Por Caio Felipe

Fonte: De Olho nos Corais (facebook.com)

Você já ouviu falar que tal espécie de planta, animal ou outro ser vivo é endêmica? Endemismo nada mais é do que um termo que designa que aquele ser ou objeto é restrito a certo espaço e tempo. Por exemplo, quando alguém diz que o mico-leão-dourado é endêmico da Mata Atlântica, isso quer dizer que em todo o planeta Terra, o único lugar de ocorrência dele é nesse bioma.

Espécies de mico-leões e suas distribuições originais na Mata Atlântica. Fonte: Dissertação de Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais, UENF, Andréia Magro Moraes, 2011

O endemismo pode se referir a diversos espaços, uma espécie pode ser endêmica de uma ilha, ou continente, ou bioma, ou estado, ou município e assim por diante. Mas o que há de tão especial nas espécies endêmicas? Elas são pistas de um passado antigo e revelam a história de desenvolvimento da biodiversidade daquele local, desvendando os caminhos e a diversidade de ambientes, situações e paleoclimas que definiram a nossa história hoje. 

Fonte: De Olho nos Corais (facebook.com)

Como país mais biodiverso do mundo – cerca de 30% de toda a vida do planeta se encontra no Brasil -, nosso território também traz consigo uma longa história evolutiva. O subcontinente sulamericano ficou isolado dos outros continentes por cerca de 100 milhões de anos, o que permitiu uma diferenciação e adaptação das espécies para habitar um local único e singular na Terra. 

Representação dos principais grupos de mamíferos da megafauna brasileira comuns na época do Pleistoceno (1,8 Ma a 11.500 anos atrás)

Isso permitiu a enorme diversificação de vida que temos hoje em nosso continente, abrigando alguns grupos animais únicos da América do Sul que depois se expandiram para o mundo após a conexão da placa América do Sul com a da América do Norte. Tatus, tamanduás, preguiças e outros animais eram espécies restritas à América do Sul, assim como os cangurus, coalas, ornitorrincos e outros são da Austrália, um continente irmão da América do Sul que passou e está ainda hoje isolado de outras massas de terra. 

O Grande Intercâmbio Americano aconteceu há cerca de 3 a 5 milhões de anos atrás, permitindo que animais típicos e únicos da América do Sul migrassem e conquistassem a América do Norte e vice-versa

Em relação aos casos de endemismo na flora, segundo a plataforma online Flora do Brasil 2020, o país abriga 20.305 espécies da Flora que são únicas do nosso território. São 2.632 espécies endêmicas na Amazônia, 2.733 na Caatinga, 7.455 no Cerrado, 10.582 na Mata Atlântica, 413 no Pampa e 165 no Pantanal. 

Fonte: Flora do Brasil 2020, 2023

Um dos biomas de maior destaque em flora endêmica é o Cerrado, devido a sua ampla distribuição em todo o Brasil sob diversos climas, solos, precipitações e demais condições ambientais. O Cerrado é a savana tropical com maior biodiversidade do mundo, abrigando 5% de toda a vida do nosso planeta e sendo considerado um dos biomas mais ameaçados mundialmente. Ele é responsável por 40% de toda a vazão de água dos rios do Brasil. Além disso, estima-se que cerca de 35% de sua flora seja única desse bioma, apontando algumas regiões com destacada distinção e riqueza em flora endêmica, como a Serra do Espinhaço e a Chapada dos Veadeiros. 

E como a agricultura familiar pode contribuir na conservação de espécies tão notáveis? Garantindo boas práticas de produção, respeitando a legislação ambiental e sempre alternando por sistema de produção mais sustentáveis. Além disso, é possível contratar uma pessoa para fazer o levantamento da riqueza de plantas da propriedade, contribuindo para a ciência brasileira e para o pleno conhecimento de sua propriedade. Garantir a sobrevivência das espécies endêmicas é garantir recursos florais para abelhas e demais seres vivos, é garantir um fármaco do futuro ou, até mesmo, ser uma ferramenta para o monitoramento das mudanças climáticas por meio das espécies endêmicas, que são sensíveis e melhores bioindicadores locais.

Serra das Cobras, Instituto Biorregional do Cerrado, Alto Paraíso de Goiás – GO, Chapada dos Veadeiros. Foto: Caio Felipe, 2018

Espécies endêmicas da Chapada dos Veadeiros e do Cerrado que ocorrem na RPPN Murundu, Instituto Biorregional do Cerrado, Alto Paraíso de Goiás, Brasil. A – Diplusodon adpressipilus Lourteig; B – Mosaico de vegetações campestres e savânicas no Santuário Volta da Serra, Alto Paraíso de Goiás; C – Diplusodon heringeri Lourteig; D – Eriocaulon obtusum Ruhland. Autor: Caio Felipe, 2019 e 2020

Espécies endêmicas da Chapada dos Veadeiros que ocorrem na RPPN Murundu, Instituto Biorregional do Cerrado, Alto Paraíso de Goiás, Brasil. E – Eriosema irwinii Grear.; F – Paepalanthus niger (Moldenke) Trovó; G – Paepalanthus cassiae Trovó; H – Xyris paradisiaca Wand.. Autor: Caio Felipe, 2020 e 2021

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