No último dia 17 de outubro, aconteceu a oficina “Construindo narrativa, acervo e exposição”, na Terra Indígena Coroa Vermelha, localizada ao sul da Bahia. A TI foi homologada em 10 de julho de 1998, e compreende uma área de 1,5 mil hectares nos municípios de Santa Cruz de Cabrália e Porto Seguro. Um território que guarda uma ancestralidade tão rica tem muito para mostrar da história dos povos originários. O objetivo da oficina foi trabalhar de forma participativa com a comunidade indígena Pataxó para constituir um acervo e a proposta de exposição deste resgate ancestral no Museu Indígena Pataxó de Coroa Vermelha. O encontro contou com a presença de representantes da CONAFER, do ITT, professores da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), lideranças indígenas, jovens e anciãos da comunidade de Coroa Vermelha

Durante o encontro foi discutido e definido o que a exposição do museu pretende comunicar, sempre priorizando a defesa do diálogo com o público visitante. Foram debatidos quais temas são essenciais para contar a história indígena Pataxó, não só de Coroa Vermelha, mas também dos processos de ocupação e reocupação dessa população ao longo de toda a Costa do Descobrimento. A presença dos caciques reforçou a importância do museu retratar também a memória das lideranças que foram de suma importância para a demarcação territorial e para o movimento de resistência Pataxó nesta região. Além desta homenagem, é fundamental às novas gerações se reconhecerem como parcela desta luta que permanece viva no território. 

A praia de Coroa Vermelha fica entre Porto Seguro e Cabrália, lugar  histórico em nossa história, o ponto de chegada dos colonizadores europeus

Antônio Manoel da Silva, Técnico de Agricultura e Pecuária do ITT, afirmou que é “fundamental alterar a narrativa do Museu sobre a falácia do descobrimento, e trazer a narrativa real Pataxó sobre a colonização portuguesa destes povos originários. Mas não apenas isso, precisamos resgatar as formas tradicionais de viver e que constituem sua identidade para pensar como apresentar estas características dentro da exposição. Buscamos lembrar quais os artesanatos eram mais presentes em outros tempos como chocalhos, casquete (cocar), massaca (colar de sementes), armadilhas de caça e pesca, além de levantar quais artesãs e artesãos ainda possuem estes conhecimentos vivos para que se possa reproduzir as peças para a exposição”. 

À direita (camisa azul) o Técnico de Agricultura e Pecuária do ITT, Antônio Manoel da Silva, fala sobre os objetivos da oficina durante o encontro

Ellen Krohn, Assessora da Secretaria de Agroecologia, Políticas Agrárias e Meio Ambiente da CONAFER, a Seagro, definiu a oficina como “um momento do direito de resposta dos Pataxó. Muitos dos discursos produzidos sobre os indígenas, desde o período colonial, ainda hoje são reproduzidos por instituições de ensino, por setores da mídia comercial e aceitos como verdadeiros por uma parte da sociedade não indígena”. 

À direita (blusa verde), Ellen Krohn, Assessora da Secretaria de Agroecologia, Políticas Agrárias e Meio Ambiente da CONAFER, expõe as ações de resgate da cultura e ancestralidade dos povos originários de Coroa Vermelha

A oficina ainda definiu os materiais e estruturas necessárias que darão a programação e a identidade visual do museu, permitindo que se conheçam “os pataxós na visão dos pataxós”, como por exemplo, utilizar as cores vermelho, amarelo e preto para dar o tom das cores de suas pinturas tradicionais feitas de urucum, barro e carvão. Essa oficina dá continuidade ao projeto de extensão universitária iniciado pela UFSB que organizou o Regimento Interno do Museu e que ainda precisa ser aprovado pela comunidade. O Museu está sendo reformado por meio de recursos Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR do estado da Bahia, para em breve receber uma nova exposição.

A importância educacional também foi colocada entendendo que este espaço pode se tornar instrumento para se trabalhar com a temática indígena junto às escolas do ensino público e privado. A ideia é responder à carência da comunidade escolar de conhecimentos a respeito da história e da realidade contemporânea dos povos indígenas no Brasil. É o que diz a  Lei 11.645/2008, que determina a inclusão das temáticas indígenas nos currículos escolares, desafiando os professores a levarem esse assunto aos seus alunos.

“Existe a necessidade de uma reflexão crítica nessa leitura para que se possa romper com o ciclo de violência e opressão que vivem esses povos. É preciso avançar, por meio do diálogo, na erradicação de preconceitos e no estabelecimento de uma sociedade mais harmoniosa entre as diferentes matrizes culturais que compõem nossa nação. Agir para aproximar e educar para uma atitude inclusiva, crítica e responsável a respeito da diversidade cultural indígena no Brasil contemporâneo”, finalizou a representante da CONAFER, Ellen Krohn.

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