Por Fernanda Rettore

Desde os ensaios inocentes do “Dia do Meio Ambiente” em nossas escolas, em que acreditávamos que tudo ficaria bem, até as recentes e alarmantes notícias sobre os limites planetários ultrapassados, a humanidade enfrenta um assustador eco de destruição: a Natureza pede ajuda, mas nós a negligenciamos. 

Os nove limites planetários, cruciais para a sustentabilidade da vida na Terra e propostos por cientistas em 2009, encontram-se agora, de acordo com um estudo da Universidade de Copenhague, em um estado de alerta. Seis desses limites já foram ultrapassados, e as consequências tornam-se inegáveis.

Manaus, encoberta pela fumaça de queimadas há quatro meses, enfrenta níveis críticos de poluição do ar; o Rio de Janeiro registra um recorde histórico de sensação térmica de 59,7 graus Celsius; ciclones extratropicais devastam o Rio Grande do Sul. No exterior, enchentes na Líbia causam 11,3 mil mortes; o maior supertufão em 70 anos atinge a China; a Islândia enfrenta 800 terremotos em um dia; o gelo marinho atinge baixas históricas, e o aquecimento global pode trazer de volta vírus zumbis congelados há quase 50 mil anos.

Notícias sobre mudanças climáticas e catástrofes ambientais são impactantes, mas o que é mais surpreendente é a apatia da sociedade diante desses eventos. Vemos padrões meteorológicos extraordinariamente extremos, mas a humanidade, por desinteresse ou negação, encara os problemas ambientais como fictícios, cenas de um “O Dia Depois de Amanhã” em que o amanhã nunca chega. Sabemos que estamos caminhando para nossa própria morte, mas acreditamos mesmo nisso? 

Todos nós conhecemos alguém que morreu, mas, ainda assim, aceitar o nosso próprio fim parece ser muito difícil. Enquanto isso, vivemos como sonâmbulos imortais, andamos em círculos, praticando uma cultura que não nos contempla, fazendo o que achamos que precisamos fazer. 

Se reconhecêssemos a extinção humana como um destino inevitável, diante dos alertas da natureza, mudaríamos nossos comportamentos. Abandonaríamos nossos meios de transporte movidos a combustíveis fósseis, reformularíamos a produção de alimentos e a construção de cidades. Reconheceríamos, finalmente, que quase todas as nossas ações nesse padrão de sociedade resultam em liberação de carbono.

Os budistas têm uma boa estratégia para se relacionarem com a morte. No começo de cada dia, perguntam: “É hoje que vou morrer? Estou preparado? Estou fazendo tudo o que preciso fazer? Estou sendo a pessoa que quero ser?”. Ao aplicar essa reflexão ao nosso relacionamento com o planeta, podemos questionar o inverso, com o objetivo de manter a vida: “É hoje que a humanidade muda seu destino ambiental? Estamos preparados para fazer tudo o que é necessário? Estamos sendo as pessoas que desejaríamos que os outros fossem?”

Neste eco apocalíptico, é urgente despertar da apatia e adotar ações transformadoras. Quando nos confrontarmos com nossa própria mortalidade, aprenderemos a viver. Da mesma forma, encarar as ameaças ambientais pode nos permitir focar no essencial, descartar o supérfluo e, finalmente, agir para reverter o curso sombrio que estamos trilhando.

Fontes: 

    • ALBOM, Mitch. A última grande lição, o sentido da vida. Tradução de José J. Veiga. 5. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 1998. 84-85 p.

    • https://mercyforanimals.org.br/blog/6-dos-9-limites-planetarios-ja-foram-ultrapassados-segundo-estudo-publicado-pelo-centro-de-resiliencia-de-estocolmo/

    • https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/11/21/em-mais-uma-semana-de-fumaca-manaus-registra-pessimos-niveis-de-poluicao-do-ar.ghtml

    • https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sensacao-termica-no-rio-chega-a-597oc-e-bate-recorde-historico/

    • https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/novo-ciclone-extratropical-se-forma-na-costa-do-rs-na-noite-desta-quarta-13/

    • https://exame.com/mundo/enchente-na-libia-veja-perguntas-e-respostas-sobre-a-tragedia-que-matou-113-mil-pessoas/

    • https://exame.com/mundo/supertufao-saola-ameaca-sul-da-china-e-pode-ser-a-maior-tempestade-em-70-anos/

    • https://www.estadao.com.br/internacional/islandia-vulcao-terremotos-atividade-vulcanica-nprei/

    • https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/04/derretimento-de-geleiras-bate-recorde-alerta-onu.shtml

    • https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/gelo-marinho-da-antartica-atinge-baixa-historica-no-inverno-26092023

    • https://noticias.r7.com/jr-na-tv/videos/aquecimento-global-pode-provocar-reaparecimento-de-virus-zumbi-congelados-ha-quase-50-mil-anos-26102023

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