Por Fernanda Rettore
A estiagem prolongada que atinge o Amazonas está causando efeitos perturbadores. A seca severa foi a nona pior da história e a pior em 121 anos. O fato pode ser evidenciado pelo Rio Negro, parte crucial da maior bacia hidrográfica do mundo, que atingiu a cota de 14,90 metros — a menor desde o início das medições em 1902. A situação já afeta mais de 630 mil pessoas e das 62 cidades do estado, todas estão em situação de emergência.
A crise ambiental na região possui razões diversas, mas é principalmente influenciada por fenômenos climáticos atípicos, como o El Niño extremo, responsável por recordes históricos de temperaturas em 2023. Mas a situação também é agravada por atividades prejudiciais que contribuem para um quadro mais amplo de degradação, como o garimpo, o desbarrancamento de rios, a construção de hidrelétricas e uso indiscriminado do fogo em práticas agrícolas e pecuárias.
Entretanto, a questão que inicialmente pode parecer apenas um problema climático, se desenrola em uma emergência social. A água transcende sua natureza básica como elemento essencial à vida e se torna um símbolo de vulnerabilidade. Os eventos comprometem, além da segurança da biodiversidade, a saúde humana e a estabilidade social.
O desafio de coletar água em igarapés, exacerbado pela ausência de sistemas de saneamento básico, impacta instantemente na saúde da comunidade, em especial das crianças e dos idosos. Além disso, a seca dos igarapés tem gerado desequilíbrios significativos na cadeia produtiva do pescado, afetando diretamente os povos indígenas e ribeirinhos que dependem dessas atividades para subsistência e geração de renda. A diminuição na reprodução de peixes compromete a economia local e acende o alerta para a insegurança alimentar.
Esses eventos têm transformado drasticamente a rotina dos trabalhadores, sobretudo aqueles que dependem do Porto de Manaus — que enfrenta desafios inéditos. A distância entre as embarcações e a via de acesso ao porto aumentou mais de 600 metros, dificultando o transporte de insumos e passageiros. E o problema se estende até a navegação nos rios, que lida com sérios obstáculos devido ao nível reduzido da água, o que torna as viagens mais demoradas e caras. Os agricultores e pescadores da região relatam as dificuldades em trazer diariamente peixes, verduras e frutas para a capital. Essa capacidade de transporte reduzida, não reflete apenas a renda dos produtores, mas também prejudica as atividades feirantes da Manaus Moderna.
A logística complexa para o fornecimento de suprimentos essenciais destaca a necessidade de uma abordagem generalizada para as dimensões sociais, econômicas e ambientais desse cenário. O isolamento das comunidades, a falta de assistência médica, os desequilíbrios ambientais e a diminuição das atividades comerciais são sintomas interligados de uma crise que exige tanto ações de políticas públicas imediatas, como a implementação de medidas preventivas das causas subjacentes, para assim garantir a sustentabilidade futura da região.
Fontes:
https://www.brasildefato.com.br/2023/10/08/como-a-ciencia-explica-a-seca-historica-na-amazonia