principalmente, a fatores de clima, solo e pluviosidade, além de topografia e altimetria, assim como sua grande variação em área geográfica. É considerada a savana mais biodiversa do mundo e um ponto de hotspot de biodiversidade, que são áreas com altas taxas de endemismo e que estão sob forte ameaça de extinção devido, principalmente, ao desmatamento. Sua vegetação compõe-se em um mosaico de diversas formações vegetais, desde campos rupestres ou úmidos até matas de galeria ou ciliares. Dessa forma, a combinação da sazonalidade climática, característica nutricional dos solos e regime do fogo determinam as características da vegetação do Cerrado.

O bioma tem como características gerais: árvores tortuosas e de casca espessa; solos profundos, antigos e com poucos nutrientes; e uma vasta riqueza de ervas e subarbustos. Os solos sob o Cerrado apresentam características químicas e físicas muito particulares, como a sua elevada acidez, que se deve em boa parte pelos altos níveis de alumínio presentes nestes solos.

O excesso de alumínio e a alta acidez do solo diminuem a disponibilidade de nutrientes às plantas, tornando-o tóxico para plantas não adaptadas. A baixa fertilidade e a elevada toxicidade do solo são associadas ao nanismo e a tortuosidade da vegetação. Exemplo de plantas adaptadas aos solos do Cerrado, é a gomeira (Vochysia thyrsoidea Pohl), árvore que consegue armazenar alumínio em suas folhas. 

Outro tema importante quando se trata de Cerrado é a sua coevolução com o fogo. As queimadas naturais acontecem na época chuvosa, em geral iniciadas por raios e, apagadas pela própria chuva. Enquanto que as queimadas artificiais acontecem principalmente na estação mais seca do ano e geram impactos negativos na ecologia do Cerrado. Entretanto, o equilíbrio de um regime natural de fogo é essencial para a manutenção de paisagens abertas e da alta biodiversidade. Sem o fogo, o Cerrado não seria como conhecemos hoje!

Uma forte característica do bioma é que as raízes de suas árvores são longas e profundas, sendo conhecidas como “floresta invertida”. Essas raízes crescem em busca de água. Atuam como uma esponja gigante absorvendo e estocando essa água para disponibilização gradativa durante todo o ano – uma estratégia para os tempos de seca. Essa característica também contribui para o papel essencial do bioma na mitigação dos impactos das mudanças climáticas que é praticamente ignorado, pois possui um estoque de carbono que totaliza cerca de 13,7 bilhões de toneladas, das quais 2/3 estão no solo e em suas raízes.​

No Cerrado encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul, que contribuem no abastecimento dos rios: Amazonas-Tocantins/Araguaia, São Francisco e Paraná. Esse fato resulta em um elevado potencial aquífero que favorece a biodiversidade terrestre e aquática do bioma.​

Atualmente, somente cerca de 3% do Cerrado está integralmente protegido perante o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Além disso, já em 2002, 55% da sua cobertura vegetal já tinha sido suprimida. As maiores ameaças do Cerrado são a perda de áreas nativas que são convertidas em monoculturas e pastagens pelo agronegócio extensivo de grandes proprietários, além da expansão urbana. 

Além de sua relevância ecossistêmica, o Cerrado também resguarda grande patrimônio histórico e cultural do Brasil.​ Em várias regiões, existem pessoas que compartilham o conhecimento tradicional sobre o uso da biodiversidade e que dependem de seus recursos naturais para sobreviver e gerar renda. Essas populações tradicionais e povos originários desenvolveram um conhecimento especializado sobre a o uso dos recursos naturais, o clima e os ritmos da natureza e, de uma maneira geral, promovem a conservação do bioma e a valorização da sua biodiversidade. Por isso, são hoje apontados como os guardiões da biodiversidade e das águas do Cerrado.

O extrativismo vegetal sustentável é uma atividade estratégica para a conservação do bioma que garante a geração de renda para as comunidades locais, contribuindo para a melhoria do padrão de vida e a permanência das populações tradicionais no Cerrado.

Por isso, é fundamental articular e fortalecer cooperativas e entidades de base, trabalhando na organização das cadeias dos produtos da sociobiodiversidade, para dar escala e promover processos produtivos estruturados e sustentáveis desde a base produtiva até o mercado consumidor, garantindo a distribuição justa de recursos. Em paralelo, promover políticas públicas e mecanismos financeiros que impulsionam e fortaleçam a produção e a comercialização destes produtos manejados de forma sustentável por povos e comunidades tradicionais do Cerrado.​

Salve o Cerrado! Faça a sua parte!

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