Por João Barros

O dia 11 de setembro é dedicado ao Cerrado, a savana tropical mais biodiversa do mundo. Mas, infelizmente, não temos muito o que comemorar. O segundo maior bioma do Brasil, raramente recebe a atenção que merece. Neste momento, os seus 2 milhões de km² que ocupam os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí, além de porções do Amapá, Amazonas, Roraima, São Paulo e do Paraná, estão cobertos de fumaça com mais de 2 mil focos de incêndio, ou seja, 37,8% do total de focos no Brasil. Por isso, precisamos falar sobre o fogo que devasta o Cerrado e entender o que está em jogo

O Cerrado é o segundo bioma em tamanho dos cinco existentes no Brasil, cobrindo cerca de 25% do território nacional. É considerado a savana com maior biodiversidade do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas, das quais cerca de 4.400 são endêmicas. No entanto, o Cerrado é o segundo bioma mais ameaçado do Brasil. De 1985 a 2020, o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, o que equivale a uma área maior que a do Piauí.

Segundo o Programa Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Cerrado é atualmente o bioma mais afetado pelos incêndios no Brasil, com quase 2.500 focos de calor ativos. O cenário é ainda mais alarmante quando consideramos que a maior parte desses incêndios é provocada pela ação humana. Em todo o território nacional, mais de 5.132 focos foram registrados somente em uma manhã. Estados como Mato Grosso, Pará, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul lideram o ranking, e os dados confirmam que o problema é sistêmico e atinge todas as regiões do país.

A complexa relação entre o fogo e o Cerrado

O Cerrado é um bioma naturalmente adaptado ao fogo. Suas plantas possuem adaptações únicas, como cascas espessas, raízes profundas e sementes que germinam após serem expostas ao calor. Historicamente, o fogo natural, provocado por raios, é um agente de renovação ecológica, auxiliando no controle de espécies invasoras e na liberação de nutrientes no solo. No entanto, a frequência e intensidade dos incêndios criminosos ou acidentais que enfrentamos hoje vão muito além do que o Cerrado pode suportar.

Os incêndios de origem criminosa, intensificados pelo desmatamento e pela expansão da fronteira agrícola, são devastadores para a flora e fauna locais. A vegetação nativa é destruída antes de ter a chance de se regenerar, e os animais perdem seus habitats e fontes de alimento. Esses incêndios também afetam diretamente as populações humanas, prejudicando a saúde com a poluição do ar e ameaçando comunidades rurais e urbanas.

O impacto climático e a importância da ação

A situação é agravada por condições climáticas extremas. Setembro, historicamente o mês com mais queimadas no Brasil, já acumulou 32 mil focos, mais do que o dobro da média registrada no ano passado. A combinação de altas temperaturas, que ultrapassam os 30ºC, e a baixa umidade cria um cenário perfeito para a propagação do fogo. As consequências são sentidas até além das nossas fronteiras: a fumaça das queimadas já chegou a países vizinhos, como Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru e Argentina.

É fundamental entender que esses incêndios não são eventos isolados ou acidentes inevitáveis. Eles refletem um modelo de desenvolvimento insustentável que desconsidera a complexidade ecológica do Cerrado e a urgência da crise climática global. Para mudar esse cenário, precisamos de políticas públicas efetivas, fiscalização rigorosa, e, sobretudo, de uma educação ambiental que envolva a sociedade como um todo.

Educação Ambiental 

Educar é transformar. Precisamos investir em campanhas de conscientização que alcancem desde as salas de aula até as comunidades mais remotas, promovendo o entendimento de que o fogo não é apenas um inimigo do Cerrado, mas também um elemento natural que, quando manejado com sabedoria, contribui para a saúde do bioma. Devemos capacitar brigadas comunitárias para o combate e a prevenção de incêndios, incentivar práticas agroecológicas que reduzam a necessidade de queimadas, e fomentar o respeito e a valorização dos conhecimentos tradicionais de manejo do fogo.

Cerrado em chamas: o que podemos fazer?

Enquanto sociedade, temos a responsabilidade de exigir ações concretas de nossos governantes para enfrentar essa crise ambiental. Podemos apoiar organizações que atuam na defesa do Cerrado, pressionar por maior fiscalização contra queimadas ilegais e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, cada um de nós pode contribuir adotando práticas mais conscientes em nosso cotidiano, como evitar fogueiras em áreas de risco e denunciar atividades suspeitas.

No Dia do Cerrado, o convite é para que todos nós nos reconectemos com este bioma tão vital e único. Que possamos aprender com sua resiliência, mas também entender seus limites. O Cerrado precisa de nós, e nós precisamos do Cerrado. 

Em caso de queimadas, denuncie 193.

Referência:

  1. Mais de 5 mil focos de incêndio estão ativos no Brasil, diz Inpe. UOL, 10 de setembro de 2024.
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