CULTIVO DE ABELHAS NATIVAS COMO FERRAMENTA CONTRA CRISE CLIMÁTICA AMBIENTAL
Por Caio Felipe, João Barros e Ingrid Mutinelli
As abelhas nativas desempenham um papel vital nos ecossistemas, oferecendo serviços ambientais fundamentais, principalmente na polinização, um serviço essencial para a produção de alimentos. No Brasil, onde a agricultura familiar tem grande relevância, a preservação desses polinizadores torna-se crucial para garantir a produtividade e a diversidade dos cultivos.
Diferentemente da apicultura, que envolve a criação da Apis mellifera, uma espécie exótica do Brasil, a meliponicultura concentra-se na criação de abelhas nativas sem ferrão. Essas espécies são agentes polinizadores fundamentais para várias plantas, sendo responsáveis por manter a biodiversidade e contribuir diretamente para a produção alimentar, como no caso do açaí, onde 95% da polinização é realizada por essas abelhas, além de muitas outras espécies, como: maracujás, castanha-do-Brasil, baunilhas, cupuaçu, goiaba, acerola, caju, cacau, entre muitas outras.
A. Foto da abelha Apis mellifera em flor de Asteraceae, espécie exótica do Brasil hibridizada comumente cultivada. B. Apicultor fazendo o manejo das colônias de Apis mellifera
No Brasil, estima-se que existam cerca de 3.000 espécies de abelhas nativas, das quais aproximadamente 375 são abelhas sem ferrão, conhecidas como meliponíneos. Contudo, o declínio dessas populações é preocupante e as principais causas incluem a exploração predatória das florestas, o desmatamento e o uso excessivo de pesticidas.
A relação das abelhas nativas com a agricultura familiar é direta e crucial. A preservação desses polinizadores beneficia diretamente os pequenos produtores, garantindo maior produtividade e diversificação das colheitas, assim como uma renda extra para a produção. Sua atuação na polinização dos cultivos é essencial para a manutenção da segurança alimentar e da sustentabilidade agrícola.
A. Meliponicultura com caixas adequadas para o cultivo das abelhas nativas sem ferrão. B, C. Fotos da abelha meliponínea nativa conhecida popularmente como jataí, Tetragonisca angustula (Latreille, 1811). D. Esquema de representação como exemplo de organização de colmeia de algumas espécies de abelhas nativas do Brasil sem ferrão
Nesse contexto, o programa +Melipona Brasil, uma iniciativa da CONAFER e do Instituto Terra e Trabalho (ITT), é um programa inovador que visa promover a meliponicultura sustentável. Iniciando suas atividades em todas as regiões do país, esse programa não apenas visa à preservação das abelhas nativas, mas também fortalece a produção sustentável de mel e seus derivados, assim como fornece uma ferramenta como combate às mudanças climáticas.
Ao capacitar meliponicultores, promover pesquisas e desenvolvimento tecnológico em parceria com instituições acadêmicas e difundir essas práticas, o +Melipona Brasil busca fortalecer a atividade em diversos municípios, beneficiando os agricultores familiares e contribuindo para a conservação das abelhas nativas e do meio ambiente.
É importante destacar que o mel das abelhas sem ferrão é um produto excepcional, não só por seu sabor singular, mas também por suas propriedades medicinais e terapêuticas. Sua valorização no mercado pode representar uma oportunidade significativa para os pequenos produtores, gerando renda e promovendo a valorização da biodiversidade.
Portanto, é essencial apoiar iniciativas como o +Melipona Brasil, não apenas para preservar as abelhas nativas, mas também para fortalecer a agricultura familiar, garantindo a segurança alimentar e promovendo a valorização dos recursos naturais em nossa sociedade.